Hoje, após tantos anos, finalmente posso ver a luz solar iluminar meu caminho. Achei que esse dia nunca chegara, mas concluo que estava enganada.
Ando pelas ruas da cidade como se fosse a primeira vez. A brisa fria bate delicadamente sobre meu rosto, afastando meus cabelos loiros da minha visão.
O ar daqui é tão diferente de lá. É leve.
Encho meus pulmões e, ao soltar o a, sinto-me aliviada.
As pessoas andam apressadas, quase se trombando. Algumas fazem isso e nem sequer pedem desculpas no final. Mesmo após anos, vejo que os habitantes dessa cidade continuam como sempre foram. Chatos e mal educados.
Eu os odeio. Odeio ter me mudado para cá. Odeio o fato de que essa cidade arruinou a minha vida para sempre. Minha vida está manchada e nada, nem ninguém mudará isso.
Aquele dia sempre faz questão de voltar a minha mente e me lembrar o pesadelo que vivi.
Todos me apontaram, inclusive eles, meus próprios pais. Como podem existir pais que se neguem a acreditarem na inocência dos filhos? Será que eles me conheciam tão pouco?
Eu jamais seria capaz de cometer tamanha atrocidade! Eu sou inocente e vou provar para todos.
Em todos esses anos, ouvi que isso era perda de tempo. Que mesmo sendo inocente, o que adianta provar isso? Nada traria esses anos perdidos de volta.
Não. Realmente não trarão. Mas preciso esfregar na cara de cada um deles que se recusaram a acreditar que eu era inocente. E junto da verdade, darei a eles uma dose do veneno que me fizeram beber anos atrás. Isso é uma promessa....
Cansada de andar sem rumo pelas ruas, paro e me sento em um banco qualquer. Agora que estou livre, não tenho para onde ir. Antes tinha uma casa e uma família, mas hoje não tenho mais nada disso.
Preciso me reerguer sozinha de alguma forma, e a minha fonte de energia vem do ódio. É ele quem me impulsiona. Preciso continuar.
Já está entardecendo, há cada vez menos movimentação. Poucas pessoas caminham por aí. Mas as que passam, me lançam olhares profundos, como se soubessem todos os meus pecados e meu passado. O que será que se passa na mente de cada uma delas? Bom, é melhor nem querer saber.
Há poucos metros de mim, vejo um homem andando de mãos dadas com uma menininha. Pobre criança, Será que ela sabe o quão cruel é esse mundo a fora? Pelo visto não. Ela sorri enquanto conversa com o cara. Ele é bem alto, ruivo e tem algumas sardas. Já a menina, ela é mais loira do que ruiva. Aparenta ter seus 6 anos e carrega um semblante totalmente diferente das pessoas daqui. Ou melhor, os dois carregam. Provavelmente eles não são daqui, não podem ser.
O homem solta sua pequena mãozinha para comprar um algodão doce do vendedor ambulante. A menina se distrai com um gatinho na calçada, que foge correndo de medo quando ela se aproxima. A menina corre atrás dele, diretamente para a rua.
Não sei bem o que aconteceu, mas algo em mim falou mais alto. Na verdade, sei bem o que aconteceu. A garota me lembra ela. Seu sorriso e inocência fazem o rosto dela se materializarem em minha frente.
Antes que uma tragédia acontecessem, corro em sua direção, puxando-a para mim. A garota estava a poucos segundos de ser bruscamente atropelada.
Ela me olha sem entender nada, seu coraçãozinho quase salta pela boca.- Para onde foi o gatinho? - Sua voz soa tão baixo que mal posso ouvi-lá.
- Provavelmente ele foi dar uma voltinha.
Dou uma última olhada nela, quando o homem vem correndo em minha direção. Ele parece zangado e preocupado ao mesmo tempo.
Espero que ele não fale nada, pois vai me ouvir. Acabo de salvar a vida da garota, minhas intenções foram as melhores.- Judy! Eu disse para ficar perto de mim. - Ele toma a garota nos braços e a aperta contra seu peito.
- Eu só queria ver o gatinho. - Ela responde em defesa.
- Isso não muda o fato de ter desobedecido minhas ordens.
Espera. Ele está mesmo brigando com uma criança? Não posso acreditar nisso.
Me aproximo dele e coço a garganta. O homem coloca seus olhares me mim e abre um sorriso de lado.
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Lâmina de retaliação
Mystery / Thriller"Após uma década de reclusão, Elowem emerge do abismo da prisão com um único objetivo incandescente: vingança. Consumida pelo ódio e pela dor da injustiça, ela jurou retalhar aqueles que lhe roubaram tudo. Nada vai detê-la em sua cruzada, nem mesmo...