Capítulo 2

2 0 0
                                    

Deixei-me levar pelas memórias que nem ao menos percebi quando adormeci. É até melhor assim, gosto do fato dos dias se passarem rapidamente.
Não posso dizer que tive uma boa noite de sono, mas posso dizer que é bem mais seguro dormir em um banco de parque, do que em uma cela cheia de mulheres que podem te matar a qualquer momento. Por mais que não tenha motivos para querer continuar vivendo, ainda tenho assuntos pendentes com pessoas específicas antes de morrer.
Me forço a ficar de pé e, sigo caminho. Aposto que devem estar se perguntando para onde eu vou? Está aí uma pergunta que eu queria poder responder, mas não posso. Afinal, nem ao mesmo eu sei para onde devo ir. Estou completamente perdida e parada no tempo.
Não tenho familiares, amigos, namorado ou ao menos um emprego para me sustentar. E aposto que também não será fácil para arrumar um.
Ninguém costuma dar emprego para uma ex presidiária, ainda mais quando ela foi condenada há 10 anos de prisão por homicídio.

Não aparenta ser mais do que 08:00 da manhã. Não há muitas pessoas pelo parque também. Há tanto silêncio que é possível ouvir os pássaros cantando alegremente em seus ninhos, enquanto alimentam seus filhotes.
Até eles possuem famílias e pequenas versões de si mesmos para amar. Ter uma família é uma dádiva divina, a qual as entidades resolveram me tomar.
Que fiquem com ela, não me importa. Não mais.
Para que uma família a essa altura da minha vida? Isso só atrapalharia meus planos! E quem aceitaria formar uma família com Elowem? A garota que não tem nada, nem sequer um teto ou a possibilidade de lhe oferecer o mínimo de carinho possível?
Esse negócio onde príncipes se casam com as donzelas pobres e esfarrapadas e, as tiram do sofrimento para viver uma vida bela e colorida, não passa de meros contos de fadas. Isso é fantasia! História para criança dormir. Aposto que nem mesmo as crianças acreditam nessas baboseiras.
A vida é muito mais complexa que isso.

Não tenho rumo, porém, sou guiada até um lugar, o qual posso reconhecer instantemente. Quantas lembranças esse ambiente me trás.
O cheiro da grama molhada refresca minhas narinas. A terra fofa faz com que meus pés afundem delicadamente sobre ela.
É possível ver algumas mariposas sobrevoando a estrada deserta.
Um lugar com essas descrições deveria ser o paraíso, certo? Aparentemente, não é isso o que ele me trás. A última coisa que sinto aqui é paz.
Por mais que você tenha tido milhões de memórias boas de algo ou alguém, sempre a lembrança trágica vai te derrubar.
É exatamente assim que me sinto.
Deslizo meus dedos sobre extensão da cerca de madeira. Antigamente, minha mão ficaria cheia de pequenas farpas, mas agora não, sem nenhum arranhão. O que significa que foi muito bem conservada.
E não é só isso, lembro-me como esse lugar caia aos pedaços. A grama está no tom certo de verde, coberta por várias flores lilás e brancas.
De onde eles tiraram tanto dinheiro?
Faz 10 anos, aposto que alguém comprou essa porcaria. Alguém com dinheiro o suficiente para secar meu pranto com notas de cem.
Estreito meus olhos para observar o máximo que posso da casa.
Só não contava com a presença de um cara. O caseiro.
Ele pigarreia e me olha até que eu dissesse alguma coisa. Mas ao contrário disso, me calo.

- Está procurando alguém?

- Não. - Penso melhor. - Na verdade, estou sim.

Ele me olha confuso.

- Sabe me dizer se o Sr e a Sra Blandon se encontram? - O homem me olha como se fosse a primeira vez que ouviu esse sobrenome. Já imaginava, afinal, eles nunca conseguiram dinheiro para reformar essa casa. Desde que me entendo por gente, tínhamos problemas com dinheiro. O aluguel dessa casa já atrasou diversas vezes.

- Faz muito tempo que não os vejo. Desde que me contrataram como caseiro, eles não deram mais as caras por essas bandas. - Ele se escora na cerca.

Não é possível, deve haver algum engano! Então quer dizer que eles ainda moravam aqui depois daquilo? E pior ainda, eles compraram essa propriedade?
Quero questionar, mas esse panaca não precisa saber nada sobre a minha vida ou sobre as minhas dúvidas cruéis.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 01 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Lâmina de retaliação Onde histórias criam vida. Descubra agora