“Enquanto o mundo inteiro está dormindo
Você se encontra acordado e pensa sobre aquela garota.”In the Wee Small Hours of the Morning – Frank Sinatra
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HUALING
— Kiyo, o que essa gorila tá fazendo com a minha camiseta!?
Antes mesmo de abrir os olhos, uma voz estridente de garoto na puberdade fez com que eu despertasse de um sono muito necessitado depois da madrugada inquieta que tive noite passada.
— Eu não sei de nada, ela quem pegou. — Seu quarto estava levemente iluminado pelos raios do sol matinal que atravessavam as pequenas frestas na cortina.
— Qual foi, Hualing, 'cê tá achando que é quem? — O moreno interrogou, me cutucando com seu pé, sentado na beira do beliche inferior.
— Fui eu quem te dei ela, pivete. Abaixa sua bolinha aí. — Mal havia acordado e já estava sendo obrigada a me defender dos ataques vindo do garoto. Sem demora, arremessei em sua direção uma meia suja qualquer que estava jogada sobre o tapete a sabe sei lá quantos dias.
— Deu nada, larga de ser trambiqueira. — Rebate. O rapaz levanta a mão para arremessar a meia de volta quando pela primeira vez no dia, para pra reparar em meu rosto. — Cacete... Quem foi dessa vez?
— Sua mãe, aquela gatinha.
E a tal da meia encardida me acerta com tudo. Era fácil irritá-lo, e às vezes ele me dava de bandeja a oportunidade.
— Continua com essas gracinhas que na próxima eu te jogo um tênis.
Não pude conter as risadas. Aiden sabia muito bem como eu levava a vida, me ver naquele estado não era novidade alguma para o mais novo.
— Mas serião agora, Ling. O que rolou? — Questionou, se juntando à mim no tapete. O rapaz geralmente evitava se mostrar preocupado com os outros, mas no momento, sua expressão de comparecimento dizia o contrário.
— Eu também quero saber por qual motivo fui acordado de madrugada para abrir a janela para você. — Dessa vez Kiyo, que até então permanecia quieto, se pronuncia, nos observando do segundo andar do beliche, sentado de pernas cruzadas e com a cabeça apoiada em sua mão.
O ruivo era sempre calado na dele, mas não podia ouvir uma fofoca sendo contada ao seu lado, que no mesmo instante, tratava de se atentar ao que se passava. Era impressionante como o garoto sempre sabia o que estava acontecendo na vida dos que estão à sua volta.
— Então… — Iniciei. — Noite passada dei uma saída pra andar em um desses bairros de Alphacity e grafitar com Russel e Denis…
— Já começou errando aí — O mais novo interrompe.
— Ela só vai parar quando levar um tiro da milícia, Kiyo. — Dessa vez, Aiden.
— Você que pensa, já tenho dois na conta. — Levantando a camiseta, era possível reparar na cicatriz da bala localizada mais acima na costela. A outra, fez sua história no ombro direito. Por sorte, as duas eram de borracha.
— E você acha isso bonito? — Perguntou o ruivo num tom de deboche.
— Ouve a história, Kiyo! — Exclamei, fazendo o garoto revirar os olhos. — Enfim… Estava tudo tranquilo, mas daí aqueles porcos saíram do nada para infernizar minha vida. Eles começam a correr atrás de mim e meio que não consegui escapar a tempo. E então deu no que vocês estão vendo aqui. — Digo a última parte apontando para meu próprio rosto. — Resumidamente é isso.
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A Lebre
RomanceUm romance que se passa num distópico futuro pós-guerra, onde Katherine Krasotkin, uma assassina profissional que usa uma máscara de coelho para esconder sua real identidade, ex-soldado, envolvida com tráfico e lavagem de dinheiro e Qin Hualing, uma...