0.0 - She is dead, we have a serial killer.

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As janelas, paredes e vidraças. Ela odiava tanto estar em um lugar fechado e mesmo assim aceitava ir com a mãe para uma igreja como aquela. Era realmente necessário já que era o funeral de sua irmã mais velha. Claro que ninguém naquele lugar estava gostando daquele clima denso e sombrio que a própria cidade começou a emanar de um tempo para cá, era como se o próprio sol estivesse desanimado em se mostrar com frequência e tivesse criado um combinado com a chuva. Apenas neblina, garoa, tempestade. Nada de sol. À mais de um ano.
A última vez que tudo foi feliz e alegre a Camila se recordava muito bem e conseguia descrever como se fosse ontem. Estava tomando banho de piscina com as crianças da vizinhança enquanto os pais preparavam os hambúrgueres na grelha ao ar livre, jogavam água para todos os lados e corriam destrambelhados pela beira da piscina, Annalice voltou para casa na intenção de buscar sua bóia cor de rosa e acabou por encontrar a irmã morta no carpete da sala. A menina de cabelos castanhos saiu tão desesperada de casa que acabou tropeçando várias vezes no gramado da própria casa, gritou pela mãe em plenos pulmões até sua voz ficar rouca e todos os vizinhos colocarem a cabeça para fora da janela. A irmã dela tinha se suicidado pelo motivo mais absurdo que já lhe chegou aos ouvidos. Se suicidou por amor. Camila prometeu que mesmo que amasse muito algum garoto, jamais aceitaria morrer por ele. Jamais.
Seis anos depois sua irmã acabou por falecer em um acidente de carro, e agora estava sendo velada. Camila tinha ainda seus doze anos de idade. De forma com que se sentisse confortável ela vestiu as roupas de Melissa e sentou no primeiro banco, olhos focados no caixão da irmã e transbordando lágrimas. Não foi fácil dizer adeus para a adolescente que lhe levava até a escola e fazia seus lanches quando a mãe não estava em casa.

"Estamos hoje reunidos para darmos nosso último adeus a Melissa McAvoy, filha de nosso chefe de polícia Carter e de Iolanda" o homem de batina começou a falar em alto e bom som "Ela era uma boa garota..."

"Camila vá limpar o rosto, volte rápido"

Sem pestanejar ela deslizou os pés para o chão e andou em passos curtos para o corredor da igreja, entrando em uma porta pela direita. Amigas de Melissa se encontravam na porta do banheiro feminino, passavam a mão no nariz e fungavam o tempo inteiro, os lábios queimados de tosses secas; Camila tinha medo delas. Já na porta do banheiro masculino estava um menino de sua idade com cabelos bagunçados, seus fios jogados para todos os lados e olhos castanhos tornados para baixo até ver os sapatos vermelhos da garota.

"Camila? Não chore"

"Eu não gosto de chorar, mas é a saudade dela"

"Ela está em um lugar melhor"

"Mas eu queria ela aqui. Comigo"

"Você fica feia quando chora"

Camila o ignorou. Ele era bem mais velho, se ela aceitasse uma briga com ele com certeza sairia perdendo e bem feio, por isso só entrou no banheiro e lavou o rosto, arrumou a vestido largo e voltou para o lado da mãe.

"Diga adeus a sua irmã Cams, ela não vai poder te responder, mas vai poder te ouvir"

[...]

" Pai?"

"Uh?"

"Estou indo no cinema com a Ann"

"Ela é lésbica?"

"Não"

"Pode ir"

Ele não olhou nem ao menos o rosto de sua filha. Desde que a outra filha faleceu e ele não pôde nem ao menos comparecer ao sepultamento ele se tornou totalmente físico. Seu corpo estava ali, sua alma havia se esvaido do corpo para toda e qualquer criatura que tentasse algum tipo de contato. Com as mãos no bolso do blusão de moletom a ruiva saiu do ponto de vista dele, atravessou a porta e logo depois o jardim, entrou no carro da amiga e em silêncio permaneceu até o carro virar a esquina, Annie a olhou de canto de olho e enrrugou os lábios de forma triste.

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2015 ⏰

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Insomnia - [J.B Fanfiction]Onde histórias criam vida. Descubra agora