Capítulo 1:O Começo do Fim

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Narrador on

As manhãs em Florianópolis costumavam ser um refúgio de tranquilidade para Júlia Bergmann. Ela se sentava no deque da casa de praia que compartilhava com sua esposa, Julia Kudiess, observando as ondas quebrarem suavemente na areia. O aroma do café fresco preenchia o ar, trazendo uma falsa sensação de normalidade. Mas naquela manhã, a serenidade do cenário não conseguia apaziguar o turbilhão em seu interior.

Dez anos de casamento, pensou Bergmann, enquanto girava a aliança no dedo. A mesma aliança que agora parecia mais pesada, quase sufocante. A distância entre ela e Kudiess havia crescido silenciosamente, como uma maré que recua pouco a pouco, deixando para trás um vazio inexplicável.

Kudiess apareceu na cozinha, o som de seus passos ecoando pela casa. Ela também sentia o peso dos anos, embora de uma forma diferente. O trabalho na empresa de design que as duas haviam fundado exigia cada vez mais de seu tempo e energia, deixando pouco espaço para os momentos de intimidade que outrora definiam seu relacionamento. Seus olhos se encontraram brevemente, uma troca de olhares repleta de palavras não ditas.

- Bom dia - murmurou Kudiess, quebrando o silêncio incômodo.

- Bom dia - respondeu Bergmann, com um sorriso forçado. Ela se levantou para servir o café, mas suas mãos trêmulas denunciaram a ansiedade que tentava esconder.

Elas se sentaram à mesa, o ruído das colheres mexendo nas xícaras sendo a única interação entre elas. Bergmann sentia um nó na garganta, uma urgência de falar, mas as palavras lhe faltavam. Como dizer à pessoa que você ama que seu tempo está se esgotando?

- Precisamos conversar - Bergmann finalmente disse, a voz mais firme do que esperava.

Kudiess ergueu os olhos, surpresa com a seriedade no tom de sua esposa. - Sobre o quê?

Bergmann respirou fundo, preparando-se para a revelação que mudaria tudo. - Fui ao médico ontem. Meus exames... eles... - Ela parou, tentando controlar a emoção. - Eu tenho uma doença terminal, Julia. Tenho apenas três meses de vida.

O mundo pareceu parar naquele instante. Kudiess ficou imóvel, o choque e a incredulidade estampados em seu rosto. - O quê? Como assim? - As palavras saíram em um sussurro, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Eu sei que é muito para processar - disse Bergmann, sua própria voz trêmula. - Eu também estou tentando entender. Mas temos que enfrentar isso juntas. Não temos muito tempo.

Kudiess ficou em silêncio por alguns momentos, digerindo a notícia devastadora. Finalmente, ela se levantou e foi até Bergmann, abraçando-a com força. As duas choraram juntas, suas lágrimas misturando-se em um ato de reconexão que há muito tempo não experimentavam.

A dor e o medo eram palpáveis, mas também havia uma determinação silenciosa entre elas. Decidiram ali, naquele momento, que aproveitariam cada segundo que restava. Era uma corrida contra o tempo, uma jornada de redescoberta e reconciliação.

Nos dias que se seguiram, Bergmann e Kudiess começaram a revisitar os lugares e memórias que moldaram sua história. Caminharam pelas praias onde se conheceram, revisitaram restaurantes onde tiveram seus primeiros encontros e passaram noites relembrando histórias de amor e conquistas.

A doença, embora implacável, trouxe uma clareza que elas não tinham há anos. Perceberam que, mesmo diante da morte, ainda havia espaço para o perdão e a reconciliação. Redescobriram o amor e a conexão perdida, provando que, às vezes, é preciso confrontar o fim para encontrar um novo começo.

Continua...

Notas da autora:

Essa fic terá capítulos bem mais curtinhos, quero que seja apenas uma fanfic curtinha só para vocês não ficarem muito tempo sem fic e me esquecerem akkakakka e também por que me pediram muitoooo uma fanfic delas

Até que a morte nos unaOnde histórias criam vida. Descubra agora