Amor e Perversão - Conto

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Eu repúdio aquela garota, no entanto, desde que a vi pela primeira vez, a minha estatura foi possuída por uma excitação que estou a um período prolongado esforçando para me livrar. Porém, malogro. Sempre que penso nela, padeço juntamento com Romeu: " Melhor será perder a vida no seu ódio, que prorrogar a morte à espera do teu beijo". Esse rendez-vous amoroso será uma trilha sem retorno. É como se estivéssemos mais próximos da cova. Se descobrirem é capaz de gravarem uma lança em meu peito, a exemplo de São Sebastião, mas em meu lugar, não perecerei de heroísmo, e sim por fraqueza.
Cheguei em uma rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal.
Aproximo-me perto de um luzeiro com fraca luminosidade, encosto em sua estaca e verifico às horas. É meia-noite. Neste instante, os sinos da Capelinha de Santo Antônio tilintaram. Esse era o sinal que precisava, e o meu coração de amoreira foi tomado por chamas puras e virginais. Subitamente, sinti um par de braços enlaçarem meu abdômen, fazendo eu sair do meu êxtase. Era ela, em seu vestido retrô e chapéu contorno.
- Boa noite. - ela disse.
- Boa noite. - respondi.
Trazendo-a cautelosamente a minha frente, fitei os seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Trago o seu queixo até meu lábios e começamos um ósculo.
De repente, um anjo nefasto vindo das profundezas do abismo, inflamou meu coração com um sentimento lascivo. "Como seria tocá-la?", pensei. O ósculo que antes transmitia afeto, se converteu em perversão. Ao notar o que cogitava em executar, a garota se soltou de meu braços, completamente aflita, mas sem perder a serenidade.
- Sinto muito, mas não posso... - disse.
Sabia porque ela não podia. Ela era um ser celestial e eu, um ser corrompido até os ossos. Um anjo como ela não merecia ir ao abismo comigo.
- Preciso ir, boa noite. - disse finalmente após um ínterim de silêncio.
Antes que pudesse dar uma resposta, ela já andava pela rua. Notava em suas curvas que nunca iria tocar, pois existe uma película de castidade a protegendo. Sento no meio-fio, refletindo. "Como eu a odeio", penso. Não por ela ter praticado algum mal, mas por ela ser uma santa, e como gostaria que ela já estivesse canonizada...

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