Capítulo 2

715 55 107
                                    



Colin ficou por alguns segundos encarando a porta fechada, tentando decifrar o que se passava com seu estômago agitado e a sensação de vazio que sentiu ao vê-la dar as costas para ele. Havia em seu corpo, reverberando como uma chama flamejante, uma inexplicável vontade de estar perto dela, como se o mundo apenas fizesse sentido em sua presença. Era estranho, pois nem se lembrava quando sorriu pela última vez com alegria genuína ou quando não teve vontade de dar as costas e ir embora depois de cinco minutos de conversa. No entanto, ali estava, parado como um idiota, ainda tentando decidir se valeria a pena convencê-la a deixá-lo entrar para que pudessem continuar a conversar pelo resto da noite.

Ou da vida...

O mero pensamento o fez engolir em seco e cambalear alguns passos para trás, balançando a cabeça negativamente. Respirando fundo, o ar gelado do outono inglês preencheu seus pulmões, queimando-o por dentro, assim como aquela chama.

Ele vestiu o casaco que estava com ela e saiu andando sem rumo pelos terrenos de Aubrey Hall, acompanhado pelo aroma de macadâmia recém-torrada, que envolvia seus sentidos em uma mistura reconfortante de doçura e calor. Colin não pôde evitar sorrir ao perceber que não apenas o perfume dela, mas também o sorriso doce e tímido, assim como o calor de sua pele, já estavam gravados em sua memória.

Anne era diferente. Não tinha o menor traço de semelhança com qualquer pessoa que já tivesse estado de alguma forma em sua vida, principalmente a última. 

O último mês tinha sido complicado para ele. Não era sua intenção voltar para casa durante as festas de final de ano desta vez, mas a viagem para Viena não trouxera o retorno esperado; pelo contrário, sua falta de atenção, desleixo e preguiça de fazer o mínimo - como sempre fizera nos últimos anos - poderiam lhe custar caro. Colin precisava de um tempo em um campo neutro para ficar longe do radar e voltar a si mesmo. A casa dos pais, contudo, não era a melhor opção para a ocasião, mas algo o atraiu para aquele lugar.

Anne... talvez o universo estivesse querendo dizer algo.

Sentindo algo vibrar no bolso de seu casaco, ele percebeu que o celular dela tinha ficado com ele, e era a mãe dela ligando novamente. Ele recusou a chamada e começou o caminho de volta aos alojamentos para devolvê-lo, mas tocou novamente e, num impulso, ele atendeu.

"Estamos ocupados. Pare de ligar," disse ele, desligando a chamada em seguida.

Essa mulher deve ser o diabo mesmo, pensou, lembrando-se da expressão de tristeza e do vazio no olhar daquela garota; além da vontade imensa que teve de abraçá-la tão forte, até que se fundissem em um só. Era uma loucura pensar que, horas atrás, ele estava em um estado de raiva e frustração tão grande que exalava por seus poros, mas desde o momento que colocou os olhos nela, é como se uma lufada de ar fresco o tivesse atingido. Em pouco tempo de conversa, Annie, e o instinto de protegê-la, o fizera repensar tudo sobre sua vida, suas escolhas e seu futuro. Que merda está acontecendo comigo?

Exausto, ele decidiu entregar o celular dela no dia seguinte e voltou para casa, jogando-se na cama sem sequer se dar ao trabalho de tomar banho ou trocar de roupas.

Horas após um sono pesado, repleto de sonhos com a loira daqueles olhos azuis límpidos, como os de um lobo cheio de vida, mas assustado ao mesmo tempo, ele despertou com o cheiro dela impregnado em suas narinas. Por um instante, Colin pensou que a tinha em seus braços. Um sentimento de calmaria o envolveu, perdurando até mesmo depois de perceber que era apenas uma mera fantasia. Nos seus braços, estava apenas o casaco, que ele não se lembrava de ter tirado durante a noite.

Relutantemente, ele se levantou, despertando de verdade ao notar no relógio que já passava das 9. Tinha dormido demais. Colin saiu apressado para o banheiro e, trinta minutos depois, já com o banho tomado, desceu para o café da manhã com um plano fervilhando em sua mente.

Eclipse | PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora