Capítulo 7

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1 semana depois

Às 8 da manhã, Colin se viu dentro do carro, enfrentando o terrível tráfego do centro de Londres. Ele acabara de deixar Anne na empresa e agora estava a caminho da escola com Felicity ao seu lado. Mesmo com a coluna em frangalhos, o sono acumulado e com seu pau dolorido de saudade dela, ele estava feliz pela primeira vez em muito tempo. Era como se finalmente tivesse encontrado um propósito na vida, uma justificativa para sorrir genuinamente sem a necessidade de álcool, drogas ou remédios.

De repente, Colin havia se transformado naquele cara que amava passar a noite assistindo a filmes de romance. Ele tolerava dormir em um sofá pequeno e desconfortável, acordava cedo para preparar o café da manhã e ainda enfrentava duas horas no trânsito, tudo isso porque não queria ficar longe de Anne. Em seu peito, urgia uma necessidade incontrolável de agradá-la, de fazer tudo por ela, e isso incluia cuidar de Felicity.

O mais correto a se dizer é que Anne se tornou uma obsessão para Colin. Seu mundo girava em torno dela 24 horas por dia, 7 dias por semana, e ainda assim não parecia ser o suficiente. Ele estava disposto a tudo para vê-la com aquele sorriso doce e os olhos redondos e abertos, brilhando com intensidade, e isso já era o suficiente para dar-lhe um novo sentido à vida, algo que ele jamais havia experimentado antes.

"Você parece cansado," comentou Felicity ao notar Colin bocejando, lutando para manter os olhos abertos.

Ainda meio atordoado pelo sono aderido a cada célula de seu corpo, ele murmurou, confuso: "O que?"

"Você não tem casa?" Ele finalmente olhou para ela, confuso. "Tem uma semana que você está dormindo no sofá lá de casa... Uma cama não seria mais confortável?"

Seria, ele pensou, aproveitando o semáforo fechado para buscar nas feições da garota algum sinal de incômodo com a presença dele. "Sua irmã é superprotetora, ela não te deixaria sozinha, mesmo que fosse por uma cama bem grande, e eu não iria dormir em uma sem ela," respondeu um pouco hesitante, enquanto uma ideia maluca invadia seus pensamentos.

"Eu bem sei disso..." murmurou Felicity, torcendo os dedos um no outro. "Sabe, eu poderia convencê-la a sair por uma noite pelo menos. Garanto que sou capaz de ficar bem sozinha," declarou a última parte erguendo o queixo, como só uma garota de 15 anos poderia fazer.

"Não precisa se preocupar, nós estamos bem dormindo no sofá." Sua coluna dolorida discordava, no entanto. "Eu também não sei se ficaria confortável em te deixar sozinha," acrescentou, lembrando-se do quanto Anne ficava nervosa, ansiosa e levemente paranóica quando Felicity não respondia suas mensagens na hora ou se atrasava para o almoço.

"Isso foi fofo, Colin. Por acaso você está querendo ganhar o papel principal e ser meu pai?"

Apesar da voz alegre e da expressão divertida que ele viu de relance na garota, seu corpo ficou tenso e, por um momento, ele acelerou demais o carro, quase batendo no veículo da frente, enquanto murmurava, quase em desespero: "O que? Não... eu... não..."

Talvez sim, ponderou ele internamente, enquanto as imagens de Anne com um bebê nos braços invadiam sua mente novamente, como uma avalanche, até ser tirado de seu breve devaneio com um soco leve no braço e uma risada alta da garota ao seu lado.

"Fica calmo, Colin. Eu só estava brincando. Não precisa nos matar."

"Aparentemente você herdou o humor ácido da sua mãe."

"Isso com certeza aconteceu," respondeu ela, sentindo o coração aquecer com aquela simples comparação feita com tanto carinho e até mesmo um toque de reverência.

Penélope era, para todos os efeitos, sua irmã e guardiã legal, deixando o título de mãe para ser usado em tom de brincadeira ou em situações muito específicas, até mesmo diminuindo sua importância ocasionalmente. Contudo, nada deixava Felicity mais feliz do que ser lembrada da semelhança que tinha com aquela que a criou como sua filha e sem o tom de deboche que geralmente era usado por Portia ou suas outras irmãs.

Eclipse | PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora