Minha melhor memória é de quando estou de férias na casa de minha tia-avó, sentado no chão da varanda observando minha irmã rir enquanto o pequeno shih tzu corre atrás dela. Lembro que titia a chamava de Pérola, por causa dos colares que ganhou de seu falecido marido, um soldado honrado que morreu na guerra. Tenho apenas seis anos na época, Haerin, três.
"- Fofo a cachorrinha, Sun. - é o que Haerin diz pra mim, quando se senta ao meu lado. Seu cabelo castanho é uma bagunça, a respiração, também; sorrio para ela, a deixando perto de mim.
- Um dia vamos ter um, o que acha? - respondi alegre, pensando em que nome daria a ele. Haerin assente, deitando a cabeça no meu colo."
Esboço um sorriso contido, recordando de quando o dia ocorreu, e fomos tomar sorvete em seguida. Morango para mim, chocolate para Haerin.
Hoje, dez anos após o tal dia em questão, entendo um pouco melhor as coisas. Sobre como Pérola era a única alegria de minha tia-avó, de como, quando o animal faleceu, dias depois, a mais velha também fez a passagem; de como nossa família herdou a casa do interior, e até hoje não sabemos bem o que fazer com a residência; e sobre como minha mãe não suporta a ideia de termos um cachorro.
Minha mãe é amante de gatos, nosso pai, de tartarugas, e ainda que tanto eu quanto Haerin desejamos ter um animal de estimação, a proposta é sempre recusada.
Claro que acho injusto, visto que dona Taeha até mesmo resgatou um novo gatinho essa semana. Agora, o posto de caçula da família Kim é de Inuyasha, o que significa que Dorothy, a pequena e adorável tartaruga de meu pai, perdeu o lugar.
- Mas mãe, poderíamos ensinar ao cachorro defesa e ele protegeria a casa. - falo no meio do jantar, olhando para a mais velha. Ela, que bebia suco de laranja, para, e deposita o copo na mesa. Haerin digita algo no celular sem que nossos pais vejam, e meu pai, por sua vez, apenas continua comendo.
- Seiya já serve como proteção. - ela responde, voltando a beber do suco. Xingo mentalmente. Seiya foi o primeiro gato dela, tem a pelagem branca misturada com laranja, algum bicho lhe arrancou um pedaço da orelha direita e ele odeia todos na casa, menos minha mãe.
Detesto quando meus argumentos chegam a borda do fim, então, sem jeito e com certa força, chuto a perna de Haerin. Ela me olha com raiva, recebendo um olhar de exigência pela minha parte; Haerin suspira, revirando os olhos, e com sua melhor cara de anjo inocente, diz:
- Papai, podemos ter um cachorrinho? Sunoo e eu cuidaremos tão bem dele!
Aos olhos do meu pai, Haerin é sua princesa protegida e mimada. E claro, ela se aproveita bem disso.
- Da mesma forma que cuidaram dos peixinhos dourados? Desculpem, crianças, Taeha tem a última palavra e não posso ir contra minha rainha. - fala, sorrindo doce para a outra, que empurra de leve o ombro dele, corada, e claramente contente com o comentário.
Minha última cartada foi derrubada, igual a um castelo de cartas. Triste, finalizo meu jantar, lavo a louça da noite e caminho até o banheiro, onde escovo meus dentes e sigo até meu quarto.
O relógio na parede pintada de azul marca dez e quinze. Há diversas mensagens de Yuna e Kai em nosso grupo privado, mas nem tenho vontade de respondê-las. Haerin bate na porta, abrindo-a logo em seguida, vindo até mim.
Quando Haerin se deita ao meu lado, a cabeça apoiada em meu colo, recordo-me da minha melhor memória, que fiz questão de guardá-la bem. O porém, dessa vez, é que estamos em um mundinho maior, onde faltam alguns pedaços.
- Você acha que um dia ela vai deixar? - escuto ela perguntar, baixinho, o corpo escondido em meio ao lençol e ao escuro do cômodo. Sei que Haerin conserva o desejo que lhe transmiti quando novo, e que se ela insiste, é porque um dia falei que almejava aquilo.
- Um dia, quem sabe. - respondo, afinal. Não possuo respostas concretas, somente teorias da conspiração, as quais carrego comigo aonde quer que eu vá.
✵
Estou entrando na sala quando sou interceptado por Yuna e Kai. Ainda que o havaiano estude em outra sala, ele é uma figura constante no 2A, ao ponto de conhecer os demais alunos da mesma.
- Você ficou sabendo? - Yuna questiona, a voz levemente alta e aguda. Está agitada e animada, e só falta dar pulinhos, mas ela evita isso, em prol de sua imagem. E Kai, ao seu lado, mantém a mão no ombro dela, como se já desconfiasse dessa possibilidade, o que era bem capaz de ocorrer, na verdade.
- Não. O que houve? - devolvo a pergunta, dessa vez entrando na sala e sentando em meu canto. Yuna deposita a bolsa na carteira, à frente da minha, e Kai se distrai conversando com um colega meu.
- Yeonhee desistiu do cargo de líder do grêmio estudantil e agora tem uma vaga. Essa é a sua chance, Sun!
Desde que o ano letivo começou, que meus dois melhores amigos sabiam que esse era meu objetivo atual. O qual foi derrubado quando Lee Yeonhee, a aluna exemplar de exatas, ganhou o posto. E agora Yuna me dizia que ela simplesmente desistiu disso?
Antes que eu possa dizer qualquer coisa que seja, o professor surge, o que faz Kai sair do melhor modo possível, a fim de evitar um sermão. Ele acena pela janela, ganhando um sorriso doce de Yuna.
Mesmo que eu tente estabelecer meus pés no chão, minha mente passeia sem rumo, esperando a hora onde o intervalo virá e poderei resolver essa questão.
Quando entrei na escola no ano passado, idealizei coisas das quais gostaria de tentar, afinal, estava criando raízes em um novo ambiente, precisava conhecê-lo. E ser do grêmio estudantil era, definitivamente, uma dessas coisas.
No início, eu imaginava um cargo pequeno e simples, mas em dado momento, ajudei significativamente minha sala e acabei me tornando representante da turma. Notei que, sim, poderia crescer nisso. Então, quando as eleições vieram, decidi me candidatar a representante do grêmio estudantil, no entanto, acabei perdendo.
Esse ano, o meu atual cargo passou a ser de Yuna - a cada novo ano, um alguém se tornava representante da sala - e agora eu buscava uma nova ocupação. E saber que Yeonhee havia abdicado do cargo me enchia de esperanças.
✵
Saio da sala com Yuna ao meu lado, a mesma falando sobre a série que viu na noite passada. Ela carrega um bloco de notas amarelo, onde escreve suas obrigações e projetos dos quais deve cuidar para com a escola. Quando não está falando de temas da atualidade, está atualizando seu bloquinho, pondo ali tudo que julga ser necessário.
Meus passos me levam até a porta do grêmio, o qual está apinhado de pessoas, sejam as curiosas ou as que almejam tentar algo. Gentilmente, peço licença, adentrando na sala, notando alguns rostos vagamente conhecidos.
E o mais conhecido de todos, é Park Sunghoon. Ele, com sua classe e educação polida, cativa a todos; esbanja carisma, uma beleza suave e delicada; o cabelo parece sedoso e bem cuidado, ao meu ver, além de brilhar; e mesmo no uniforme da escola, o serzinho consegue aparentar charme.
Disputamos no ano passado o prêmio de Astronomia, cujo primeiro lugar viajaria para um observatório renomado. Ele venceu, é claro, me chutando para o segundo lugar, onde recebi apenas um certificado. Depois disso, não vou muito com a sua cara, não há necessariamente maldade, revolta ou malícia, apenas acho que eu quem deveria ter viajado e ponto final.
Na folha de papel cedida por um professor responsável, não há tantos nomes como achei que teria. Pelo visto, nem todos estão com coragem o suficiente de enfrentar os Titãs presentes na lista. Sunghoon está nela, obviamente. Juntamente a galerinha que se destacava em alguma área.
Ele me observa de longe, suas amigas fofocando entre si. A caligrafia dele é impecável, e alguns até mesmo a elogiam, pelo que consigo ouvir de onde estou. Escrever meu nome ali é como assinar o meu tratado de morte, definitivamente, mas nem mesmo pestanejo: Kim Sunoo.
Isso é uma corrida, a largada foi dada e que vença o melhor.
oi, tudo bem por aí? quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? bom, faz um tempinho desde minha última obra longa, estou um pouco enferrujado, então, peguem leve comigo, sim? estou dando meu melhor, espero que gostem e nos vemos no próximo <3
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APOLLO 11.
Fanfiction[EM HIATUS] Kim Sunoo e Park Sunghoon são rivais acadêmicos que disputam a liderança do grêmio estudantil. O que Sunoo não esperava era que, rapidamente, Sunghoon se transformaria em um perfeito alibi para seu maior e melhor plano mirabolante: decid...