Olhos nos olhos - yoonseok

Único: parte 01 [🌾]

Meus passos pelos corredores ecoam o contato do meu tênis contra o piso liso. Meus olhos atentos vagam de uma direção a outra em sua busca. Já havia passado na sala na expectativa que o encontrasse deitado sob aqueles lençóis que insistia em tê-los apenas com o pretexto de não deixar que vissem seu rosto.

Às vezes simplesmente não entendo o motivo, embora seja tão nítido no final das contas. Me sinto triste a cada vez que vou ao seu encontro e o vejo na mesma posição, escondido como um animalzinho indefeso e assustado. Eu gostaria que você não se sentisse assim, principalmente próximo a mim. E especialmente gostaria que um dia pudesse ver o quão belo é. Que não havia motivos para esconder seu rosto e se manter sob aquilo que dizia ser seu esconderijo pelo resto de sua vida.

Todos os dias quando chego em sua casa e sou recebido pelo abraço caloroso de sua mãe, o comprimento formal de seu pai e o aceno de cabeça de seu irmão que parece sempre estar atrasado para alguma coisa me faz sentir parte de sua família. Me sinto inteiro e preenchido por um sentimento estranho mas que no final do dia me faz repousar minha cabeça em meu travesseiro velho e ter a certeza de que foi um bom dia e que poderei voltar lá nos dias que se sucedem.

Quanto tempo faz essa nossa rotina? Eu havia perdido as contas a partir do dia que entrei em seu quarto desacompanhado, tendo apenas e nada mais do que a permissão de sua mãe, o que me fez ser recebido por você de um jeito que até hoje me arranca um sorriso sincero.

Você é apenas uma criança. Uma criança que cresceu um pouco e que tem idade suficiente para saber que todas as vezes que você me manda ir a merda ou coisa parecida está, na verdade, afetando meus sentimentos. Mas se me permitir ser sincero, em outras ocasiões eu ficaria realmente magoado e até mesmo me afastaria. Mas com você é impossível. Aquilo era como uma roleta. Você até podia tentar me empurrar para longe, mas no final das contas eu sempre dava a volta completa e mais uma vez me via parado diante de você.

Naquele mesmo dia descobri sua estranha paixão por algo que até mesmo crianças pequenas já não admiram tanto, mas que você fazia questão de tê-lo por perto! – e talvez eu tenha descoberto isso de maneira imprudente. Eu gostaria de me desculpar, mas existem dois motivos que me impedem isso. O primeiro é você, que insiste em não querer me ouvir. E o segundo sou eu, temendo por não saber quais palavras seriam as corretas para me desculpar. E sendo mais sincero ainda, me sentiria envergonhado em fazer isto. E acho que você também se sentiria da mesma forma.

Mas, vê-lo proteger seu ursinho foi algo tão fofo e surpreende. O beicinho que tomou seus lábios me fez lutar entre querer correr até a varanda e gritar para todos saberem o quão lindo e cativante você era, e querer apertá-lo em meus braços – por mais que já soubesse como você reagiria. Mas tive que me conter em apenas apreciar a cena e não querer me estapear já que eu era o responsável por ter o feito sair de sua cama às pressas, esbarrando em tudo até que encontrasse o brinquedo no qual você o agarrou com toda sua força.

Não é muito costumeiro, embora o sorriso que reluz diariamente em meus lábios fazendo as pessoas em minha volta acreditarem ser eu uma pessoa calorosa e amigável, às vezes também tinha meus momentos que perdia a cabeça e me tornava sombrio. E você conseguia arrancar de mim este meu pior lado todas as vezes que me ignorava quando tentava dar meu máximo, e quando finalmente abria a boca – o que era pra ser algo para me alegrar – me irritava e chateava com suas palavras grotescas.

Afinal de contas: de onde vinha tanta marra?

Era estranho pensar e comparar suas palavras com suas ações e feições. Você é singelo. Como uma porcelana que brilha e enfeita um cômodo. Nas pouquíssimas vezes que o peguei de surpresa fora das cobertas pude perceber os detalhes de seu rosto. E como já havia dito, você não tem noção do quão lindo é. E eu adoraria dar a você o poder de se ver com os mesmo olhos que o enxergo.