Prólogo

1.5K 202 60
                                    

117 d.C; A CARTA

O raiar do sol invadia o cômodo de paredes rochosas da fortaleza

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O raiar do sol invadia o cômodo de paredes rochosas da fortaleza. O breu da noite já havia ido, dando lugar à luz calorosa que fervilhava em contato com a pele. O amanhecer foi igual a todos os outros, exceto por aquilo. Uma carta deixada em cima da mesa dos aposentos de Rhaenyra.

A mulher tocou o papel com seus dedos macios. O selo intocado, sem nenhum brasão, apenas a cera derretida sobre o papel de textura áspera. Sem mais delongas, ela rompeu o selo, deparando-se com uma escrita perfeita, traços delicados e seguros, mas o que mais lhe chamou a atenção foi o idioma. A carta era longa, escrita em um alto valiriano perfeito. Isto a deixou curiosa. Verificou o papel várias vezes, mas não encontrou nada que a ajudasse a descobrir o paradeiro de quem enviou. Então, ela se dispôs a ler.

Sentou-se à mesa, e em silêncio leu. A cada palavra que a voz de sua mente descrevia, um sentimento estranho tomava conta de seu corpo. Arrepios em suas pernas desnudas, os olhos púrpura focados naquele pedaço de papel, a forma como balançava a perna esquerda que se encontrava cruzada. Cada gesto de estranheza em seu corpo naquele momento estava ligado àquela carta. Entretanto, o que mais lhe causou ansiedade foram as últimas palavras escritas.

"A forma como você toca seus dedos sobre os anéis é uma mania, porém, este gesto me agrada fervorosamente. Assim como a forma que você cruza as pernas e encara o nada. Tudo em você me agrada, minha querida."

Rhaenyra estava perplexa com o que acabara de ler. Ela tinha várias dúvidas rondando sua mente, mas todas elas foram interrompidas quando o choro de seu bebê se fez presente no cômodo. Rapidamente, Rhaenyra guardou o papel em seu baú e dirigiu-se até o berço de Joffrey. Ela o pegou em seus braços e, com um sorriso, deixou um beijo em sua pequena testa.

Enquanto Rhaenyra cuidava do pequeno Joffrey, Sor Laenor retornou de mais uma de suas noites de bebedeira com escudeiros. Escudeiros esses que lhe entretinham, dando-lhe uma noite gloriosa digna de um amante.

Laenor entrou pela passagem secreta no quarto de Rhaenyra, ainda tonto devido à quantidade exorbitante de vinho que havia consumido ao longo da noite. Ele conseguiu chegar aos aposentos da esposa sem fazer muito barulho ou chamar atenção. Ao finalmente ver Rhaenyra em seu campo de visão, ele sentou-se próximo à cama, em uma das cadeiras acolchoadas do quarto. Rhaenyra estava com Joffrey em seus braços, ela havia acabado de trocá-lo. O bebê estava devidamente limpo, agora ela o amamentaria.

Rhaenyra mantinha-se calada. Ela ajustou os trajes de dormir para que o bebê pudesse ser amamentado. Ela o segurava com cuidado em seus braços, ninando-o de forma lenta para que ele voltasse a dormir enquanto se alimentava. Virando-se para Laenor, ela arqueou as sobrancelhas ao ver o estado deplorável de seu marido.

— Divertindo-se com seus escudeiros até o amanhecer? — foram as primeiras palavras de Rhaenyra.

— É a única coisa boa para fazer neste lugar.

— E quanto aos seus filhos? Jacaerys e Lucerys estavam empolgados porque você lhes disse que lhes ensinaria uma nova posição de esgrima. Eles te esperaram até tarde, mas como sempre você não compareceu. - As palavras saíam de sua boca em um tom amargo, ela estava exausta, mas Laenor não conseguia enxergar isso, acabando por pensar só em si e no seu tédio sofrido.

— Você e eu sabemos muito bem que...

— Cale-se, Laenor. Para o seu bem, é melhor se calar. — Rhaenyra mantinha seus olhos púrpura brilhando em uma raiva momentânea.

Joffrey voltou a dormir e, com isso, a platinada deitou o bebê em seu berço.

Voltando completamente sua atenção para Laenor, ela pôs-se de pé frente ao platinado. Que agora parecia um pouco mais arrependido das palavras que formaram-se em sua mente; se não fosse por Rhaenyra, ele as teria dito em voz alta.

— Rhaenyra, eu não quis... perdão, Rhaenyra. — foi tudo que o Velaryon conseguiu dizer.

— Você acha que eu também não estou sofrendo? Estamos em um casamento sem amor, paixão ou desejo. Lembra do que eu lhe falei? Que sempre iria te apoiar e proteger. Eu sempre entendi seu lado, eu sempre fiz de tudo por você, Laenor. Agora, por favor, recomponha-se e faça o mesmo por mim.

Envergonhado, ele abaixou a cabeça, deixando algumas lágrimas escorrerem. Rhaenyra estendeu sua mão para que ele a segurasse.

— Eu preciso que encare essa tempestade comigo, eu preciso que fique ao meu lado. Faça isso por mim, primo.

— Me perdoe por não estar cumprindo a minha parte como havia lhe prometido.

Eles ficaram ali de mãos dadas, em silêncio. Laenor ficou de pé e encarou Rhaenyra com os vestígios de suas lágrimas. A platinada limpou seu rosto e deixou um casto beijo em sua bochecha. Ambos não notaram a presença da serviçal quando ela adentrou nos aposentos de Rhaenyra. Rhaenyra e Laenor se afastaram.

— Perdão, princesa. Vim preparar seu banho.

— Tudo bem, Dalia. Pode preparar.

A serviçal dirigiu-se para o lavabo, enquanto Rhaenyra e Laenor ficaram para trás. Eles se encaravam e a vontade de rir do que acabara de acontecer era enorme, mas não podiam. A princesa o acompanhou até a porta.

— Bom, antes que eu me esqueça, preciso conversar com você depois do desjejum.

— Sobre o que seria?

— Algo estupidamente estranho que aconteceu hoje ao amanhecer, mas preciso falar em particular. Vamos sair para voar, e quando estivermos fora das paredes da Fortaleza, poderei contar sem medo que alguém ouça.

— Conseguiu me deixar curioso, prima.

— Bom. Os meninos terão aula de alto valiriano após o desjejum, e isso os mantém ocupados durante boa parte da manhã, o que significa que teremos tempo.

— Entendo. Então é melhor nós nos apressarmos.

Rhaenyra concordou com um aceno positivo. Laenor virou-se de costas para ela e saiu rumo aos seus aposentos. A platinada observou o corredor antes de entrar novamente no cômodo. Após a porta ser fechada, uma figura que se escondia no canto dos corredores se esgueirou rumo às passagens secretas.

𝗔𝗠𝗕𝗜𝗧𝗜𝗢𝗨𝗦 𝗢𝗕𝗦𝗘𝗦𝗦𝗜𝗢𝗡Onde histórias criam vida. Descubra agora