Prólogo.

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"Dia quatro de Setembro, de dois mil e seis, o dia era nublado, do céu, caíam pequenas gotas soltas, parecida com uma garoa, algumas gotas caíam sobre minhas vestes e meus fios, mas pouco me importava. Era outono, então haviam diversas folhas amareladas espalhadas pelo chão. Meus fios ruivos, neste época do ano, nada destacavam, não sei se me sinto lisonjeada ou não por isso, os fones sobre meus ouvidos, eu corria numa velocidade mediana, dois seguranças na minha frente, dois seguranças atrás de mim, um segurança ao lado esquerdo e o outro ao lado direito, não tinha visto ou percebido mais nenhum, mas provavelmente, tinham mais no parque. Sempre procurei não me importar muito com isso, é um dos maus de ser a filha de um dos homens mais poderosos do mundo, o rei da Rússia. Ele ocupa esse cargo desde que nasci - como natural - tenho uma irmã gêmea, idêntica a mim, mas, Natasha é uma garota sombria, passa o dia inteiro no quarto, é fria, mal se importa com papai ou mamãe. Eu sou uma pessoa bem diferente, praticamente o posto, animada demais, amorosa e carinhosa demais, passo quase o dia todo ensaiando e quando meus pais estão em casa, fico com eles o máximo que posso. Mais alguns minutos, e resolvo voltar para casa, o mesmo sistema de segurança de sempre. O dia normal como sempre havia sido, cheguei, tomei meu banho e depois fui ensaiar, era a primeira vez que eu fazia isso, já que papai estava em casa, entretanto, teria uma apresentação.

Quando já era de noite, papai foi até a sala de dança, deu três leves batidas a porta, o suficiente para que eu imediatamente parasse de dançar, desligando a música e indo em passos curtos, mas rápidos ao seu encontro. Abri a porta e logo lhe dei um abraço, ele se afastou um pouco e me olhou com um sorriso sobre os lábios:
- Calina, aceita passear comigo por alguns minutos? Acho que faz tempo que não fazemos isso, e sua mãe, está a aprovação de um novo projeto social. - Papai disse, eu suspirei, seria a primeira vez que eu diria não, justamente a ele, mas valeria apena, afinal, era Cisne Negro que eu iria dançar, não poderia descuidar, eu iria dançar a noite toda, mesmo sem a presença de Alasca - minha professora de Ballet particular- o encarei e forcei um sorriso.

- Desculpe papai, mas não tem como, sabe, a data da apresentação se aproxima, e se eu relaxar um pouco, acabo declinando de meu cargo, chama Natasha, desculpa mesmo - Eu disse, abaixando o olhar diversas vezes sobre isso, papai sempre me compreendeu, como mamãe, então, me deu uma piscadela com o olho esquerdo, me deu um beijo sobre a cabeça, um abraço bem apertado e abriu os lábios mais uma vez, estranhei, mas não disse nada

- Se algo acontecer comigo, Calina, saiba que eu a amo demais, mais do que o infinito e que daria de tudo, pra poder ver sua apresentação de ballet, tão talentosa, sinto tanto orgulho de você. Eu te amo, minha eterna princesinha - Franzi o cenho, aquela conversa estava estranha, mas só lhe dei mais um beijo na bochecha, mais um abraço forte, retribuindo o "Eu te amo". Cinco minutos depois, e ele partira, mais uma vez.
Papai foi até o quarto de Natasha, e ela concordou em darem a tal volta, sei porque os vi atravessarem a porta dos jardins. Dei de ombros e continuei a dançar, alguns passos, seria como no próprio filme. Dimitri apareceu alguns minutos depois, somente acenando e aplaudindo com orgulho, esqueci de o mencionar. Imediatamente, corei, mas reagi rindo, fui até a porta e o expulsei com um sorriso nos lábios. Ele foi, relutante, mas foi. Fechei a porta e fiquei ali por um tempo.

[ Três horas depois ... ]

Um tiro fora ecoado por todo o palácio, o som era de fora, do Jardim. Imediatamente, todos se lembram de onde o rei e a princesa Natasha estavam. Já começam a especular a morte de tal, mas um grupo de soldados já fora logo acudir os que estavam lá fora.
Nesta hora, fui até mamãe, ela já estava com as mãos tremendo, como a expressão popular diz, "feito vara verde". Não sabíamos quem mais tínhamos medo de perder, Natasha ou papai.
Não fomos lá fora, nenhum tempo, eu esfregava minhas mãos, uma na outra, misturando a pequena quantidade de suor que haviam nelas. Estava nervosa, com medo da resposta, passavam dez minutos e nenhuma resposta. Alguns gritos, a maioria masculino, não sabia o que pensar mesmo os femininos, tinham ido criadas e serviçais.
Ao que pareceram horas, entretanto, foram vinte minutos, um guarda, o chefe deles, se aproximou de mim e de mamãe, seu olhar demonstrava o cansaço e a tristeza que carregava no peito. Não sei se eu estava preparada, sinceramente, não sei se estava preparada pra morte de Natasha, pois por mais que fôssemos afastadas ela era minha irmã, minha irmã gêmea, a única que seria igual a mim no mundo. Meu pai era quase que meu tudo, com ele eu passei boa parte das tardes em que vivi, ele que assistia meus ensaios, corrigia meus erros, que proporcionava meus luxos, meu herói. O que me dá carinho e amor, um pai, amigo e confidente. Mas eu teria que encarar aquilo, então, levantei o olhar, engolindo o nó na garganta, segurando as lágrimas que a cada instantes pareciam mais pesadas e olhei nos olhos do soldado, mamãe fez o mesmo e assim, foi a vez dele suspirar.

- Vossa Majestade, vossa Alteza - Ele fez uma breve reverência desajeitada, como as minhas, as lágrimas dele ameaçavam cair. Por um momento todos ficamos em silêncio até que eu fiz um gesto com as mãos, para que ele contasse o que havia acontecido, no fundo do meu coração eu tinha a esperança de que os dois estavam... - Nós tentamos de tudo, tudo mesmo, mas a mira do atirador era excelente, e foi fatal, foi instantâneo, não sei como lhes dizer, mas...

- Pare de enrolações, senhor! Eu Imploro! Vá logo ao ponto! Quem se foi, minha filha ou... - Neste momento a voz de mamãe falhou, ela deu um breve soluço que não pôde controlar e completou - Meu marido - Uma lágrima caiu de seu olho. Eu também estava fraca e sem palavras, então fiquei calada.

- Bem, os dois estavam juntos, mas quem faleceu... - Neste momento algo pareceu o interromper. Natasha apareceu no fundo da sala e o interrompeu. Não tinha uma expressão decifrável. Estava com as mãos sobre o colo, os fios naquele mesmo jeito, presos a um coque mal feito, vestia uma calça jeans e uma camiseta rosa, seus lábios e seu rosto sem nenhum traço de maquiagem. O guarda que havia sido interrompido não precisou dizer mais nada. Havíamos entendido. Minha mãe fez um gesto para que ele se retirasse e ficou a fitar Natasha. Acho que esperávamos que papai entrasse logo em seguida.

- Desculpe-me. O papai, o papai... - Gaguejou Natasha, pela primeira vez acreditei que ela realmente se importava com a gente. Seus olhos estavam pesados e parecia que ela também iria desabar ali. Não conseguia concluir direito sua sentença. Ao que uma lágrima é um soluço saíram, ela soltou um suspiro profundamente triste e voltou a dizer tentando ser o mais forte e firme possível. - Ele morreu.

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