Não imaginava que voltaria realmente para cá um dia. Parece que tudo continua igual, o mesmo cheiro de terra molhada nessa época do ano, odor que marcou minha memória.
Sete anos atrás
Faltava pouco, apenas mais algumas provas e eu poderia ajudar a vovó nas tarefas da casa antes da chegada de todos. A fazenda estava sempre numa correria. Meu avô, coitado, já estava surtando. Era sempre assim quando eles se aproximavam. O gado precisava estar em boa condição, a piscina limpa, todas as camas arrumadas e as suítes e a casa principal tinham que estar perfumadas.
— Ah, você se preocupa demais com isso, Day. É o primeiro dia de vaquejada! Você já tem um boletim perfeito. Mesmo que falte em todas as provas, vai passar — Rafael pensa que minha vida é fácil assim. A verdade é que meus oitos no boletim nunca serão um dez, e não posso me dar ao luxo de fazer recuperação.
Meu colégio é o único particular da cidade inteira, pago pelos patrões da minha avó. Sempre tive que manter uma média alta por isso. A mensalidade não é tão cara comparada às das cidades grandes, mas apenas os mais abastados da cidade colocam seus filhos aqui. Rafael é um deles; seu pai é dono do maior supermercado da cidade e tem crescido no ramo de gado, o que explica sua paixão por vaquejada.
— Ah, Rafa, é complicado. — Se ele soubesse toda a história.
Dias atuais
— Senhorita Escobar? Sou Jorge, motorista do senhor Marcelo. Vim buscá-la e levá-la até o hotel. Pode deixar as malas comigo.
— Ah, não precisa, Jorge. São só essas duas malas mesmo. E pode me chamar só de Dayana.
— Pode deixar, senhorita Dayana. Eu mesmo levo suas malas. — Ele pegou a que estava ao meu lado e começou a andar. Bom, elas não estão pesadas mesmo. Trouxe só o necessário; pretendo comprar o resto na cidade, especialmente as coisas para Bartolomeu.
— A senhorita pretende ir a algum lugar antes de ir ao hotel?
— Marcelo está lá também, Jorge?
— Senhor Marcelo saiu cedo para resolver coisas na cidade vizinha, mas disse que voltaria ao hotel por volta das seis da tarde.
— Certo, então vamos direto ao hotel. Preciso deixar minhas coisas lá antes de ir a algum lugar.
O trajeto foi agradável; Jorge foi mostrando os lugares da cidade enquanto passávamos. Muita coisa tinha mudado.
— A cidade tem crescido bastante, Dona Dayana. Antigamente, mal tinha lojas. Hoje, quase temos um shopping onde costumava ser a praça.
— Entendo, Jorge. Eu lembro da praça, parece que foi ontem.
Com certeza, Rafa não entenderia minha visão sobre tudo isso. Para ele, as coisas são fáceis de resolver. Ele continua tentando me convencer a ir com ele enquanto me leva até em casa.
— Dayana, não tem como dar errado, ok? Eu passo para te buscar, você pula a cerca e a gente vai. Te trago de volta antes do amanhecer, prometo.
— Rafa, tá bom. A gente vai, mas preciso estar em casa cedo, beleza? E nada de me deixar sozinha lá, ok? É melhor a gente se encontrar na praça; meu avô vai ouvir seu carro passando se você for lá.
Eu sabia que não deveria fazer aquilo, mas também sabia que minha vida se tornaria um inferno nas próximas semanas. Eu precisava aproveitar meus últimos segundos de paz.
Não demorou para chegarmos à porta da fazenda. Não era longe do colégio, mas no sol do meio-dia, é capaz de derreter no caminho. Sem contar que era costume do Rafa me buscar e me levar. Pelo visto, terei que procurar uma roupa para ir à vaquejada.
Tempos atuais
— Senhorita? Já chegamos. Irá precisar de mais alguma coisa?
Merda, preciso parar de ter esses pensamentos. Esqueça essas coisas, Dayana. Isso é passado.
— Por agora não, Jorge. Mas depois que eu arrumar minhas coisas no hotel, vou precisar que você passe aqui. Preciso ir a um lugar
A reserva no hotel já estava feita; deixei Ester, minha secretária, cuidar dessa parte, assim como deixei Bartolomeu com ela, meu gato Maine Coon que ganhei quando terminei a faculdade. Só Deus sabe como foi difícil lidar com aquele gato no começo.
Tirei apenas meu notebook da bolsa e coloquei meu celular para carregar. Vou precisar de todas as informações sobre a área antes de ir, mas a maior parte já está feita. Deixei tudo no nome de Marcelo para não ter nenhuma interrupção.
Tirei o resto da tarde para tomar banho e procurar uma roupa. Já avisei Jorge que iria precisar sair, mas com outro carro.
— A senhora já sabe onde fica o local, Dona Dayana? — ele disse enquanto íamos para a garagem.
— Não se preocupe, Jorge. Vou colocar no GPS. Mas é melhor trocar o carro, já que é uma área rural. É melhor usar a caminhonete. — Já procurava entre os carros. Uma das únicas coisas que fiz questão de comprar e trazer para esse fim de mundo foi uma RAM 2500 LARAMIE branca, É perfeita, exatamente o que vou precisar.
É, Bianchis. Espero que estejam preparados
Notas da autora: espero que tenha chamado a atenção de vocês, a quem leu, muito obrigada, se puder favoritar e comentar vai ajudar MUITO, um beijão 🫶🏻
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Entre dois mundos.
FanficDayana Escobar e Enrico Bianchi viveram um romance proibido na adolescência. Ela, a neta da empregada; ele, o filho dos patrões. Seis anos depois, Dayana retorna como advogada à sua cidade natal, determinada a conquistar poder e respeito, não impor...