10 - Acho que nunca tive uma conversa assim com um deus antes, como se faz isso?

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Obs : Vou fazer Poseidon pai presente sim!! Ache ruim quem se atingir 💞💞
Alerta de gatilho para chalés com daddy issues 😜.

Já eram sete da manhã e estava praticando esgrima com Lake na arena. Ele me viu treinando da janela do chalé 7 e aceitou me ajudar, (e também foi o único que quis, todos os outros estavam com raiva de mim). Eu não estava ruim, mas ele estava tentando corrigir minha postura.
- Eu acho que você deveria tentar treinar com mais de uma espada, é muito mais difícil para ser franco, mas acho que combinaria mais com seu estilo, se ocupando com apenas uma espada você deixa muitas brechas - ele me aconselhou depois de umas belas cutucadas no meu estômago e quadril.
Ainda estava tentando recuperar o ar dos pulmões.
- É uma boa sugestão, vou praticar depois, o que você acha de... - comecei a dizer, mas fui interrompido.
- Eu acho uma boa ideia - ouvi uma voz masculina atrás de mim, me virei e lá estava meu pai novamente. Tipo, bem do nada. E posso ser sincero? Eu fiquei realmente chocado.
Lake entrou em choque também, e logo se prestou a se ajoelhar até encostar a testa no chão em forma de respeito, acho que deveria fazer isso também, mas tinha mais coisas a dizer, então apenas abaixei a cabeça, lágrimas me vieram aos olhos.
- M-me desculpe, por... ontem... - disse antes que eu perdesse a coragem.
Esperava qualquer tipo de reação, tipo ele me vaporizar, um sermão ou ao menos me bater, mas meu pai se aproximou de mim e me abraçou, e se era possivel eu ficar mais chocado e ao mesmo tempo encabulado do que antes, eu fiquei. Tenho certeza que corei. O abraço dele era quente, e sinceramente, eu desabei em seus ombros e comecei a chorar.
- Me desculpa por tudo... fui tolo e fiz aquilo, me desculpa por favor... - disse não contendo o choro.
- Tá tudo bem seu nenem chorão - ele me tranquilizou e se afastou um pouco, e secou as lágrimas do meu rosto - Você fez a escolha certa no final e demonstrou sanidade para demonstrar respeito à mim, só por isso já fico satisfeito, além de ter salvado sua vida - ele terminou com um sorriso.
O mundo abaixo dos meus pés parecia ter caído, eu só não estava acreditando que os deuses não haviam me matado.
- Você... não vai me pulverizar? Não vai me amaldiçoar? Não vai nem me bater? - perguntei sem acreditar no que estava ouvindo.
- Depois de tanto trabalho para convencer seu tio a não fazer isso? É claro que não! Mas acho que uns cascudos não vão te matar vão? - o sorriso dele ganhou um pontinho estranho.
- Sinto muito pelos problemas que te causei - abaixei a cabeça de novo.
- Acho que temos muito o que conversar meu filho, quer ir para seu chalé para termos um pouco mais de privacidade? - nem percebi que Quíron havia voltado com ele, estava assistindo tranquilizado a situação, na porta da arena, como se estivesse satisfeito, e Lake estava paralisado, assistindo tudo como se fosse a partida de tênis do século.
- O que desejar pai, só espere um segundo por favor - me virei para Lake - Cara, se você quiser voltar pro seu chalé também pode ir, eu me viro a partir daqui, obrigado por ter vindo.
Isso pareceu o acordar do transe que ele estava tendo, então assentiu e saiu andando a passos rápidos de volta para o chalé 7.
- Pronto? - disse meu pai por fim.
Mesmo nervoso eu respondi :
- Sim, vamos.
- Quíron, pode voltar às suas atividades diárias, a confusão já passou - meu pai disse isso passando o braço por um dos meus ombros - Eu cuido de Pollux a partir daqui.
- Claro, com licença senhor - Quíron se retirou e foi em direção a casa grande.
A atenção do meu pai voltou pra mim.
- Anda filho vamos - meu pai e eu fomos para meu chalé.
Quando chegamos, ele se sentou na ponta de uma das beliches e indicou outra cama para que eu me sentasse também.
- Temos muito o que conversar Pollux, antes de tudo, está com fome?
Não percebi o quanto estava faminto desde ontem, eu nem terminei minha comida no pavilhão por causa do acesso de raiva, então fazia várias horas que não comia, assenti com relutância.
Poseidon com um aceno fez surgir um prato de sanduíches, quadradinhos amarelos de não sei o quê e um líquido dourado em uma garrafa logo acima da mesa de cabeceira.
- Vamos, pode comer, isto é ambrosia e néctar - ele indicou os quadradinhos e a bebida - Comida e bebida dos deuses, não deve ter comido ainda, e não deveria comer muito mesmo em situações normais, mas no seu caso não há problema - ele pegou um pedaço e depois peguei um também.
- O que quer dizer com "no seu caso não há problema"? - perguntei em dúvida.
- Apenas coma, o néctar também, eu vou explicar o que puder aqui.
Mordi um pedaço de ambrosia, isso me lembrou de quando eu estava na enfermaria - Ei, eu já comi isso! - mordi mais uma vez achando bom - Na enfermaria, o Lake estava me ajudando a me recuperar me dando isto.
- Pois melhor ainda - disse meu pai com um sorriso - Primeiro, perdão por ter sido rude no seu sonho, eu não queria, mas eu precisava passar uma impressão de autoridade entende? Você também não colaborou - assenti envergonhado, ele continuou - E perdão também por não ter reclamado você até agora, não quero que pense que é vergonha, em hipótese alguma, só achei que seria mais seguro pra você se eu não fizesse isso. Não no presente momento pelo menos - estava deprimido pela explicação, e olha que só tinha acabado de começar - Não quero que fique com sentimentos negativos de mim - disse ele emotivo, e concordei me animando um pouco. Ele ficou feliz e continuou - Olha filho, você... digamos que... err... você possui um sangue especial.
Minha alegria repentina murchou - É, estou percebendo.
- Mas isso não é motivo para desânimo, pra você, será um dom! - ele viu que não estava me animando e continuou - Olha filho, ser especial não é ruim sabe, você é bem mais poderoso do que pensa que é.
- Não precisa tentar me animar - disse já pra baixo - Pode me dizer coisas mais importantes? Como o que aconteceu na colina? Ou o que houve em sua reunião no Olimpo? Ou sobre minha mãe?
Poseidon suspirou - Claro, responderei suas perguntas, ok, sobre a primeira, depois que você viu sua mãe morrendo Pollux, coisa que eu sinto muito por sinal, nem parecia mais você, seus olhos ficaram azuis, não o seu azul habitual, mas um azul profundo, da cor do fundo do oceano, e na hora que gritou, convocou mais da metade da água do oceano da costa de Long Island para o topo da Colina Meio Sangue.
Arregalei os olhos - Eu o quê?
- E ainda não acabei - ele parecia tenso - Não foi só isso o que fez, você fez uma tempestade de raios enorme, tão grande que surpreendeu até Zeus, provocou um terremoto de 8,6 de magnitude, abriu uma cratera no chão e acabou com aquele exército inteiro do mundo inferior sozinho! - terminou meu pai nervoso.
Não pude impedir de minha boca ficar em um grande "O".
- Então tá explicado o porque dos campistas estarem com tanto medo de mim, então depois disso eu desmaiei?
- Foi, e Quíron e os semideuses te trouxeram para dentro, seu corpo quase entrou em combustão no processo, mas a questão não é essa meu filho, a questão é que não é só meu sangue e meus poderes que você possui, agora deve saber que também possui os do seu tio Zeus, por causa de sua mãe, ele reclamou bastante disso por sinal, mas não vem ao caso, mas fora nós dois, ainda tem mais dois deuses no seu sangue.
- É, eu já imaginava isso, não é novidade por enquanto, continue por favor.
- O motivo de você atrair tantos monstros é exatamente esse, quanto mais sangue divino, mais monstros você atrai, nem aqui no acampamento é totalmente seguro pra você, alguns monstros estão tentando dar um jeito de entrar, por isso resolvi tomar uma providência.
- Era esse o motivo do cheiro podre de hoje cedo então. Continue.
- Não é somente eu e seu tio que estamos em você filho, Hades e Atena também vivem em você - arregalei os olhos de novo - Mas isso não é possível! Os três grandes? Juntos em mim? Então Hades além de meu tio, é meu bisavô também? - perguntei perplexo.
- Isso mesmo - meu pai respondeu tenso.
Tive a sensação de tontura que ia desmaiar, mas Poseidon estalou os dedos e a tontura passou.
- Sei que deve ser um choque pra você, por isso Quíron preferiu não lhe contar, a questão meu filho é que nem importa muito quais são os deuses que por sangue são seus parentes, mas sim que a quantidade de sangue divino em você é tanta que você é quase um Deus.
Olhei para ele incrédulo - Como assim "quase um deus"?? Eu sou imortal então? - estava abismado agora.
- Não, não é o suficiente pra isso, você teria que ser 100% Deus, mas com certeza terá uma vida muito mais prolongada, será parecido com a imortalidade das caçadoras de Ártemis - meu pai respondeu depois de pensar por um momento.
- Se eu tenho sangue divino suficiente para te preocupar, mas não sou 100% Deus, quantos por cento eu sou?
Ele pensou por um momento.
- Acima de noventa, com toda a certeza, provavelmente, chuto que noventa e nove.
Dessa vez eu desmaiei mesmo, e acordei cinco minutos depois com meu pai me dando néctar.
- Nossa, o choque foi grande mesmo - disse ele preocupado.
Me sentei na cama e coloquei as mãos no rosto, isso não podia estar acontecendo, não. Precisei de um segundo para respirar e absorver a informação.
- T-tá, resumindo, eu sou quase um Deus certo? Ok, vamos fingir que não estou sabendo disso, o que aconteceu na reunião do Olimpo? - disse isso tentando me recuperar do choque.
- Antes de chegarmos nisso, mais uma coisa, vou te ajudar diretamente a controlar seus poderes, porque precisa fazer isso, você irá morar comigo em meu palácio, desde que mantenha sua promessa e se mantenha comportado, essa será minha providência, aqui não é seguro pra você, lá estará bem mais seguro comigo, já vamos falar sobre isso.
- Tudo bem, obrigado, agora nada mais me surpreende, mas então o que ocorreu no Olimp...? - tudo o que recebi em resposta foi um soco na nuca.
- AIIII, doeu, por que fez isso? - disse massageando o cocoruto.
- Isso é por ter me metido na situação que fui obrigado a ficar, foi realmente por pouco que você está vivo, Zeus deixou bem claro que se você fizer o que fez nem que seja uma única vez mais, ele vai expurgá-lo indefinidamente da opinião dos outros. Entendeu? Sem xingamentos - ele terminou fazendo expressão séria.
- Como queira então pai, aiii, prometo me submeter a você e obedecê-lo ao que acaba de mandar, juro pelo o que mesmo...? - o tapa do véio é forte hein? Avemaria.
- Não precisa de juramentos prejudiciais de você para me servir de garantia, vou dar um voto de confiança pra você - ele respondeu ainda com a expressão séria mas deu um sorrisinho.
- O-obrigado - disse massageando e abaixando a cabeça - Porque está sendo tão gentil? Eu pisei feio na bola, poderia ter apenas concordado com os deuses de me matarem e estaria evitando toda essa confusão.
A expressão séria de agora a pouco em seu rosto saiu, e foi para compaixão.
- Eu nunca faria isso, fiquei aborrecido depois do sonho com você - minhas bochechas ficaram vermelhas, ele apenas fez um gesto indiferente com a mão - Mas eu nunca concordaria em te matar, eu infelizmente acabei dando razões para você me odiar, não somos perfeitos, mas estou me esforçando para ser um bom pai pra você, não tive muitos exemplos disso na minha infância entende? - o olhar dele ficou um pouco triste e distante por um momento - E além disso, eu prometi isso e já perdi sua mãe, não quero me perder do que ainda me resta dela.
Aquilo confortou meu coração.
- Fico feliz que a tenha amado, os deuses realmente não costumam ser assim, obrigado... pelo o que fez por mim e por ela.
Ele apenas sorriu.
- Você não ter sido morto já vale o esforço - ele disse sorrindo. Retribuí. Mas logo fui para uma expressão séria.
- Ser fraco não é uma opção pra mim - cerrei os punhos - Preciso ficar mais forte, foram os monstros que tentaram me matar não foram? Pois agora eu ficarei forte o suficiente e acabarei com todos, e isso sim é um juramento.
Ele parecia surpreso com meu entusiasmo, mas deu uma risada e disse :
- É, vai mesmo precisar ficar bem mais forte para fazer isso.
Eu corei.
- Ora, não precisa disso, não há do que se envergonhar, eu acredito que você consegue! - ele fez um gesto no bíceps simbolizando "forte" - E vou fazer o possível para ajudar você a cumprir seu objetivo. Isso também é um juramento - e fez um gesto de "toca aqui" no meu peito.
Lágrimas me vieram aos olhos de novo, não de tristeza ou arrependimento, mas de emoção, e dessa vez, fora eu que abraçei meu pai, que agora eu assumia pela primeira vez sem nenhuma vergonha.

Um desastre sem precedentesOnde histórias criam vida. Descubra agora