37 - Isso era pra ser difícil? Acabou sendo

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Se eu fosse um semideus comum, todos aqueles pares de olhos teriam me deixado paralisado.
Essa desgraça deveria ter só sete cabeças, mas ao invés disso eram tantos os pescoços amontoados um em cima do outro que era impossível contar, principalmente se você fosse obrigado a estar em movimento para não ser dilacerado por uma infinidade de dentes, e todos precisam urgentemente de uma escova de dentes. Eu até iria na loja de conveniência mais próxima fazer uma caridade, mas com todas tentando me matar fica difícil.
Uma cabeça com sete graus de feiura com bafo escaldante já é bastante ruim, agora as outras noventa e nove não são muito melhores.
Se não fosse imune ao fogo, ou não tivesse a recém adquirida maldição de Aquiles, eu já estaria morto.
As ninfas Hespérides não eram muito melhores, tentavam me rogar maldições enquanto eu tentava lutar com a coisa.
Francamente, eu, que já venci meu pai e todos os deuses, estou tendo dificuldade com uma simples hidra? Ou dragão, o que quer que seja isso, estou com vergonha de mim.
Não conseguiria atacar a distância, uma flecha seria inútil aqui, então eu teria duas opções, ou invocava meus poderes e a atingia de longe, ou me aproximava perto o suficiente e cortava em um golpe a couraça dura dos pescoços. Mas se isso fosse realmente uma hidra, cortar individualmente as cabeças de uma hidra era uma péssima ideia, porque a cada cabeça cortada, duas surgiriam no lugar, e isso só duplicaria meus problemas. Por isso precisava ferí-la sem atingir suas cabeças, para não arriscar, mas prejudicar a visão dela seria bom.
A primeira opção não seria boa ideia, por dois motivos, primeiro por que seria obrigado a invocar raios, já que como ninfas filhas do oceano, elas naturalmente sabiam tudo sobre ele, e Zeus me desgastava muito mais que Poseidon, o que seria uma grande desvantagem, o segundo motivo, é que já que precisava economizar dinheiro, a maior parte do caminho teria que ir voando, então isso estava ficando quase fora de cogitação.
Meu plano era o seguinte : a macieira das maçãs douradas estava a uns vinte e cinco metros à minha frente, logo atrás deles, só precisava criar uma distração e ser rápido o suficiente.
Por mais irônico que seja, Zeus vai me ajudar dessa vez, essa tempestade de raios do lado de fora viria bem a calhar, vou mandar que venha até aqui e que faça um tufão, com isso vou focar energia nos músculos das pernas, igual na luta com meu pai, e vou ir o mais rápido que conseguir e pegar a maçã. Só precisava de uma mesmo.
Desviei de algumas maldições e fui de frente pro fogo da hidra, falando nisso, tinha algo estranho, as Hespérides não eram conhecidas por serem cinco? Eu ouvi meu pai comentar sobre isso uma vez, mas só haviam quatro, onde estava a última? Se ela estivesse se escondendo e preparando um ataque surpresa, eu talvez teria problemas.
O fogo da hidra não me queimou, isso a surpreendeu, as Hespérides também pareciam surpresas, isso me deu uma brecha, invoquei minhas espadas, pois eram mais afiadas, e cortei o estômago da hidra.
Ela berrou, as Hespérides também, de ódio, fumaça e ar quente começou a sair da ferida da hidra, e aproveitei a oportunidade para invocar a tempestade de raios.
Um tufão surgiu no meio do Jardim, o campo de visão ficou inacessível aos olhos, pois a fumaça da hidra se misturou e criou uma espécie de névoa densíssima, não iria ter outra oportunidade como essa.
Teria uns dez segundos, no máximo, para pegar uma fruta e sair daqui, faria tudo em dois. Foquei energia nas pernas e meus olhos ficaram dourados e estalaram de eletricidade.
Fui como um trovão por cima dos meus adversários, a distância entre mim e a árvore começou a diminuir, eram dez metros, agora sete, agora três, eu estava quase perto o suficiente.
- ELE VAIS PEGAR A FRUTA!!!! - ouvi uma das Hespérides gritar e a hidra rugiu tentando me achar. Mas já era tarde demais.
Peguei uma maçã, usei o tronco da macieira de impulso e em um formato de "X", cravei minhas espadas no que ainda restava do estômago da hidra.
Com um soado de berros, tanto de dor quanto de horror, saí a toda pra fora do magnífico jardim.

Um desastre sem precedentesOnde histórias criam vida. Descubra agora