Início das Sombras parte 1

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**Capítulo 1: Início das Sombras**

**Parte 1 de 6**

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A luz da manhã filtrava-se suavemente pelas persianas do apartamento de Ludwig, tingindo a sala de um tom dourado. Ele estava sentado à mesa da cozinha, uma xícara de café fumegante diante de si. O aroma forte e familiar o reconfortava, mas não dissipava a sensação de vazio que o perseguia há meses.

O relógio na parede marcava sete e meia. Em pouco tempo, ele estaria sentado diante do computador em seu escritório, mergulhado em linhas de código que, de alguma forma, pareciam mais simples e ordenadas que os próprios pensamentos. A programação era um refúgio, um mundo de lógica onde tudo tinha uma solução clara e direta. Diferente de sua vida, cheia de nuances e incertezas.

Ludwig pegou seu caderno de anotações, um volume surrado que carregava consigo desde a faculdade. Páginas e mais páginas de versos e reflexões, alguns incompletos, outros tão intensos que ele mal conseguia lê-los sem sentir uma pontada de dor. Ele folheou o caderno até uma página em branco e começou a escrever:

*"Na vastidão do desconhecido, busco um sinal, uma voz que ecoe no vazio e traga luz às sombras do meu ser."*

As palavras fluíam com uma facilidade que o surpreendeu. Era como se, por um breve momento, ele tivesse encontrado um canal direto para sua alma, uma conexão que transcendia o mundano. Mas, assim que terminou a frase, o peso do mundo voltou a se abater sobre ele. Ludwig suspirou e fechou o caderno com um estalo suave.

Pegou a caneca de café e deu um gole, sentindo o calor se espalhar pelo corpo. Precisava se preparar para o trabalho, mas sua mente vagava para longe, para lugares onde a lógica do código não podia alcançá-lo. Pensou em Emily. Eles não se viam há alguns dias, e ele sentia falta de suas conversas, da maneira como ela o compreendia sem que ele precisasse dizer uma palavra. Ela era a única pessoa que parecia ver além das camadas superficiais, que entendia as nuances de seus pensamentos e emoções.

No entanto, a última vez que estiveram juntos havia sido diferente. Ludwig lembrava-se da expressão no rosto de Emily, uma mistura de tristeza e determinação. Ela falara sobre a pressão que sentia em relação ao seu novo livro, sobre as expectativas do editor e o medo de não corresponder ao que esperavam dela. Ele queria ajudá-la, mas não sabia como. Era como tentar programar uma máquina para sentir emoções — um exercício fútil e frustrante.

O telefone vibrou na mesa, quebrando seus pensamentos. Uma mensagem de Max, seu melhor amigo desde os tempos de faculdade. Max era o oposto de Ludwig em quase todos os aspectos: pragmático, otimista e sempre pronto para oferecer uma visão prática da vida. A mensagem era curta e direta, como sempre:

*"Café depois do trabalho? Preciso te contar uma coisa."*

Ludwig digitou uma resposta rápida: *"Claro, às seis no lugar de sempre."* Colocou o telefone no bolso e terminou seu café. Era hora de enfrentar o dia, de mergulhar na rotina que, embora confortável, não conseguia preencher o vazio que sentia.

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No escritório, Ludwig se sentou em sua mesa, rodeado por colegas que já estavam imersos em suas tarefas. Ele ligou o computador e começou a revisar o código que deixara inacabado na noite anterior. As linhas de texto piscavam na tela, e ele se perdeu na familiaridade do processo, ajustando variáveis, depurando erros e otimizando funções.

Horas se passaram num borrão de teclas e números, até que Olivia, uma colega de trabalho, apareceu ao lado de sua mesa. Olivia era inteligente e ambiciosa, com um olhar atento que parecia captar cada detalhe do que acontecia ao seu redor. Ela sempre foi uma presença constante, oferecendo apoio profissional e, sem que ele soubesse, nutrindo uma admiração silenciosa por ele.

“Ludwig, você tem um minuto?” — perguntou ela, com um sorriso que escondia uma preocupação velada.

“Claro, Olivia. O que aconteceu?” — respondeu ele, levantando os olhos da tela.

“Estou com um problema na integração do sistema de pagamento. Poderia dar uma olhada?”

Ludwig assentiu e seguiu Olivia até sua mesa. Enquanto analisava o problema, sua mente vagava de volta a Emily. O que ela estaria fazendo agora? Estaria ela, como ele, lutando contra suas próprias sombras, tentando encontrar um pouco de luz em meio à escuridão?

O dia seguiu em um ritmo constante, uma dança de códigos e conversas casuais, até que o relógio marcasse seis horas. Era hora de encontrar Max e, talvez, descobrir algo que pudesse desviar sua mente dos pensamentos que o atormentavam.

Ludwig fechou o laptop e pegou seu casaco. Enquanto saía do escritório, sentiu o peso das palavras não ditas, dos sentimentos não expressos, pairando no ar. O mundo lá fora estava esperando, com suas próprias complexidades e desafios, e ele estava pronto para enfrentá-lo — ou pelo menos, para tentar.

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O próximo encontro com Emily parecia uma promessa distante, um vislumbre de algo que ele ansiava, mas que não sabia como alcançar. Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas em direção ao café onde se encontraria com Max, Ludwig se perguntou se algum dia conseguiria decifrar o enigma que era sua própria vida.

As sombras da noite começavam a se alongar, e ele sabia que, em algum lugar, a luz ainda podia ser encontrada. Talvez não hoje, nem amanhã, mas em algum momento, ele esperava, a escuridão daria lugar à claridade, e as respostas que procurava finalmente emergiriam das profundezas de seu ser.

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Cute Depressed - A Journey Through EmotionsOnde histórias criam vida. Descubra agora