III

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Quando o brilho se perde e a chama se apaga, ao chegar os tempos de frio, quem irá te aquecer?

Deitado em sua cama, Yamaguchi sentia o corpo inteiro doer e o estômago roncar. Mas a vontade de se levantar era praticamente nula.

Enquanto encarava o branco do teto, sua mente se tornava cada vez mais deprimida, voltando a memórias do passado que o rapaz gostaria de manter longe.

Queria poder apagar de sua vida aquela época, época que o fez tão feliz, para depois o destruir.

As imagens vívidas de seus momentos junto de sua noiva passavam como um filme por sua cabeça, fazendo seus olhos lacrimejarem. Os passeios no parque, as tardes assistindo a filmes enquanto comiam algum lanche e dividiam uma garrafa de refrigerante. Lembrar de tudo aquilo só o fazia sentir pior.

Yamaguchi queria acreditar que era o tempo quem curava todas as feridas, mas parecia estar demorando tanto para acontecer.

Quanto mais tentava esquecê-la mais lembrava-se dela e isso era torturante. Em cada canto da casa que olhava, cada tela que pintava, cada palavra que escrevia, tudo o lembrava dela. Havia sido tão feliz ao lado dela, onde errou para que fosse abandonado?

Yamaguchi se perguntava isso todo santo dia, qual foi o erro que fez sua amada partir. Mas, apesar de tudo que se passava em sua mente, ele não conseguia chegar a uma resposta concreta.

A verdade é que ele desejava uma resposta reconfortante, que o dissesse que a culpa não era dele, que ele não era enjoativo ou entediante, porém, no fundo de sua consciência, ele sabia que a realidade era aquela, ele simplesmente era entediante e não soube fazer seu amor durar, ou sequer ser feliz.

Toc-toc.

As batidas na porta o fizeram sair de seus pensamentos deprimentes.

Quem seria? Yamaguchi não estava esperando ninguém.

Mas não era preciso muito para adivinhar quem estava ali atrás, probabilidade seria facilmente dispensada, já que as únicas opções eram:

Tsukishima Kei e Kei Tsukishima.

O que resultaria na mesma pessoa no final das contas.

- O quê você tá fazendo aqui?

- Estranhamente, senti que talvez você precisasse de companhia e... de uma sopa para ressaca?

Proferiu o mais alto, incerto de sua motivação para estar ali.

Yamaguchi o encarou por um tempo, tentando entender se aquele homem a sua frente era algum daqueles personagens que adivinham o futuro ou lêem pensamentos.

Então, em um suspiro, ele respondeu:

- Tudo bem, entre.

E caminharam sala adentro.

Jogados no sofá, Tsukishima observava enquanto o mais novo comia a sopa que trouxe, se perguntando se ele estava bem. Sua aparência havia mudado, estava mais magro e cabisbaixo, além das olheiras profundas. Aquilo o fazia se sentir mal, não queria ver o amigo naquela situação, mas também não sabia o que fazer para ajudá-lo, tudo o que tinha para oferecer era sua companhia.

Então apenas ficaram lá, em silêncio, na companhia um do outro.

Eles eram amigos de longa data e já haviam passado por muitas coisas juntos, Yamaguchi estava junto quando o outro foi chamado para fazer parte da seleção nacional de vôlei e Tsukishima viu o amigo ficar noivo de sua antiga colega de time. Yamaguchi também viu, ao vivo, quando Tsukishima se lesionou no jogo, acabando por não conseguir mais jogar e esteve lá por ele quando o mesmo precisou. Tsukishima também presenciou Yamaguchi ser abandonado no altar, viu a forma como o amigo ficou mal e, tentou ao máximo consolá-lo, ficar ao seu lado, mas não é fácil confortar alguém que acabou de perder o seu amor.

Tsukishima tentou até mesmo ir atrás da amiga, tirar satisfação do porquê de ter feito aquilo com Yamaguchi, mas para a sua surpresa, não conseguiu encontrá-la, ou foi o que contou para o rapaz.

- Como você tem estado, conseguiu terminar aquela encomenda?

- Estou pensando em passar para outra pessoa, talvez o Shin consiga continuar ela... não sei se eu consigo terminar.

O rapaz explicou que estava passando por um bloqueio criativo e não tinha certeza se conseguiria terminar uma pintura que lhe foi pedida.

- Por que você não tenta rever o prazo? Talvez a pessoa aceite esperar um pouco mais.

- É, você pode estar certo...

Depois disso, os dois apenas ficaram em silêncio, prestando atenção em qualquer programa aleatório que passava na televisão.

Yamaguchi não sentia mais certeza em suas ações, e desconfiava que não conseguiria pintar nada tão cedo, não que ele não acreditasse em seu potencial, pelo contrário, ele sabia que era bom no que fazia, mas sua visão de mundo estava tão monótona, tão cinza e para baixo, que o rapaz perdia a coragem só de pensar em pegar nas tintas.

Estava passando pelo tão famoso, e temido, bloqueio criativo. E nada o deixava animado para tentar sair deste...

XXX XXX ~ Te

Oi

É o Terushima

Desculpa ter te mandado embora tão cedo

Quer vir aqui amanhã?

Uns amigos meus vão vir também

Nós vamos jogar

Momento de lástima...

Yamaguchi ~

Oi

Pode ser

Eu vou sim

:)

Pelo menos nada dentro de sua casa.

Nós no Estômago - (TeruYama - TsukkiYama)Onde histórias criam vida. Descubra agora