Se Eu Como

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Ligação de voz 01:37

De tanto andar, meus pés estão doloridos.

– Onde você disse que o restaurante fica mesmo?

– Pedro, você é tão burro assim? – meu melhor amigo, Gabriel, ri do outro lado da linha.

São onze horas da noite e eu estou perdido em uma praça de alimentação.

O meu telefone que eu sempre esqueço de colocar na tomada, está sem bateria.
Que novidade...

– E se eu for? – caminho para lá e para cá, com os ouvidos grampeados no alto falante no celular.

– É por isso que eu não te chamo pra sair. – Gabriel responde, implicante como ele sempre é.

– Haha. – forço uma risada. – Muito engraçado.

Sem querer dar uma de Chico Bento, mas eu sou mais fã dos lugares mais simples. Mas Gabriel insistiu que saíssemos para comer em um lugar diferente. Um lugar especial.

Eu achei estranho, já que não nos vemos já faz um tempo.

Mas preciso espairecer a mente.
Os dias tem sido todos iguais.

– Eu já to chegando. – Gabriel diz, mas a sua voz falha. Significa que o meu celular vai desligar... – Me espera do lado do-

E... desligou.

Não acredito que fui tão burro e preguiçoso o suficiente pra não fazer algo tão básico que é só conectar o meu carregador na tomada.

Olho em volta, reviro os olhos. Pressiono o botão de ligar na esperança que meu celular dê algum sinal de vida, mas a única coisa que aparece é a bateria vermelha.

Sou um homem tímido, mas não tô no clima de ter que passar a noite sozinho em um shopping.
Então, nos comércios mais vazios, pergunto um por um se alguém tem um carregador para me emprestar ou... sei lá.

E todas as respostas são um grande "não". Uns mais gentis, outros mais ríspidos. Com razão.

Olho para um relógio na parede.

23:14

Suspiro pesado.
O último estabelecimento que me resta é um bar.

Como quem não quer nada... lá vou eu.

– Desculpa incomodar... – inicio, envergonhado. – Você tem algum carregador para me emprestar? – com certeza, minhas bochechas estão ruborizadas.

O atendente nega com a cabeça.
Eu resmungo, mas sorrio genuinamente pela paciência.

Sentado em uma cadeira desconfortável, apoio os cotovelos no balcão. Inflo os peitos e me pergunto "Caralho, o que eu faço agora?"

Olho para cima.
Leio o letreiro colorido e lembro que estou em um bar.

Não mata beber um pouco para desestressar... não é?

– Então... com licença! – exploro os dedos no mármore do balcão, sorrindo mais uma vez. Adiantado, deixo algumas notas no valor do meu pedido. – Eu vou querer uma tequila, por favor.

Pejão OneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora