Bonequinha de Luxo

219 37 118
                                    


Luxúria:
substantivo feminino
1. RELIGIÃO: segundo a doutrina cristã, um dos sete pecados capitais.
2. viço, magnificência [...]

1989, Minas Gerais.

No coração de um reino, a noite veste veludo cor preto e as sombras dançam com a iluminação das estrelas.

A celebração do aniversário de coroação da monarca pulsa pelo castelo. A energia, a riqueza, os esnobes, a tradição. Tudo isso é tão lindo.

A luxúria é bonita.

O salão real nunca esteve tão populoso. Os soberanos, os nobres, condes(sas), servos, cavaleiros [...] ecoam múrmuros pelas paredes adornadas com cortinas de expansivo valor. Múrmuros esses que provavelmente eram segredos da alta sociedade, compartilhando-os grotescamente uns com os outros como um simples aperto de mão.

Pedro Palhares odiava tudo isso.

Nascido em berço de ouro, ele é o personagem intruso em uma peça de teatro. O eco desafinado de uma sinfonia orquestrada.

Em um mar de opulência, Pedro estava na ilha. Sozinho, no terraço do palácio, umedecendo os beiços com vinho do maior teor alcoólico possível.

Ele nunca gostou de beber. Na verdade, ele nunca gostou do que as pessoas são quando bêbadas: elas mesmas.

Uma vez, em algum lugar, ele leu que a bebida mostra o que está trancado a sete chaves na alma.

Ele pensa nisso mais do que deveria. Ele só não entende o porquê.

Debruçado, sozinho, embriagado, mas nem tanto. Ele bebe mais um pouco e conta as estrelas no céu. Mas ele sempre perde as contas, elas são muitas.

Ele perdeu a conta das estrelas mais uma vez.

À sua esquerda, um movimento chama a sua atenção. Uma mulher.

Na verdade, um homem.
Um homem... vestido como uma mulher.

Pedro pensou que estava louco. Ele nunca tinha visto esse homem na vida.

Ele trajava um vestido preto, longo e apertado, que desenha o seu corpo largo e esguio. Era como uma segunda pele. Cabelo loiro e cortado. Luvas pretas aveludadas e jóias exageradamente tão brilhantes quanto as estrelas que antes contava nos céus, mas não o suficiente que ofuscasse a beleza da sua existência.

Quem era ele?

Ele carregava consigo um isqueiro em formato de batom vermelho e um maço de cigarros; e escolheu um deles, qualquer um. Então, encolheu os lábios, o posicionou entre as paredes da boca e respirou.

Ele apertou o isqueiro duas vezes, visto que na primeira tentativa a chama foi falha; bufou estressado. Em mais uma tentativa, finalmente, conseguiu queimar o cigarro.
Comemorou internamente e revirou sutilmente os olhos em satisfação.

Ele debruçou os braços na mureta, incomodado com o acúmulo de poeira.

Pedro, também encostado, estava obcecado. Ele não conhecia o rapaz, seja ele da alta elite, dos nobres ou os seus convidados exagerados. Mas ele era tão luxuoso quanto todos eles.

O loiro puxa e solta a fumaça com a mesma facilidade que pessoas mastigam.

Seu rosto é celebrado pela luz da lua tão sublime quanto o banhar do sol no fim da tarde.

Qualquer um perceberia que Pedro estava fascinado com o homem ao seu lado, mesmo que tentasse disfarçar de um jeito ridículo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 23 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Pejão OneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora