Ken

15 1 0
                                    

Ken's POV
Lá estava eu, queimando.
Eu podia sentir cada célula minha morrer sendo corroída, isso não deveria acontecer, desde que recebi a bênção do fogo meu corpo é imune às chamas.
Paro para prestar mais atenção, o que estava me queimando não era fogo, fogo normal não era. Era negro, e não queimava como o fogo, essa chama negra que era quase gelada carcomia minha pele.
A dor era extremamente horrível , estava gritando e me contorcendo de dor, a agonia tomava conta de meu corpo. Começo a me debater contra o chão e quando já estou desistindo de lutar por minha vida, acordo.
Novamente o mesmo sonho, venho tendo ele a uma semana já, não contei ao mestre Etsuo, não acho que devo preocupá-lo com apenas um sonho, ele não ligaria se fosse outra pessoa mas eu sei que comigo seria diferente, eu reparo em como ele é grosso e arrogante com outras pessoas, até mesmo com Arisu as vezes, apesar de ela ser uma das poucas pessoas por quem ele tem um pouco de carinho além de mim.
Moramos num templo no Japão, totalmente isolado de qualquer civilização, bem ao lado de uma caverna subterrânea com um lago de lava, que é onde eu treino e também passo a maior parte do meu dia lá, mesmo se não estiver treinando.
Chego na sala de estar e não vejo ninguém, que bom, não estou mesmo afim de ter que ser legal com alguém depois dessa droga de sonho.
Apenas me sento à mesa e tomo um pouco de chá. Minutos depois mestre Etsuo surge da porta de entrada do templo que se encontrava aberta pois não gosto muito de ambientes fechados.
- Já acordado? Eu sai para caçar com Arisu.- Uma bela moça de cabelos loiros e longos presos em um rabo de cavalo, olhos azuis como safiras e aparentemente vinte anos aparece segundos depois de meu mestre acabei de falar.
- Não brinca! Você prometeu que ia me levar para caçar depois de semana passada.- digo quase gritando com ele.
- Primeiramente se dirija a mim como mestre Etsuo, não como "você" seu moleque! E não te levei por que não quis, então nem venha com aquele blá-blá-blá de " Eu sou forte o suficiente para ir para a floresta caçar com você mestre" porque eu sei muito bem que você é forte o bastante, não te levei pois queria ir rapidamente, passar o mínimo de tempo na floresta. Temos um assunto importante para resolver hoje.
- Que assunto?- pergunto num tom de voz mais baixo desta vez.
-Bom, hoje, você irá receber sua herança bruta do fogo.- diz ele em tom sério mas dá um sorriso no final.
Estou em choque, depois de tanto tempo esperando por esse dia nem acredito que chegou! Eu nunca soube como é a arma mas mestre Etsuo sempre me falou que ela é muito poderosa, que é um mito da história dos elementais do fogo.
Etsuo da uma gargalhada alta e me leva até uma passagem secreta que havia debaixo de um tapete em um lugar que nunca tinha explorado muito no templo. A passagem da em uma sala escura com o chão e paredes de pedra esculpida.
- Deixe-me dar um jeito na luz. - diz Etsuo.
Ele ergue uma das mãos na altura de seus ombros e sua mão se incendeia com uma reluzente chama alaranjada.
- Vamos Ken, me ajude.- fala Etsuo.
Bom, agora deve ser um momento de concentração, devo esfregar as palmas de minhas mãos uma na outra para produzir calor, e com o calor produzir fogo. Vejo que estou obtendo sucesso pela minha mão que começa a adquirir uma cor amarela alaranjada fúlgida. Em segundos a chama ascende e toma conta de toda minha mão direita.
- Muito bem, conseguiu uma chama bem alta em sua mão inteira - Ele bate palmas com sua mão ainda pegando fogo - bom vamos em frente.
Era um grande salão com várias estátuas de homens e mulheres.
- O que são essas pessoas?
- São todos antigos elementais do fogo, você faz parte da vigésima primeira geração dos elementais.
Eu olho de cima a baixo cada uma das estátuas. Algumas robustas e carrancudas, outras com expressões felizes e ainda outras meio tristes. Quando chego a última estátua, me deparo com um homem corpulento, cuja os cabelos negros ajustavam-se na altura um pouco abaixo de seus ombros, usava um kimono vermelho que o cobria até os pés. Este homem era meu mestre Etsuo, parecendo mais bem disposto do que nunca, não que ele não fosse mais assim, mas com o tempo, mesmo não envelhecendo por ter ganhado a bênção da imortalidade, era visível sua falta de disposição, ele parecia bem enferrujado.
- Como o tempo vooa, mesmo quando se é imortal - ele ri de si mesmo como de costume sempre quando ele faz uma de suas piadas.
- Um dia terei uma estátua minha aqui? - pergunto curioso pois não conseguia incorporar a ideia de ter uma estátua comigo esculpido nela.
- Com certeza. Afinal você é um elemental, um dia você estará aqui, depois o seu aprendiz, e depois o aprendiz do seu aprendiz é assim a diante. Bom, não viemos até aqui para observar estátuas não é mesmo.
Com toda essa nova informação para minha mente consignar quase acabo me esquecendo do que eu vim fazer aqui em baixo.
Passando pelo salão das estátuas, entramos em um grande salão, ainda no mesmo estilo de pedra esculpida, mas bem maior que a outra sala, essa tem pilastras, um teto abobadado e tudo mais.
No final desse salão, encontra-se, sobre um apoio de pedra polida, uma espada, esguia e anavalhada, toda detalhada artisticamente. O punho era preto com detalhes prateados, e a lâmina era preta no vinco e prateada no gume. Era a arma mais bela que já tinha visto.
Andamos até ela e mestre Etsuo a pega e a olha nostalgicamente.
- Está meu filho, é a espada do fogo de Dhrakor, o primeiro elemental do fogo, que foi quem a fez. Ela é forte como uma obsidiana e afiada como uma navalha - ele para e anuncia que vai começar a fazer o ritual.
-Eu, Etsuo, o vigésimo elemental do fogo, passo a herança bruta do primeiro elemental do fogo, para meu aprendiz Ken, o vigésimo primeiro elemental. Que a chama sempre o ampare e sirva-te em todos teus momentos de estorvo, e que tu, elemental do fogo, sempre honre e preze pelo bem de seu elemento.
Assim que ele termina, ele coloca a espada em minhas mãos. Nunca me senti tão prestigiado em minha vida.
Depois de tudo isto, subimos de volta para o templo, e vou para meu quarto. Lá, guardo a espada em um lugar seguro e me deito um pouco. Agora sim, me sentia um elemental completo. Fico acariciando meus fios de cabelo ruivos até pegar no sono novamente.

ErementaruOnde histórias criam vida. Descubra agora