Capítulo IV

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Aviso da autora : Agora sim o livro ficará tenso. Por isso a classificação indicativa dele é 14+. Mas não se preocupem, não ocorrerá nada explícito.
Apenas retratará a triste realidade do século XVI, mas que até hoje ocorre com muitas meninas e mulheres.  Assuntos sérios devem ser retratados na arte/literatura para conscientização, para deixarmos de normalizar certas coisas.
Dito isso, tenha uma boa leitura consciente. 🌱

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No dia seguinte, Heidi estava varrendo o chão. Katharina entrou no quarto. 

— Heidi? Posso lhe confidenciar uma coisa? — ela perguntou. Heidi largou a vassoura e sentou-se. 

— Conte — disse a garota. Katharina olhou para os lados. 

— Decidi que vou me casar — ela disse.

— Casar? Com quem? — perguntou Heidi. 

— Martinho Lutero. Estou disposta à isso. O único homem que amei se foi — respondeu Katharina.  Heidi a olhou. 

— E o que será de mim? Estarei sozinha? — perguntou. Katharina acariciou o rosto da pequena freira. 

—Você nunca estará sozinha, minha pequena.. Eu a acolhi quando você tinha apenas 3 anos e foi deixada naquele convento. Nunca vou te abandonar— ela sorriu.  Katharina logo riu. 

— Aliás, você vai posar para um retrato de Cranach — ela acrescentou. Heidi ficou surpresa.

— Eu? Oh, que maravilha — riu Heidi. Logo, Heidi vestiu-se para posar para o retrato. Usou uma pequena rede de cabelo vermelha. Seu vestido era azul com detalhes dourados e pretos. Ela desceu as escadas e se deparou com Melanchthon.

— Melanchthon! Olá — ela sorriu. 

— Olá, Heidi! Você está.. Encantadora — sorriu Melanchthon, meio desajeitado. Ficaram um tempo em silêncio. 

— Você cantou de forma belíssima ontem. Sua voz lhe destacou no meio das meninas — ele acrescentou. Heidi ficou corada. 

— O que veio fazer? — ela perguntou, com curiosidade.

— Vim te ver — disse Melanchthon. Ela ficou mais envergonhada. 

— Aliás, você gosta de animais? Um passarinho me contou que você vai posar com um cordeiro. Um filhote de cordeiro nos seus braços— ele acrescentou. 

— Um filhote de cordeiro? Oh que fofo— ela sorriu, entusiasmada. Melanchthon fez um pequeno carinho nos cabelos loiros de Heidi.

— Sim. Por isso mesmo vou te chamar de “pequena ovelhinha”. Você vai ser minha pequena ovelhinha— ele riu.  

— Heidi! Venha! — gritou Lucas Cranach.  Heidi correu apressada à pequena sala, onde posou para a pintura.  Heidi fez uma pose delicada e olhava para a janela, onde vários flocos de neve caíam. 

— Posso me levantar, Mestre Cranach? — perguntou Heidi. Com um aceno positivo, Heidi correu até a porta.  Encontrou com Wolfgang.

— Heidi, certo? — perguntou o homem.  Heidi o olhou com desconfiança.

— Sim.. E você? — perguntou.

— Wolfgang Zvardett, querida. Seu futuro esposo — ele sorriu. Heidi ficou em choque. 

— Meu o quê? — ela perguntou. 

— Seu esposo. Acaso Cranach não te contou? — ele perguntou.  Heidi começou a ter os olhos cheios de lágrimas. Queria fugir dali. Havia sido “vendida” a outro homem, um homem que não conhecia e sequer amava. 

— Não tenha medo, meu bem. Serei o mais gentil dos esposos. É só cumprir bem sua função. Me dar uma numerosa família. Não se intrometer no meu trabalho, não se deitar com outros homens além de mim.. Me permitir ter as distrações, essas coisas — ele deu um riso diabólico.  Heidi ficou assustada. Ninguém nunca havia lhe dito sobre relações conjugais, muito menos sobre processo de criação de filhos ou parto, ou sobre casos extraconjugais.  Ele ia se aproximando de Heidi até ela ficar sem saída, encostada numa parede. 

— Não toque em mim! Pelo amor de Cristo, não toque em mim!— chorava Heidi.  Wolfgang segurou ela pela cintura com uma mão e com a outra deslizou seus dedos pelos fios loiros. 

— Fique calma.. Não seja tão tímida. — ele disse. Ia avançando o rosto para perto do dela. Heidi, num impulso, o empurrou e tentou sair correndo, mesmo sendo seguida.

— Socorro! Socorro! Doutor Lutero, Doutor Lutero, me ajude! — gritava Heidi, tentando bater na porta do escritório de Cranach, onde Lutero estava.  Wolfgang a segurou pela cintura. Heidi ficou em desespero. Estava presa nas mãos asquerosas daquele homem, que era muito mais forte que ela. Sabe lá Deus o que aconteceria, mas a porta dos fundos abriu. Saíram de lá Katharina, Melanchthon e Bárbara Cranach. Wolfgang soltou Heidi com delicadeza. 

— Está tudo bem? Ouvimos uns gritos do andar de cima. — perguntou Katharina, assustada.  Melanchthon ficou em silêncio, analisando o caráter de Wolfgang com os olhos, como se quisesse matá-lo. 

— Esse.. Esse.. Ele tentou.. — disse Heidi, tentando articular as palavras, mas não conseguia devido às lágrimas. 

— Eu estava apenas tentando chegar mais perto de minha noiva, mas ela começou a ter essa reação. Mas eu entendo, é apenas uma donzela, de certo não teria toda uma noção sobre nosso casamento — respondeu Wolfgang.  Melanchthon e Katharina ficaram confusos. Ele simplesmente havia chamado Heidi de “minha noiva”. 

— Por favor, Bárbara. Diga que isso é mentira — choramingava Heidi, assustada por aquele homem. Ela abraçou Melanchthon, numa tentativa de se apoiar para que não caísse. 

— Alguém pode me explicar o que diabos está acontecendo? — perguntou Melanchthon, meio que indignado. Bárbara Cranach sorriu. 

— Simples : o retrato de Heidi foi feito para que fosse mostrado à Wolfgang, que se dispôs a se casar com ela. Mas por um acaso do destino, ele veio até aqui — respondeu.  Wolfgang continuava encarando Heidi.

— Não… não.. Só me caso com esse monstro quando eu estiver morta — gritou Heidi, entrando pela porta dos fundos, que levava à casa de Cranach. 

Melanchthon ficou sem reação. Simplesmente Heidi, o seu pequeno anjo, ela.. Seria dada em casamento a um outro homem. O pior : pelos gritos perturbadores que havia ouvido quando estava no andar de cima (gritos que, obviamente, vinham de Heidi), ela ia casar com um homem que com certeza tentou fazer alguma das piores barbaridades possíveis com a pobre criança. Ele não hesitou e foi atrás dela.

Meu Querido MelanchthonOnde histórias criam vida. Descubra agora