ideias suicidas

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Coisas, coisas, e mais coisas. Eu realmente tenho mais coisas para fazer, planejar e decidir do que esperava quando aceitei fazer parte da comissão da festa de encerramento anual da universidade desse ano. Essa definitivamente foi uma das piores ideias suicidas que eu já tive.
Ideias suicidas aparecem naqueles fatídicos momentos onde você está em um pico de confiança e alegria, que geralmente dura entre dez e quinze minutos, onde sente que pode fazer, ou participar, de algo grande e importante que marcará sua história de vida para todo sempre. É aquela ideia em que você sente em seu âmago que meia hora depois trará arrependimentos, o tipo de presepada que você sabe que vai foder seu cu sem dó em um futuro próximo. E foi em um desses picos de confiança, após maratonar mais uma temporada de Bridgerton, que eu me senti a Lady Whistledown do centro oeste brasileiro e resolvi me meter em uma das maiores dores de cabeça que já tive durante minha vida acadêmica.
A festa de encerramento de ano é quase como todas as outras festas universitárias por aí, as únicas diferenças são a obrigatoriedade de um tema para cada ano e o comitê de organização que não é ligado às atléticas.
Viram meu erro aí, né? Tema para cada ano, as festas de encerramento são temáticas e justamente por isso atraem muita gente, sendo a mais esperada aqui da região. E foi nesse pecado que caí de boca, meus amigos, por um minúsculo momento de muita inspiração, em uma quarta feira à tarde, eu jurei que poderia trazer os bailes super produzidos da Netflix para, segura o coração, MATO GROSSO DO SUL.
E agora estou eu aqui, acabada, cheia de trabalho atrasado, triste, capenga e arrependida saindo de mais uma das reuniões do comitê.

Alissa? Em que tanto pensa parada aí? — E só quando minha colega de apartamento que também faz parte da organização, Ema, chama minha atenção, é que percebo estar estática no corredor

Só... Refletindo algumas coisas — Dou um sorriso simples

Ema é minha colega de apartamento, mas a história é engraçada. O pai dela é ricaço, dono de não sei o que e mais um monte de não sei o que lá, mas não confia em sua própria filha para viver sozinha em um apê. Nas primeiras semanas de aula do curso nós acabamos conversando um pouco, eu a ajudei com dúvidas que tinha sobre a cidade — A loirinha é do interior de São Paulo —, ela muito feliz contou ao seu pai e três semanas depois recebi um caloroso convite para dividir um apartamento com a dondoca.
Como a jovem responsável que sou, obviamente aceitei a proposta do velho rico, digo, senhor bem avantajado de posses e capital, e me mudei para o conjunto de prédios na área universitária. O senhor Emo — o chamo assim pois nunca lembro o nome desse querido — quer que a filha tome um pouco de consciência social e pessoal, então deixou a herdeira morando com os pobres estudantes fodidos. Poético.
Ema é uma verdadeira patricinha egocêntrica, me trata bem mas muitas vezes sinto ser apenas por obrigação, já que fui trocada assim que ela conheceu as calouras de medicina. Tem dias que ela sequer dorme em casa, me mandando apenas um aviso de onde passará a noite como se eu fosse sua babá. E pelo perfil brevemente traçado da garota em questão, vocês já podem imaginar que ela ficou maluca quando soube que poderia participar da banca de organização da festa.
Mas pelo menos eu não pago aluguel. Isso é o que verdadeiramente importa.

Chegamos em casa e eu não presto atenção em nada do que ela diz, só quero minha cama e o resto de pizza que tem na geladeira.
Deito na cama, tiro meu chinelinho do pé e pego meu celular para ver uns memes ruins e aliviar meu dia e...
102 MENSAGENS DE TEXTO?! Colocaram fogo na reitoria e eu não to sabendo?
Checo as mensagens e penso que preferiria de todo meu coração que tivessem tacado fogo no reitor, porque 102 mensagens do meu colega nada agradável de turma é a última coisa que eu esperava.
Jeon JungKook está em total desespero no meu WhatsApp, me perguntando onde estão as malditas fotos que tiramos ontem a tarde para um trabalho de fotografia.
JungKook e eu temos uma história interessante. Estudamos o ensino médio inteiro juntos, e ele me odeia pois nunca o defendi dos alunos que faziam bullying com ele. Nunca entendi o que ele esperava que eu, outra excluída do ensino médio com míseras duas amigas, fizesse sobre seu caso. Nunca ri dele ou compactuei com as piadas e brincadeiras de mal gosto que faziam apenas por ter sido bolsista e três anos mais velho que o restante da turma — e me choca que esse tipo de gente escrota ainda exista —, eu inclusive também era bolsista, mas felizmente nunca pegaram no meu pé. Acho que JungKook esperava uma união dos bolsistas em prol da justiça social num colégio de elite, mas infelizmente para ele eu apenas estava interessada em ser a figura mais invisível daquele lugar. Mas a parte mais interessante de nossa história, em minha opinião, foi termos escolhido o mesmo curso.
O curso de Grandes Artes Avançadas, Clássicas e Ciência Artística é inédito aqui na região, tendo apenas em pouquíssimas idades do sul e sudeste. O vestibular foi concorrido, os professores são todos de fora do estado e o curso já é referência na educação acadêmica do país. Eu realmente pensava que JungKook iria para um curso comum elitizado, como medicina, pois ele é muito inteligente; então foi uma verdadeira surpresa quando o vi na minha turma de Artes.

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⏰ Última atualização: Jun 24 ⏰

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