Uma loira bêbada

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Já era quase meia noite e ela ainda tava lá, uma moça alta e muito bonita de cabelos cacheados loiros com as pontas tingidas de rosa. Eu achei que ela era só mais uma cliente normal, por mais que eu estranhasse que ela estivesse ali sozinha. Já fazia mais de 3 horas e ela permanecia ali, bebendo cervejas e às vezes pinga. Não pude deixar de me sentir preocupada. Eu era só a garçonete desse bar velho e com cheiro de mofo, mas eu também queria ir embora, eu precisava ir. Meu namorado já tinha me mandando várias mensagens e me ligado 3 vezes e ele não era o namorado mais compreensível do mundo, então eu tinha que ir embora o mais rápido possível, não queria nem pensar no sermão que eu vou levar dessa vez. Eu não queria parecer chata, porém meu único obstáculo naquele momento era ela. Reuni minha coragem e necessidade de ir embora e decidi ir até ela e pedir educadamente para sair, já que estávamos fechando.

— Moça, com licença... — Tento deixar o tom da minha voz o mais amigável possível, não quero começar uma briga desnecessária. Percebo seu olhar cansado e com um delineado borrado olhar para mim, provavelmente se questionando o porquê de eu estar ali sem a mesma ter me chamado. Ela só me responde curta e grossa "Oque você quer?" E isso basta pra eu morrer de vergonha. Tento reunir minha coragem de novo, porém ela parece ter sumido, mas daí eu lembro do meu namorado me esperando e ela volta.

 — É que estamos fechando moça.

— Quanto ficou? — Ela diz se levantando da cadeira e abrindo sua bolsa. Percebo que ela é realmente muito alta, talvez por causa do salto, ela passa um ar intimidador.

 — Ficou cento e noventa e dois reais, e noventa centavos.

Vejo sua feição mudar rapidamente, com os olhos arregalados e a boca entreaberta, parecia completamente desacreditada. Com aquela expressão engraçada não pude deixar escapar uma pequena risada.
Ela pergunta o Pix e eu passo a chave, depois de me mostrar o comprovante e pagar ela saí do bar com um andar desengonçado e tropeçando. Com o coração apertado, começo a observá-la, parece que ela vai atravessar a rua agora. Vejo ela avançando para ir, mas também percebo um carro em alta velocidade vindo em sua direção. Apavorada, nem pensei em mais nada, só comecei a gritar alto, tentando chamar a atenção dela pra mim. Mesmo com a minha voz alta, ela parece não ter me escutado. Nem penso muito, resolvo correr até ela. O carro aparenta estar mais perto a cada segundo. Rapidamente puxei seu braço a trazendo para calçada. Com ela finalmente segura, eu pude soltar o fôlego, nem percebi que havia prendido a respiração. Olhei pra mesma e ela estava agachada vomitando, provavelmente porque tinha misturado cerveja com pinga. Sinto uma vontade enorme de ajudar e proteger essa moça, não entendo o porquê e nem oque me faz sentir isso, nunca a vi na vida, mas quero ajudá-la. Coloquei minha mão esquerda em suas costas, para tentar passar um sentimento de conforto.

— Você está bem? Precisa de ajuda? — A questiono com um aperto no peito. Era nítida a minha preocupação. Era óbvio que ela não estava bem, porém perguntei só pela educação. Sem resposta... acho que está mal demais para isso.

— Fica aqui, vou trazer um copo d'água — Lhe peço educadamente antes de entrar no bar.
Saio com uma garrafinha e com um copo d'água, melhor prevenir do que remediar né. Ela pega o líquido e começa a beber, como se estivesse desesperada por aquilo. Confesso que achei um pouco engraçado, já que a minutos atrás a mesma estava bebendo álcool igual uma mula no deserto.
Um toque começa a sair do meu celular, e meu toque de chamada, olho pra tela e vejo escrito "Meu amor". Será que eu atendo? De um lado eu tenho meu namorado bravo, implorando pra eu ir embora, do outro tem uma moça que eu nao conheço, bêbada e sozinha. De repente lembro de algo, meu Deus... Se ela for pra casa assim, nem quero imaginar oque pode acontecer com ela na rua, como mulher e como uma pessoa com consciência, não posso deixar ela ir embora sozinha. Me desculpa Felipe, você vai ter que esperar mais um pouco, não vai morrer por causa disso, mas talvez eu sim...

Depois de esperar alguns minutos, resolvo perguntar onde a moça mora. Não é muito longe da minha casa, o que é bom, mas também é ruim porque eu vou ter que levar uma mulher que está embriagada, duas mulheres sozinhas a noite, indefesas, não dá pra pensar em coisa boa, ainda assim não posso deixar ela aqui é muito perigoso.

— Porquê tá me ajudando?— ouço a cacheada me questionar com a cabeça baixa.

— Porque é perigoso deixar uma dama como você ir embora assim a noite. Como mulher eu entendo esse perigo.
A vejo curvar sua boca em um meio sorriso.

Depois de finalmente chegarmos a casa dela, observei ela pegar suas chaves, abrindo o portão.
Acho que agora e a despedida...

— Acho melhor eu ir, tá muito tarde— Digo com um sorriso em meu rosto.

— Qual seu nome?— me perguntou, dessa vez me olhando com seus olhos profundamente negros borrados de maquiagem.

— Elena, me chamo Elena e você?

— Hannah. Queria te agradecer Elena, desculpa por fazer você vir até aqui.

Hannah? Que nome bonito! Me lembra da primavera.

— Não tem problema, eu não me importo com isso —
Tirando o fato de eu ter um homem muito bravo em casa, eu não tenho problemas em ajudar quem precisa.

— Bom... Então tchau — ela diz já se preparando para entrar em casa.

— Tchau Hannah — Me despeço com um sorriso no rosto.
Depois dela fechar o portão, comecei a andar. Liguei a tela do celular e lá estavam "12 chamadas perdidas de Meu amor". Que ele não brigue tanto dessa vez. Agora eu vou ter que enfrentar outra coisa... Ir embora sozinha à noite.

Depois de finalmente ter chegado na minha casa com segurança, me preparei pra entrar. Tentando o máximo pra não fazer barulho. Com as mãos suadas e o coração acelerado, adentro minha residência caminhando até a sala.
E lá estava ele, camisa de gola branca, calça moletom preta, cabelo preto liso. Com aquele olhar forte, que tanto me assusta, que eu tanto conheço, sobrancelhas franzidas, os punhos cerrados e com uma garrafa de cerveja na mão.
Eu sei que não e normal ter medo do namorado, mas às vezes fico pensando se os outros homens tratam suas mulheres assim.

— Porque demorou tanto? — Ele questiona com uma voz rígida.
Meu corpo começou a tremer, minha respiração ficou mais rápida e meu rosto estava pálido.

— Eu tive problemas com uma cliente, ela estava bêbada e eu fui ajud...

— Para de mentir! — Me interrompe.

— Quando eu permiti você ter um emprego, eu deixei bem claro que era pra chegar cedo!

— Não tô mentindo, é sério!

— Me aborrece sabe? Você mentir desse jeito, quando eu tô aqui, lutando por nós dois, suportando aquele emprego sozinho! Quando tudo que você faz é ficar aqui em casa, sem fazer nada, porque até quando eu chego nem comida pronta tem. E oque eu ganho em troca? Uma mulher preguiçosa. Sabe quantas vezes eu te liguei? Te mandei mensagem? — Disse, aumentando o tom de voz.

Começo a me sentir culpada, hoje perdi a noção do tempo arrumando meu guarda-roupa e não consegui deixar a janta pronta. O dono do bar, o Senhor Luís. Ele já tá velhinho, não pode atender os clientes direito. Eu tenho medo que ele se machuque, então não gosto de me atrasar pro trabalho.

— Me desculpa, prometo que não vai acontecer de novo — Coloco minha mão no seu braço.

— Espero que cumpra dessa vez, da próxima vez já sabe... — Afirmou um tom ameaçador que eu conheço muito bem. Pude sentir seu bafo de cerveja em meu rosto. Depois disso ele saiu da sala, Finalmente pude respirar normalmente de novo.










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