Segunda-feira, o pior dia da semana. Você acorda com preguiça, dor de cabeça e vontade de se "desviver".
A pior parte é perceber que você tá viva e que tem casa pra arrumar, uma vida pra viver e um emprego pra trabalhar. Talvez eu esteja sendo dramática? Sim, mas sinceramente? É segunda.
Já me levanto com toda pouca vontade que eu tenho e começo a ajeitar as coisas.
Indo pra cozinha me deparo com um maço vazio de cigarro encima do balcão.
Felipe... Ele sempre fumou, mas não tanto assim. Isso é sinal de gente viciada, tenho medo que ele se perca, no álcool, fumando e gastando todo o dinheiro.Ontem mesmo, depois que Hannah me trouxe pra casa, eu entrei e ele estava me esperando sentado no sofá da sala, com uma cerveja apoiada na mesa de madeira e com aquele olhar assustador de sempre...
"Porque demorou tanto?" Seu tom de voz saia frio e ele não tirava seus olhos de mim.
E agora? Oque eu iria responder? Que
uma mulher que eu mal conheço me ajudou?
Com certeza não iria acreditar, cabeça
dura do jeito que é."E que a chuva me pegou no caminho e eu esperei diminuir, pra não molhar as compras" Solto as sacolas no chão, estão bastante pesadas.
Ele não pareceu muito convencido, mas eu não ligo. Ultimamente oque ele tem feito e só reclamar. Sinceramente? Que se foda.
Já não aguento mais, se alguém me perguntar porque ainda tô com ele... Eu não vou saber responder.Nem sempre foi assim... No começo era tudo perfeito. Quando a gente se conheceu Felipe me apresentou o mundo, éramos como adolescentes apaixonados, era minha primeira vez ficando com alguém e ele me proporcionou experiências maravilhosas, porém agora, só restou as ruins.
" Você acha que pode mentir pra mim? Eu te dou casa, te dou comida, uma vida boa e é isso que eu ganho em troca?"
" Eu não tô mentindo, acredita se quiser. Eu tenho feito o trabalho pesado aqui, todo dia você chega e acha a casa bagunçada? É lógico que não! sabe porque? Porquê eu arrumo caralho! Tá se achando o tal né? Só porque tem um emprego melhor que o meu, ganha mais que eu, pois fique sabendo que isso não te torna o Bam Bam Bam, surpreso né? Oh sinto muito se o filhinho mimadinho da mamãe não consegue arrumar a própria bagunça e precisa da namorada pra lavar as cuecas sujas dele, porque eu lavo elas seu merda! Vai pra puta que pariu e leva suas cuecas encardidas junto!" Eu falo saindo com um triunfo no rosto. Bom... era oque gostaria de ter falado, mas eu só disse:
" Você tá bêbado, toma um banho e descansa, amanhã você trabalha." Saio da sala já entrando no banheiro e tranco a porta.
Olho para o espelho e encaro meu reflexo. Olheiras em meus olhos, cabelos bagunçados e lábios ressecados. Quando eu fiquei tão derrotada? Eu não me lembro... Ah, lembro sim! No dia que eu conheci esse babaca, mas eu não consigo sair dessa casa, dessa vida... Deus por favor me ajuda, eu não quero morrer assim.
Um aperto toma conta do meu peito, meu coração começa a doer, e lágrimas caem dos meus olhos. Estou chorando, porque é só oque eu sei fazer ultimamente, chorar, chorar, chorar, chorar, chorar e CHORAR. Eu não queria ser esse fracasso de mulher.
Do que eu tenho tanto medo... Dele? Ou de ficar sozinha? Não sei ao certo dizer... Queria não ter nascido. Se for pra viver essa vida de merda, com um emprego merda, um namorado merda, sem conseguir fazer nada pra mudar.Uma batida na porta seguida da voz de Felipe perguntando se eu não ia sair me tira de meus pensamentos.
Encaro meu reflexo novamente, limpando minhas lágrimas e colocando um sorriso falso no rosto eu abro a porta.
"Finalmente, tava fazendo oque? Queria morar aí?"
"Não eu só..."
"Quer saber? Só sai da frente, tô indo tomar um banho. Não foi isso que você pediu pra eu fazer? Mas tô indo por vontade própria, porque você não manda em mim" ele entra depois de esbarrar em mim para passar.
Só dois únicos sons ecoam agora. O da água do chuveiro caindo no piso e o da minha risada desesperada.
Acho que estou finalmente ficando louca.Voltando pra segunda, só pego os maços e jogo na lixeira. Talvez eu tenha surtado um pouco ontem, mas às vezes e preciso tirar um tempo para si mesmo, para pensar.
Se meu irmão me visse agora, com certeza estaria envergonhado...
Paro de pensar e foco na bagunça da casa. Começo arrumando a cozinha, lavando pratos e enchendo as garrafas com água. Depois vou pra sala, juntando os litros das cervejas e tirando todo o pó encima dos móveis. Termino no quintal logo após arrumar tudo por dentro. Molhando as plantas e varrendo a poeira do chão.
Fazer isso pra mim e mais como uma terapia, pois eu me concentro só nisso, em mais nada, não penso no meu passado, na minha vida, não penso nele.
Cheiro de mofo, bafos de cerveja e velhinhos pedindo pinga.
Olá, trabalho. Bem depois de terminar lá em casa, tive que vir pra cá. Oh tristeza.Pelo menos aqui eu tenho um pouco de paz, tirando esses senhores de meia idade que vem aqui todo santo dia. Metade paga uma cerveja só com nota de cem e eu tenho que tirar troco do rabo, a outra metade? Não pagam. Levam fiado ou nunca mais voltam.
Observo um velhinho meio careca, cabelos grisalhos, óculos de grau quadrados, grandes meias brancas nos pés e com uma camisa xadrez azul clara entrar no bar e vir me comprimentar. É o senhor Luís, ele e o dono do bar. Um carinha bem simpático se me permite dizer, ele e meio sozinho. Eu nunca soube da sua história de vida, mas pelo oque comentam aqui no bar parece ser bem trágico.
- Boa tarde Senhorita Elena - ele me comprimenta com um sorriso.
- Boa tarde Senhor Luís! Como está?
- Bem, porém estaria melhor ainda se me dissesse porque está com essa carinha.
Ele sempre percebe quando eu estou mal, ele e assim. É uma das coisas que eu mais gosto nele, mas infelizmente não posso lhe dizer a verdade.
Como eu queria contar tudo pra alguém... Desabafar com alguém além de mim mesma.- Estou bem, de verdade. Só meio cansada, não consegui dormir passada.
- Tudo bem, então não se esforce muito ok? Não quero meus funcionários hospitalizados por minha culpa. - Ele diz rindo com a mão na barriga.
- Mas só tem eu de funcionária aqui.
- Ah, é mesmo. Tinha me esquecido. - Volta a rir novamente.
Abro um sorriso e cubro com minha mão, para me impedir de rir junto.
- Bom, vou deixar você trabalhar, tenho que voltar lá para trás, terminar de limpar.
- Se precisar de ajuda, não hesite em pedir. - Digo limpando o balcão empoeirado.
Ele afirma com a cabeça enquanto anda sumindo para o fundo do bar.
O senhor Luís é uma das únicas pessoas que eu conheço realmente depois que me mudei pra essa cidade. Já faz tempo que vim pra cá e não conheço quase ninguém aqui, mas não é culpa minha. Só queria poder ter amigas...
A imagem de Hannah aparece vagamente em minha mente. Ela? Não, não somos amigas só... Conhecidas.
Paro de pensar e volto a atender os clientes e a fazer o meu trabalho.Eu sei que demorou, mas eu estava com alguns problemas para escrever.
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Luz no fim do Túnel
RomanceMesmo em 2024, o preconceito, a homofobia e o machismo estão presentes. No estado do Rio de janeiro, iremos conhecer Hannah e Elena, duas mulheres com vidas diferentes, personalidades opostas, mas com muitas semelhanças. Em um bar decaído, com um le...