"Quando lutamos sozinhos, mesmo a presença da pessoa que amamos nos faz sentir solitários."
-AutoraCompletamente sozinha, era assim que se sentia Beatrice após ser expulsa, com uma avó doente e um irmão de uns dez anos de idade, do lugar onde crescera.
Como se perder a mãe há oito anos atrás e o pai ainda agora não fosse o bastante, foi obrigada a deixar toda a realidade que conhecia e amava, sendo jogada na rua, restando apenas uma minúscula casa no meio de um vilarejo distante. Afinal "não poderia jogar minha própria família na rua", disse seu tio antes de despejá-la.
Apesar de estar na companhia das pessoas que mais amava, sentia-se sozinha, tudo agora dependia dela, todo o peso do lar que lhe restava estava sobre seus ombros agora, e não havia muito que uma bailarina rica da alta sociedade, criada com todas as regalias que sua posição lhe proporcionava, pudesse fazer.
Além, é claro, de dançar em Casas de Mulheres por uns trocados, quisesse ganhar mais teria que vender a si mesma.
Porém Beatrice abominava essa ideia, pois desde cedo foi ensinada sobre os valores cristãos e a importância da obediência e amor a Deus.
Mas as poucas provisões que trouxera consigo estavam quase acabando, mesmo assim seguia, andava pelas ruas buscando algum trabalho sem sucesso, ninguém lhe dava nada, nem uma oportunidade sequer, a não ser Martina, dona da Casa de Mulheres mais famosa de Florença que insistia de forma constante que a jovem se juntasse à suas "moças".
E dia após dia via os remédios acabando, seu irmão reclamando de fome e do lugar frio para dormir e seu próprio semblante cada vez mais magro ao espelho. Ela até mesmo parara de se olhar após não se reconhecer e sentir vontade de correr enlouquecida.
Até que chegou o limite, há uma semana os medicamentos haviam acabado e a senhora Sophie (sua avó), começou até tosses roucas que duravam alguns instantes, seu irmão pela primeira vez derramou lágrimas sentando-se no chão sem energia alguma. Ela tentou animar o sempre enérgico Lorenzo que apenas disse:
"Irmã, estou com fome".Há poucas coisas mais dolorosas que não poder alimentar quem você ama. Essa era a dura realidade que recaía sobre a jovem.
Ela também sentia pela primeira vez a agonia e dor da fome. Tudo lhe doía. Nesse momento, quem menos poderia, apareceu:
"Bom dia, minha bela Beatrice", Beatrice conhecia essa voz grave e misteriosa com um toque de humor ácido.
"Parece estar quase desfalecendo, falta-lhe o rubor de antes, sabe que pode mudar isso a hora que quiser.""Lorenzo, vá ficar com a vovó", ela esperou ele sair e disse quase sem força:
"Não tenho interesse em suas propostas, guarde-as para si"."Você talvez não, mas sua família com certeza, seria cruel permitir que morram quando se pode fazer alguma coisa", seus lábios vermelhos curvaram em um sorriso maléfico e discreto ao fim de cada frase.
Com essas palavras, sentiu pouco a pouco seu mundo ruir, não sabia se era a fome, as noite sem dormir, ou outros fatores que também contribuíam com o estado atormentado de sua mente, mas pela primeira vez, Martina parecia ter razão. Mesmo assim disse com lágrimas nos olhos: "por favor, pare de me atormentar, saia daqui, deixe-me em paz".
"Não se preocupe, minha oferta ainda está de pé, estarei à sua espera".
Após Martina ir embora Lorenzo chegou correndo onde estava sua irmã chorando assustado: "a vovó não está bem, tem sangue na mão dela, acho que tossiu sangue, irmã."
Atordoada, Beatrice correu onde estava a senhora só para constatar que era verdade o que seu irmão lhe dissera.Ela limpou o sangue da mão de Sophie e mesmo a senhora dizendo que estava tudo bem e a tosse já ter passado. Beatrice apenas disse com olhar pesado de amargura: "Lorenzo, cuide da vovó, vou buscar os remédios dela agora mesmo".
Aquilo foi o estopim para seu desespero. Então com olhos vermelhos atormentados correu buscando achar Martina para aceitar sua proposta.
Quando a avistou e pretendia gritar o nome da mulher, paralisou e caiu em si novamente, lembrando-se de Romanos 8.35 e 36:
"Quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro."Nesse instante não suportou, saiu correndo disparada rumo às montanhas sem se quer se dar conta para onde estava indo apenas seguiu na direção oposta à Martina.
Sua corrida só foi parada quando caiu, conseguindo identificar apenas alguns pontos vermelhos ao redor, antes de desfalecer completamente.
Oi, pessoal. Gostaram? Querem continuar lendo essa história?
Toda crítica construtiva é bem-vinda para essa escritora iniciante.
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Smeraldo A Flor Azul
Historical FictionInspirado na história que inspirou a música "The Truth Untold" do BTS. Uma jovem bailarina nobre é obrigada a deixar toda a realidade na qual cresceu e partir com sua avó doente e irmão mais novo para uma vila logo após a morte de seu pai. O tio que...