em meio às vielas do morro, Rafaela reencontra Liz, seu amor de infância, desencadeando uma paixão proibida que desafia as convenções sociais e transforma suas vidas para sempre.
- existe um lugar no seu coração, onde ninguém esteve. Me leve até lá...
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☾ POV RAFAELA
Mais um dia cheio na favela, mas com fé termina bem. A vida aqui é sempre assim, cheia de correria e caos. Parece que a gente tem que lutar o dobro só pra ser visto e respeitado nesse mundão onde só enxergam a favela como problema, a gente como mal educado. E no fim das contas, parece que nunca é suficiente.
Crescer aqui sempre foi um desafio, pra todo mundo. E agora o meu mundo virou de cabeça pra baixo. Não é mole ser obrigada a assumir o lugar do meu pai, mal sei cuidar de mim mesma, imagine do morro. Não era isso que eu queria. Todo esse peso, toda essa responsabilidade. Enfim, filha do dono do morro.
— E aí, Rafa, tô livre do plantão hoje, bora subir na laje? — PH convida, se aproximando do escadão onde estou sentada.
PH é mais que um irmão, é daqueles que cresceu junto, nos primeiros plantões, nos primeiros enquadros, nos primeiros tragos... Nessas aventuras do lado errado da vida.
— Pode ser, mas hoje tu paga tudo, lembra da última vez! — brinquei, tentando descontrair.
Mas parei de falar na mesma hora!
Ou eu tô chapada demais, ou é a Liz subindo o escadão com uma mala. A Liz, minha paixão antiga, que eu não via há tanto tempo.
Num impulso, me levanto, passando a língua pelos lábios ressecados.
— E aí, Liz Maria, de volta pra quebrada? — Digo alto o suficiente para ela me ouvir lá embaixo.
Um sorriso brincalhão se espalha pelos meus lábios ao vê-la apertando os olhos para me enxergar, como sempre um pouco cega.
— Porra, Rafaela, nem pra me ajudar, né? — Responde, a testa franzida, enquanto se esforça para subir os degraus com a mala.
Desço os degraus rapidamente, dispensando PH com um gesto de "espera".
— Quem te deixou subir aqui no meu morro? — Pergunto, num tom sarcástico, pegando sua mala.
Ela ri, balançando a cabeça, e começa a subir o escadão na frente, sem me responder.
Não que eu estivesse olhando por malícia, longe disso, mas cara, que visão espetacular; o vestidinho preto justo realça seu corpo enquanto sobe os degraus, revelando um pouco da sua bunda. Às vezes Deus nos dá as melhores vistas.
Depois de um momento presa na observação, subo com a mala pesada e alcanço Liz, subindo lado a lado.
