Anjo decadente

Conhecer.

Estava chovendo, as lágrimas do céu, como eu gostava de chamar.

Diante de mim a lareira estava acesa, dando "oi" com suas chamas vibrantes em contraste com os tijolos brancos que decoravam a parte de fora da lareira. Meu quarto se baseava na mesma paleta de cores desde que tinha 8 anos, paredes brancas, cinzas ou cimento queimado, sempre gostei de cores claras. Havia uma porta dupla de vidro centralizada na parede que dava para a sacada onde a chuva continuava a cair. Lá fora deveria estar frio, presumo pelo jeito que o vidro estava levemente embaçado. Era primavera, e ver o tempo assim era estranho, talvez fosse um má presságio ou coisa assim, nem quero imaginar o quão difícil deve ser voar embaixo dessa chuva.

- Nyx! Sua mente está nas nuvens? Você ouviu o que eu perguntei? - Ouço a voz levemente alterada de Willow invadir meus pensamentos.

Encaro a mesma que estava sentada de pernas cruzadas na minha poltrona de pelo de carneiro. Ela vestia um terninho preto, seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo alto e um óculos de armação azul escuro sendo reposto no rosto.

- O preto é bonito mas mandem arrumar a cintura, está larga. - Digo, desviando o olhar onde um pouco mais de 10 vestidos se estendiam em manequins da minha altura.

Havia uma variada paleta de cores, e diferentes tipos de vestidos, mas o preto, mesmo sendo o menos chamativo de lá, tinha um charme especial. Ele ia até meu tornozelos, tinha uma fenda na lateral, seu decote não era indecente mas não me faria parecer uma freira, ele mostrava o colo do peito falso do manequim, suas alças finas caiam perfeitamente nos ombros e o manequim usava algo parecido com luvas mas que não tinha os dedos e cobria grande parte do antebraço até o pulso.

- Está bem, você deve ir para o salão tomar café com sua família. - Willow se levanta e ajeita sua calça. - E seja rápida.

Olho para o relógio em cima da cômoda que marcava 7:57. Tinha 3 minutos para chegar no salão. Queria perguntar pra ela se era realmente necessário eu ir, mas eu sabia que receberia um par de olhos me julgando e logo depois uma resposta irônica.

- Não me apresse. - Digo quando ela põe a mão nas minhas costas.

Ela me ignora e me empurra levemente até a porta que ela abre com a mão livre.

- Aula de esgrima depois do café da manhã - Avisa, e ela tira a mão de minhas costas para andar para o lado esquerdo do corredor enorme de vidros e paredes brancas de tijolos.

Sem perder tempo, ando para o lado contrário que Willow foi. Ela deve ter ido até o porão, onde as costureiras ficavam.

Penso em quais punições eu levaria se eu não fosse até o café da manhã enquanto vejo o corredor mudando de paredes brancas a paredes cinzas conforme chego mais perto do salão onde tomamos café. Os guardas que cuidam da porta, abrem ela assim que me veem a alguns passos de distância da porta. Cada um põe a mão na maçaneta de prata posta na grande porta feita de madeira branca com detalhes em prata.

- A que bom que vossa senhoria nos deu a honra de sua presença! - Ouço minha madrasta, Madeline dizer com um tom irônico assim que passo pela porta.

Madeline estava sentada do lado direito do meu pai na mesa, ao lado da sua filha, Sadie. E meu pai sentado no meio da mesa, em sua cadeira estofada com detalhes em prata.

- Sente-se, Nyx. - Meu pai diz sério.

Respiro fundo e ando até o lado esquerdo do meu pai. Assim que me sento, meu pai levanta o pequeno sino prateado e o balança, fazendo o som ecoar pela sala. Aquele som era um comando para os empregados, dizia "O rei está pronto e quer seu banquete agora" e quase rio quando penso em implementar uma parte "E se você não vierem logo, a substituta da rainha irá queimar vocês em praça publica!"