Capítulo I

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Era minha segunda semana residindo no país. Detestava os ventos frios, a chuva incessante e as neblinas que me impediam de apreciar a "bela vista" que, segundo meus pais, meu quarto proporcionava. Havíamos nos mudado para um bairro nobre em Kingston, no sudoeste de Londres. Embora fosse um lugar muito agradável, não se comparava à minha cidade natal. Faltavam apenas alguns dias para o reinício das aulas, e eu apenas pensava em como conseguiria desinchar meu rosto todas as manhãs, visto que todas as noites só conseguia dormir após muito choro. Não compreendia a razão de termos nos mudado para o Reino Unido. Tudo estava perfeito antes; pensava nos meus amigos do colégio anterior e em como ficaram tristes quando lhes contei que não passaria meu segundo ano letivo com eles. Eu lhes telefonava todos os dias, mas nem sempre atendiam. Provavelmente, estavam desfrutando de suas férias, enquanto eu não saía do conforto do meu quarto para nada. Não conhecia bem a cidade e, mesmo que a conhecesse, não teria companhia para sair, nem mesmo meus pais, que, apesar de morarem comigo, eram as pessoas que eu menos via, tanto de noite quanto de dia.

Meus pais eram extremamente rígidos. Ainda que eu tivesse tudo do bom e do melhor, não podia usufruir da forma que desejava. Se quisesse sair, por exemplo, deveria ligar pedindo permissão e levar a babá comigo, além do guarda-costas particular da família. Se desejasse sair com algum amigo, teria de fornecer todas as informações sobre essa pessoa para que meus pais a analisassem antes de permitirem sua companhia. Havia tanta burocracia para se ter uma amizade comigo que ninguém permanecia em minha vida por muito tempo. Meus amigos do colégio anterior nunca me convidavam para eventos sociais fora do ambiente escolar. Assim, sentia-me simultaneamente integrada e excluída.

Decorreram duas semanas. As aulas recomeçaram. Eu acordava todos os dias às quatro da manhã, pois gostava de me preparar com calma. Assim que terminava, tomava meu café habitual (...). Às vezes, conseguia uma carona com meu pai ou com minha mãe, mas, na maioria das vezes, ia com nosso motorista, Tom. Nossos empregados não tinham muita liberdade para falar conosco; meu pai, por exemplo, detestava trocar palavras com eles, o que eu considerava péssimo. Ele os tratava como se fossem meros plebeus, uma atitude ridícula. Todavia, eu gostava muito de Tom; ele sempre conseguia arrancar-me um sorriso durante as viagens, perguntando-me sobre minhas impressões da nova escola, meus sonhos e objetivos. Eu me sentia muito mal por ele, pois, devido à nossa mudança de país, todos os empregados precisaram mudar-se conosco, e a esposa de Tom permaneceu na Alemanha. Se estivesse ao meu alcance, pediria a meu pai para fazer algo a respeito. O colégio era agradável, com muitas árvores e esculturas espalhadas, parecendo até um museu quando comparado ao meu antigo. Em contrapartida, também lembrava um convento, pois não se via nenhuma garota vestindo saias acima do joelho, nem um garoto com vestimentas que não se assemelhassem às de um pastor de meia idade. Todos falavam muito baixo, o que era positivo, pois facilitava ouvir os pássaros cantando nos jardins.
Reparei, ao longo dos dias, que aqui se conversava muito sobre a variabilidade do tempo, mas não tanto sobre a monarquia como eu imaginava. As coisas eram um pouco diferentes dos estereótipos que se criaram lá fora. Ademais, eles tinham um belo sotaque. Sempre fui de poucas palavras, e naquele momento ainda mais, visto que não tinha muita confiança no meu inglês britânico. No entanto, fui me adaptando. Minha turma não me recebeu muito bem, infelizmente, pois os grupos já estavam "fechados". Assim, só me restava esperar que algum outro novato excluído se aproximasse para me fazer companhia. Eu não me incomodava muito com isso, pois ainda mantinha contato com alguns amigos da escola anterior. Porém, com o passar dos dias, eles respondiam cada vez menos às minhas mensagens, até que pararam de responder completamente. Foi então que o sentimento de solidão começou a me consumir com intensidade. Pedi à minha mãe que me permitisse frequentar algum lugar depois da escola, junto com Emilia, minha babá e empregada favorita. Assim como Tom, ela também demonstrava preocupação e afeto por mim, e, por ser mulher, eu tinha mais liberdade para conversar sobre certos assuntos com ela. Eu não achava vergonhoso ter uma babá aos quase dezessete anos, pois, mesmo que eu não gostasse, ela cuidaria de mim de qualquer forma, a pedido dos meus pais. Então, eu não tinha muita escolha a não ser considerá-la basicamente uma fada madrinha. Minha mãe me deu permissão para frequentar alguns lugares depois do colégio. Eu tinha a opção de ir a um café, dois restaurantes, uma biblioteca ou um parque, obviamente sempre acompanhada de Emilia e, dependendo do dia, também de um guarda-costas.

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⏰ Última atualização: Jul 23 ⏰

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