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Leopold Stotch sempre se sentiu diferente. Houveram dois momentos em que isso ficou bem claro para ele.

Um: quando causou um choque entre os amigos porque ao invés de jogar o famoso World of Watcraft, preferia aproveitar a Aventura na Ilha de Hello Kitty.

Dois: quando teve que se vestir de garota e infiltrar-se entre as meninas para executar um plano que ele mal lembrava, fato é que pela primeira vez se sentiu pertencer a algum lugar.

Quando criança ninguém se importava com nada disso, ninguém ligava se ele gostava das coisas "de garoto" ou não. Mas a idade foi chegando, e ele foi descobrindo que isso muda as pessoas. Notando os trejeitos de Butters foi fácil começarem a chamá-lo de viado, entre outros nomes pejorativos.

Ele nunca ligou muito pra isso. Até perceber que seus amigos o chamavam assim também, foi quando seu mundo desabou, então correu atrás de quem o entendeu uma vez e de quem sempre foi bom para ele.

Wendy Testaburguer.

Para muitos Wendy era uma vadia, uma "feminazi". Para Butters ela era uma melhor amiga, um ombro onde poderia chorar.

Então ele descobriu, depois de um caminho longo e de muitas festas do pijama com as garotas.

Ele nunca foi ele.
Ele sempre foi ela.

Butters nunca foi Butters ou Leo. Mas sempre foi Marjorine.

Quando descobriu esse segredo do seu coração ela queria ter contado para todos, gritado, berrado. Mas aconselhada por Wendy resolveu "estudar o terreno", então a alegria foi embora.

Marjo fazia parte de um dos grupos mais marginalizados da sociedade, o linchamento que já sofria na escola tendia a ser pior se soubessem quem ela era e a garota poderia se ver em um cenário em que estaria abandonada, sem-teto, sem nenhuma opção sem ser a prostituição para continuar vivendo.

Ela não queria isso para si.

Então resolveu fingir. Brincar de ser homem, e estava dando certo, até ele aparecer de novo na sua vida.

Kenneth McCormick.
Ou só Kenny.
Um dos maiores traficantes daquela cidade, que curtia escutar música folk e ir em rodas punk.
Com seu cabelo bagunçado, os dentes tortos e os inúmeros piercings espalhados pelo rosto, teve a brilhante ideia de enxergar Margo em uma festa e oferecer maconha pra ela.

Ela não aceitou, é claro. Não usava nada, nem pretendia. Mas aceitou o pedido que veio a seguir.
Beijou aquele garoto como nunca tinha beijado ninguém antes. E ela não sabia porque, mas sentiu que as línguas tinham sido feitas uma para outra no momento em que se entrelaçaram e o sentimento pareceu mútuo, porque Kenny não tardou à chamá-la para sair com ele.

Depois de muitas saidinhas noturnas, amassos em festas e encontros românticos em lugares discretos. Marjorine e Kenneth estavam apaixonados, isso se provou realidade quando ele conseguiu fazê-la usar maconha pela primeira vez e quando ela o fez deixar de ser um turista na escola.

Agora, enquanto Kenny pensava em pedir "o garoto" em namoro.
Marjorine tentava buscar formas de dizer ao ficante que ela era uma travesti.
Essas ideias martelavam em suas cabeças quando o sinal tocou e o intervalo chegou, ambos sabiam que era hora de se encontrar nos fundos da cozinha, um lugar calmo onde poderiam ficar sozinhos sem olhares encheridos.

Em alguns minutos, lá estavam os dois, não tardaram à se abraçar, Marjo sentia o cheiro de nicotina e droga no outro, qual - embora nunca fosse admitir - era profundamente viciada. Kenny enfiava o nariz nos cabelos loiros da garota para sentir com mais afinco o aroma adocicado de bala de morango que a ficante possuia.

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