Capítulo I

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Gatinho arisco

— Você acha que ele vem? 

Os olhos grandes e expressivos de Yunho não deixavam a porta em nenhum momento, sequer prestando atenção em como mordia um dos dentes do garfo e balançava a perna de maneira inquieta.

Mingi suspirou, quietamente segurando a mão do marido enquanto a abaixava, afastando o garfo dos lábios. Costumava ser uma pessoa racional e sabia que o pior que poderia acontecer era o garoto não aparecer, mas Yunho era todo coração; estavam nisso há vários meses, entrevistando ômegas para uma possível barriga de aluguel, mas o Jeong não parecia ter uma boa conexão com nenhum deles. 

— Se ele não vier, marcamos com outra pessoa, amor. — Tentou acalmar o outro alfa, apoiando a mão na perna inquieta dele.

Estava começando a ficar ansioso também e não era tão bom lidando com as próprias emoções quanto era com as dos pacientes e isso o deixava agitado. 

Bebeu um longo gole de café, roubando um pequeno pedaço da panqueca de Yunho, finalmente ouvindo o sino que indicava a entrada de algum cliente na lanchonete. 

Miúdo, com as mãos escondidas dentro de um moletom definitivamente maior do que deveria, um ômega encarou os dois alfas sentados na mesa. Embora o cabelo castanho cobrisse quase completamente seus olhos, notou de relance que eram azuis muito claros quando ele se aproximou o suficiente do lugar vago em frente aos dois. 

— Yeosang? — Yunho deixou a inquietude escapar em seu tom.

— Uhum. — Meio acuado, o garoto se sentou na cadeira em frente ao casal. 

— Fico feliz que você tenha vindo. — O Jeong sorriu daquele jeito radiante com o qual Mingi nunca se acostumaria, o que prontamente deixou o clima mais ameno.

— Bem, podemos ser diretos? — Pela primeira vez Mingi tomou a fala, recebendo um aceno em resposta. — Nós estamos há muito tempo procurando por um ômega capaz de realizar nosso sonho, mas não temos tido muita sorte. 

— Eu só preciso do dinheiro. Não tenho interesse no filhote, tenho certeza de que sou uma boa escolha. — Ainda mais direto do que o Song, Yeosang respondeu.

O silêncio se fez presente apenas quando a garçonete se aproximou, perguntando se o ômega queria pedir algo. Acabou pedindo apenas um café. 

Mingi olhou para Yunho com um sorriso contido. Era exatamente isso que precisavam: alguém que não tinha apego a crianças e apenas serviria ao propósito sem que ambos tivessem problemas no futuro. Todos os outros ômegas exageraram ao citar dezenas de qualidades, como gostavam de bebês e eram a escolha perfeita para a ocasião. De fato, não eram. Ômegas assim poderiam reinvidicar a guarda do filhote quando nascesse e apenas geraria mais frustração para o casal. 

— Então, Yeosang. Pode nos falar um pouco sobre você? 

Yunho sequer tinha notado o sorriso do marido, parecia muito interessado na criatura miúda a sua frente. Conhecia aquele olhar. 

— O que você quer saber? 

— Onde você mora? Quantos anos você tem? Você tem alguma profissão que possa atrapalhar a gestação de alguma maneira? 

O menorzinho deu de ombros, esperando que a garçonete deixasse o café na mesa. Toda a linguagem corporal dele demonstrava desconforto e timidez. Os ombros encolhidos, o olhar preso na xícara, a maneira como vez ou outra se ajeitava na cadeira. Ele parecia um gatinho arisco e isso apenas deixava Mingi, como psiquiatra, curioso sobre a situação. Odiava analisar pessoas além de seus pacientes, mas naquele caso pensou que seria uma necessidade para determinar se aquele ômega deveria ou não entrar em suas vidas. Era o seu papel manter as coisas racionais antes que Yunho acabasse se encantando demais com alguma pessoa, tendo aquela mania de proteger qualquer um que parecesse precisar de cuidados, mesmo não solicitados. 

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⏰ Última atualização: Jun 28 ⏰

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Symphony [yungisang]Onde histórias criam vida. Descubra agora