DEAR VICIOUS.「 oscar piastri 」

01

  Novembro de 2024

Well, can you see me? I cannot see you
Everything I thought I knew is falling out of view
And if I run fast enough, could I break apart
As empires crumble and cathedrals flatten in my heart?
cassandra — florence + the machine.

🏎️

A VIDA ERA TÃO ROSA QUANTO o céu de Marte. Ou pelo menos, era o que ela gostava de pensar que, o planeta mais próximo da vida na Terra também tinha um campo de visão colorido. Porque a sua vida era rosada até tudo acontecer.

Ela tinha doze anos quando o irmão foi diagnosticado com uma doença rara, quase improvável de aparecer casos assim, especialmente no Brasil. Mas foi o que ocorreu na família Castro, e ela estava sendo o alicerce dos pais desamparados na tênue idade. Alguns pensavam que a mãe de Cassandra nunca aceitou o diagnóstico do caçula, Lucas.

Nascida e criada no norte, a garota viu a sua vida mudar drasticamente desde então. O pai, que mal tinha o ensino médio, precisou arranjar mais um emprego para custear os remédios do filho. A esposa também fizera a mesma coisa, até que precisou do tratamento para a depressão. Isso causou uma briga na família. Pai contra a mãe. Uma criança precisou cuidar de outra criança enferma no meio do fogo cruzado.

Tudo era caro. Os remédios, o tratamento, as consultas que pareciam ser infinitas, os aparelhos de valor exorbitante. Até que um dia o irmão apresentou uma piora no quadro, decorrente de uma pneumonia. Sua frágil imunidade não o ajudava mais. Mas a sua irmã, sim. A garota que crescia entre brigas e enfermidades estava forte, sempre foi fadada a isso. Sua cruz pesou quando tinha acabado de completar 15 anos, ao precisar faltar na escola para levar Lucas ao pronto socorro.

Não tinha leito, nem soro.

Foi então que Cassandra percebeu que ninguém ligava para eles. Que os pobres fossem vistos definhando no meio de corredores dos hospitais. Ninguém se importava com a dor de uma irmã mais velha que clamava pela vida limitada do irmão. Ela teria que fazer mais sacrifícios por ele. E faria tudo de novo se fosse necessário.

Seus professores estavam cientes da situação que ocorria dentro de casa, apesar da menina ser orgulhosa demais para admitir qualquer ajuda. Mesmo entre tantas dificuldades, Cassandra tinha as melhores notas, o melhor comportamento e era cotada para participar de olimpíadas escolares. Ela estudava até mesmo quando segurava a mão do irmão no hospital. Prometeu a si mesma que estudaria até cansar, que apenas dessa forma poderia ajudar o irmão.

O ensino médio foi um inferno para ela. Lucas não teve nenhuma melhora há anos, e os pais omissos pouco faziam pelo menino. Ainda assim, a menina se deu ao luxo de experimentar a vivência juvenil. Não gostava de compartilhar esse tipo de pensamento com ninguém, pois achava egoísmo demais ter um pouco de cuidado consigo quando o mais novo estava na UTI. Seu diário era o único ciente de suas aventuras atrás do colégio.

Ela experimentou coisas que no futuro teria vergonha, mas quem ligava para ela? ninguém. Estavam todos preocupados demais em sustentar o outro filho que estava a caminho. Cassie odiava aquilo tudo, mas sentia-se livre quando estava nos braços de seus amantes — que logo esqueceria o nome. Eles não tinham importância, tendo unicamente o propósito de servir como entretenimento para ela. Os garotos partiam da mesma forma que vinham. E que fosse para o inferno as consequências.

Cassandra não era boba, tampouco inocente. Seus primeiros dezesseis anos e meio foram bons enquanto permitiu ser. Ou melhor, a vida deixou. O espírito de adolescente livre foi esmagado com uma pedra quando a garota precisou se formar mais cedo por conta da mudança que transformaria a sua vida para sempre.
Aos 16 anos e no meio do segundo ano, Cassandra foi bombardeada com a notícia de que precisaria fazer a emancipação para cuidar de Lucas, além de mudar-se para São Paulo, pois o tratamento seria mais barato lá. Uma criança cuidando da outra. Seus pais não fizeram alarde nenhum.