𝐓𝐑𝐈́𝐀𝐃𝐄 | Nott&Riddle

5. Verdade ou desafio?

A imagem refletida ali era a de uma silhueta bonita e alta, enquanto Theodore se mirava no espelho a sua frente, depois de finalizar seu visual para a festa. Na janela, a tarde caía, o belo pôr-do-sol iluminando o dormitório em tons laranjas, aquecendo o ambiente.
Atrás dele, Mattheo organizava seus mechas morenas e levemente cacheadas, sentado em sua cama. Ele ergueu seus olhos para o amigo, sorrindo ao observá-lo se admirando no próprio espelho. Riddle gostava de dividir quarto com Nott. Não era a toa que eles eram melhores amigos. 

A família de Theodore já o conhecia, até porque, como não conhecer os Riddle? Era patético alguém cravar o olhar em Mattheo e não saber exatamente a quem seu sangue pertencia. Filho caçula de Bellatrix Lestrange e Lord Voldemort, o garoto carregava consigo o peso dos olhares e julgamentos desde que nasceu. Por sorte, seu irmão mais velho, Tom, que o criava, não era tão ruim quanto seus pais. Claro, era difícil pra Mattheo explicar o que era "ruim", já que na realidade dele, nada era bom, mas ainda assim, quando a coruja chegou em sua porta com o convite para Hogwarts, Tom não hesitou em permitir a ida de seu irmão caçula para a instituição, esperando que talvez ali ele conseguisse ter uma vida um pouco mais normal do que ele teria nas mãos de seus pais. Bom, em teoria, ele teria sim uma vida melhor. Mas estar em Hogwarts não o impediu de sofrer nas mãos de outros alunos, principalmente os mais velhos. Pela escola, alguns diziam que ele seria destinado a causar destruição. Outros falavam que Lord Voldemort voltaria para uma guerra bruxa por conta de seu filho. 
A realidade era que todos – sem exceção, nem mesmo o próprio Mattheo – tinham medo do retorno de Voldemort. Riddle sabia com certeza que seu pai tinha algumas metas, uma delas sendo destruir o Ministério da Magia, o que causaria um grande caos em toda a comunidade bruxa do continente. Ele só não sabia se Voldemort conseguiria voltar a sua forma física, ou se um dia voltaria de fato para causar destruição. Mas aquelas informações o assombravam, Mattheo sabia que ele seria o primeiro apontado como motivo principal caso Voldemort decidisse fazer uma visitinha em Hogwarts. 

Naturalmente a personalidade dele passou a ser agressiva e ofensiva, já que a única forma que ele sabia se defender do bullying era se metendo em brigas físicas. Parte disso, culpa de sua mãe, que o rejeitava profundamente, chegando a espancar e torturar seu filho em alguns momentos de sua infância. Era por isso que o corpo de Mattheo era repleto de cicatrizes. Em seus braços, rosto, peitoral, abdômen e costas. Criou-se então, uma sede insaciável de resolver tudo com as próprias mãos. Ele na verdade gostava demais da sensação de arrancar sangue de alguém, o que depois, sempre lhe rendia uma noite inteira chorando em meio a surtos por receio de estar se tornando parecido com seus pais. Ás vezes, ele sentia que a única coisa que o fazia sentir vivo era a confusão. Afinal, quem cresce em um ambiente tóxico e consegue sair dele, sempre vai tentar procurar toxicidade em outras situações para se sentir na zona de conforto. Tudo com Mattheo era assim. Sempre foi assim. 

Já Nott, filho de família bruxa italiana rica e bem sucedida, não teve muitas dificuldades ao crescer e se desenvolver. Seu primeiro grande baque de realidade foi a perda de seu pai, poucos dias depois que ele chegou em Hogwarts. Para Theodore, não ter se despedido de seu pai é uma culpa que ele carrega até os dias de hoje, afinal, ele pensava que iria vê-lo no fim de semana após as aulas, por qual motivo iria se despedir? O falecimento de seu pai foi o motivo para Mattheo se aproximar de Theodore. Vendo o menino triste e solitário em meio a tantas crianças, Riddle não entendia como alguém socialmente bem estabelecido não tinha nenhum amigo. A verdade é que Theodore acabou se fechando, não interagia e se recusava a criar laços. Mas não com Mattheo. Mattheo foi a primeira pessoa a não só escutar, mas ouví-lo. 
Eles tinham pouco mais de 11 anos quando Riddle decidiu sentar ao banco de pedra ao seu lado no jardim da grande escola. O desabafo do jovem menino serviu para que eles criassem um bom vínculo, e no segundo ano, sendo designados ao mesmo quarto, seguindo, felizmente, parceiros de dormitório até o último ano.