Especial: Você não está sozinho

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"Deus sabe o que está se escondendo
Naqueles fracos e embriagados corações
E acho que a solidão veio bater
Ninguém precisa ficar sozinho ou afundando
Oh, pessoas ajudam as pessoas
E se você tem saudades de casa
Me dê a mão e eu vou segurá-lá
People Help the People - Birdy"

O barulho da chuva ressoava pelo quarto de Jimin, fazia frio e o clima parecia apagado. Em dias comuns, ele amava escutar o som das gotas indo de encontro a sua janela. Mas, daquela vez, parecia diferente. Não parecia ser um dia feliz. Algo dentro dele fazia-o sentir que não era. Uma tristeza ainda desconhecida fazia-se presente em seu cerne.

Terminou de vestir o terno preto, finalizando com graça o nó de sua gravata. Não sabia para onde estava indo, apenas obedecia a ordem de seu pai em acompanhá-lo.

Olhou-se uma última vez no espelho, conferindo se a gravata estava alinhada e se a roupa lhe cabia bem. Seu cabelo estava brilhante, as pontas levemente onduladas, a cor amarelada combinando perfeitamente com seus olhos azuis.

Não querendo demorar, saiu em disparada para a sala, onde seu pai já o aguardava. Juntos, seguiram em direção ao carro.

— Jimin — seu pai olhou-o pelo retrovisor do carro quando estavam a caminho do destino, fazendo-o prestar atenção. — Eu estarei resolvendo alguns problemas, então não saia para longe, me entendeu? Fique perto.

Jimin acenou com a cabeça, murmurando um "sim" baixinho, observando a chuva pela janela novamente. Em seu colo, carregava um guarda-chuva verde.

Ao chegarem, Jimin estranhou o lugar, parecia uma capela. Tinha uma cruz na porta e a ventania com a chuva era o único som a ser ouvido.

Seu pai deixou-o na entrada, pedindo para esperá-lo ali dentro.

Percebeu não haver mais ninguém além de outro garoto. Ele estava sentado num banco de frente para um caixão, seu olhar perdido, direcionado a lugar nenhum. Seus olhos estavam apagados, uma expressão que Jimin nunca tinha presenciado em sua vida jovem. Não havia a ingenuidade de uma criança, como ele. Nem leveza. O olhar do garoto lembrou Jimin do olhar de seu próprio pai. Distante, frio, morto.

De frente ao menino, um caixão cheio de flores brancas, a tampa ainda aberta, uma despedida.

Logo percebeu onde estava e o que significava. Um velório.

Jimin sentou-se em silêncio em um dos bancos. Curioso, ele continuou encarando o menino. Lembrava-se dele, dos seus traços, o mesmo garoto que apareceu na porta de sua casa poucos dias antes. Uma incógnita, pensou. Por que estava ali sozinho? Por que não tinha ninguém ao lado dele? Por que ele sofria sozinho? O quão desobediente ele tinha sido para receber tal castigo?

Jimin sabia que era feio continuar encarando sem dizer nada, não queria passar uma impressão errada ou fazê-lo se sentir desconfortável com sua presença.

— Meus pêsames — sussurrou ao garoto, porque não sabia o que dizer além disso.

Crianças não tinham palavras bonitas para consolar a dor da perda. E Jimin ainda era uma criança. Não tinha muito o que pudesse fazer.

Jimin, até aquele momento, nunca havia perdido ninguém, não entendia a dor, mas entendia a sensação de solidão, de não ter em quem se segurar nos momentos difíceis, de observar todos ao seu redor com a sua pessoa e não ter a sua, fadado a viver assim.

Até Jungkook, de quem Jimin não gostava, tinha alguém, um irmão gêmeo. Era tão injusto que Jimin não pudesse ter um também.

Jimin não escutou um agradecimento, nem visualizou um movimento sequer do outro garoto, absolvido em sua própria bolha de dor.

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⏰ Última atualização: Jul 01 ⏰

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