Capítulo 2

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Era sábado à tarde, estava na igreja com os pais para o ensaio do grupo de jovens e um estudo bíblico, e, como os pais eram os conselheiros, foram os primeiros a chegar. Ainda no carro, ela olhou para o romance em suas mãos e pensou se deveria levar ou não para dentro da igreja. Após decidir deixa-lo no automóvel, Verônica entrou no edifício de dois andares e a primeira coisa que lhe chamou a atenção foi o violão. Ela o pegou perto do altar e foi com ele até um dos bancos de madeira.

Aos seis anos, ela fez aulas de violão. Porém, jamais foi suficientemente dedicada para terminar o que começara. No fundo, se arrependia de não ter tentado mais, de não ter se empenhado. Se tivesse outra oportunidade, se esforçaria mais para aprender. Mas era melhor não pensar demais nisto.

_Filha, o que acha? _Sua mãe a chamou, pedindo que observasse a disposição das cadeiras brancas de plástico em círculo, com uma pequena e baixa mesa redonda no centro.

_Eu acho que está bom. _E deu de ombros.

Fazia pouco tempo que estavam ali, congregando na sede municipal. Ela passou os olhos pelo lugar, como se fosse a primeira vez. Aquele novo ambiente era tão estranho para os pais quanto para ela. Porém, Verônica estava mais do que feliz por estar ali. Desde que mudaram de congregação, ela passara a prestar mais atenção nas pregações, estava aprendendo a orar melhor e a atentar ao que estava dizendo, e até a Bíblia se tornara mais fácil de entender. Acabou sorrindo sem perceber.

_Você está indo bem. _Miguel apareceu ao seu lado, de repente, enquanto os irmãos do jovem se dirigiam animados para os instrumentos da igreja.

_Mentir é muito errado, sabia? _Verônica tentou entregar-lhe o violão, quem realmente sabia tocar, mas ele negou. _Miguel, você toca bem, melhor do que todos.

Ele sorriu, formando ruguinhas no canto dos olhos castanhos. Eles ouviram Érick, o segundo irmão da família, protestar. Fazia algum tempo que Miguel passara a ficar no teclado para dar chance ao irmão aprender um pouco do outro instrumento.

_Eu quero ver você tocar, eu sei que com um pouco de tempo, Verônica, você consegue tocar melhor do que eu. _E chamou o irmão mais novo para perto deles.

_Duvido muito. _Ela bufou, como se ele não percebesse o absurdo que dizia.

_Você aprende as coisas muito rápido, é a pessoa mais inteligente que eu conheço! _Miguel olhou para o irmão e disse: _cante para nós, Pedro, uma fácil em sol.

O mais novo começou a cantar enquanto Miguel orientava Verônica nas notas a serem tocadas e no tempo a serem tocadas, ajudando-a igualmente com o ritmo. Enquanto ela se esforçava e se frustrava com a música, o resto dos jovens foram chegando. Apesar do atraso deles, sua mãe tinha um sorriso no rosto, não demonstrando seu desagrado.

_Há quanto tempo você está tocando violão? _Fátima se aproximou dela, lhe dando um abraço.

_Miguel estava me ajudando, só isso. _E deu de ombros, desanimada. _Sabe que eu não sei tocar.

_E a bateria? _Elas se sentaram uma ao lado da outra nas cadeiras em círculo. _Você estava indo muito bem semana passada, quando os meninos foram com o irmão Luca pregar em Florianópolis.

_Você viu quantas vezes eu errei? _Ela balançou a cabeça. _E eu repetia a mesma coisa incessantemente.

Fátima cruzou as sobrancelhas, sem entender.

_Verônica e suas palavras difíceis.

_Concordo. _Júnior, o terceiro irmão do quarteto dos músicos, se intrometeu, dando um sorriso que lhe dava uma aparência extremamente desleixada com o cabelo caindo sobre um dos olhos e as roupas escuras, verde musgo e preto.

Aquilo que os Olhos Não VeemOnde histórias criam vida. Descubra agora