Após esperar em um dos pontos por onde seu ônibus passava, chegou uma hora atrasada na escola. Se martirizou pelo seu erro de ter pedido algo a seu irmão, considerando que, no fim, acabou na mesma situação de que se tivesse esperado o ônibus desde o começo perto de casa.
Recebeu uma falta por seu atraso, e ainda precisou se sentar no fundo da sala porque as carteiras da frente estavam ocupadas. As primeiras carteiras davam uma melhor visão do quadro, e ela tinha na cabeça de que a faziam parecer mais interessada na aula aos olhos dos professores.
Para piorar, nenhum de seus amigos tinham ido à escola, não que fossem muitos. Além disso, o professor de Português passou uma atividade em dupla. Verônica ficou em todo momento pedindo em pensamento: "Me ajuda, Senhor, por favor. Me ajuda, por favor.", até que, com um pouco de custo, alguém pediu para fazer junto com ela. Ela agradeceu a Deus, se voltando insegura para a tarefa tentando dar liberdade a sua dupla para fazer o trabalho também. Mas, na verdade, ela já estava disposta a fazer tudo do seu jeito sem pensar duas vezes.
Ao invés de passar o intervalo lendo, como o costume, recebeu uma bronca do professor no fim da aula, que ainda perguntou:
_Você fuma, Verônica? _Fez uma expressão desconfiada.
_Não, por quê? _Respondeu, sentindo a barriga gelar. Não podia acreditar que o professor pensaria aquilo dela.
_Deixa quieto. _E se despediu, saindo sem falar mais nada.
A ideia de que o professor dissesse algo aos outros professores, ou mesmo para os seus pais, lhe pesou a consciência pelo resto do dia. Se sentia suja, e tudo o que queria era tomar um banho e trocar de roupa. Estava com nojo de si mesma.
O comentário do professor, somado ao que passara com Christian, e as consequências do seu atraso, a perturbaram pelo resto do intervalo e não permitiram que ela prestasse atenção nas outras aulas. O maior esforço que fazia se concentrava em não deixar que nenhuma lágrima caísse dos seus olhos cheios delas. Apenas tornaria tudo pior. Verônica dizia a si mesma que adorava chorar, mas apenas para Deus, dentro do seu quarto, sem ninguém além Dele vendo. E era onde desejava estar naquele momento.
Pegou o ônibus de volta para casa, ansiosa para estar dentro de seu quarto, onde ninguém poderia vê-la. Sentada em uma dos bancos do transporte, apanhou a Bíblia e pensou em um número, o primeiro a vir em sua mente foi o 5, abrindo-a sem um endereço específico. As únicas páginas que continham o versículo 5 eram os dois primeiros capítulos de Lamentações:
"Os seus adversários têm sido feitos chefes, os seus inimigos prosperam; porque o Senhor a afligiu, por causa da multidão das suas transgressões; os seus filhinhos foram para o cativeiro na frente do adversário." (Lamentações 1:5)
"Tornou-se o Senhor como inimigo; devorou a Israel, devorou a todos os seus palácios, destruiu as suas fortalezas e multiplicou na filha de Judá a lamentação e a tristeza." (Lamentações 2:5)
Eu não entendo, Senhor. Pensou, deixando algumas lágrimas escaparem. O que eu preciso fazer? O que está errado? O que está tentando me dizer?
Verônica esperou. Esperou qualquer coisa. Mas não veio nada.
Ao chegar em casa, confusa, magoada, desamparada, se trancou no próprio quarto com as luzes apagadas e as cortinas fechadas. Deixou seu cabelo solto, como gostava, ficou com os joelhos no chão, apoiada na beirada da cama, e os olhos cerrados. Foi quando não pôde mais conter o rio de lágrimas.
Ela mergulhou em um profundo choro, gemidos e palavras que Verônica não sabia como expressar. Elas simplesmente não vinham. Como se também não conseguisse discernir o que a abalara tanto. Mas sabia que o sentimento estava ali, o conhecia em seu interior, e sabia que o único a conseguir sara-lo era Ele. Somente Deus.
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Aquilo que os Olhos Não Veem
RomanceVerônica é uma garota de 17 anos que sonha em se casar com seu "príncipe encantado", apaixonada por livros de romance, séries e filmes. Até que vê a realidade da vida atravessar seu caminho, sem conseguir lidar com tudo o que está acontecendo consig...