Os dois lados de uma ampulheta

Poetizo-te em arte

Era uma vez
Alguém que queria ser amado
Mas
Ele sempre era o poeta rejeitado
Amava demais
Sentia demais
Se expressava demais
E no final
Sempre saia machucado
Ele queria alguém que conseguisse o ver além do que as palavras permitiam
Ele queria saber a sensação de ser a arte
A poesia
A pessoa que era amada todo dia
Mas ele era o poeta
Ele tinha um trabalho a fazer
E no seu último relacionamento
O seguinte diálogo chegou a acontecer

- eu sou sempre o que ama, o que escrever, o que pinta, mas nunca sou amado, nunca sou escrito de fato como eu queria

- ser a poesia não é o sonho de todos?

- é, mas se todos são a poesia, quem realmente sobra para escrever?

- você

- exato, eu sempre sou o criador das mais perfeitas obras, eu só queria uma vez poder ser criado com o mesmo sentimento que o meu

E talvez
Assim que poetas se sentem
Corações incompletos
Pelo simples fato de amar além do que as pessoas compreendem
Que todos um dia sejam arte