— Sem açúcar, por favor.
Jake já ouviu tanto esse pedido específico, que seu corpo quase se move automaticamente em direção à máquina de café para prepará-lo assim que vê o homem de cabelos pretos na fila do estabelecimento. Mas ele sempre fica ali, esperando o rapaz ficar bem na frente dele e terminar de falar o que deseja naquela voz baixa e melódica, mesmo que seja sempre a mesma coisa: "Um café preto. Sem açúcar, por favor".
A especificação de "sem açúcar, por favor" vem sempre após uma pequena pausa. Como se o homem sempre esquecesse disso e então, de repente, lembrasse. E é engraçado para Jake, porque se até ele, que atende centenas de clientes por dia, já gravou, então por que o próprio dono do pedido não faria? – Além disso, o cara claramente não gosta de café amargo... ele por acaso se odeia? – Mas ainda é muito legal ouví-lo dizendo aquelas mesmas palavras para ele, reproduzindo a mesma fala em sua mente, imitando-o em tempo real... depois de um mês nisso, é simplesmente costume.
Jake geralmente apenas entrega o café à ele e então ambos dizem um "obrigado" antes de o mais alto sair da fila e fazer o pagamento no caixa ao lado enquanto ele segue para atender o próximo cliente, mas Jake Sim é realmente um curioso e, apesar de geralmente ser tímido, às vezes ele simplesmente não é, e sua boca acaba sendo mais rápida que seu cérebro. A relação entre funcionário-cliente era como um roteiro diário para ele, então ele só se dá conta de que não o seguiu dessa vez quando as palavras já haviam escapado.
— Você quer mesmo que o café seja amargo? – ele, muito brevemente, espera não ter sido ouvido, mas os olhos arregalados no rosto do cara lhe dizem o contrário. Jake rapidamente balança as mãos e a cabeça na tentativa de acalmá-lo e se explicar. — Desculpa! É que sempre que acabo vendo você sentado na mesa e tomando o café, você tá fazendo careta... e eu realmente não acho que seja por causa da qualidade dele, até porque, se fosse, você não voltaria aqui todos os dias e pediria a mesma coisa, né?
É a primeira vez que ele inicia uma conversa com o mais alto, e talvez a quebra de rotina seja o único motivo de este parecer tão assustado – ou pelo menos é o que ele espera. O pensamento fugaz de que ele talvez seja o responsável pelo possível desconforto presente naquele rosto bonito lhe embrulha o estômago... ser demitido agora definitivamente não seria uma coisa muito agradável também.
O cliente – ainda de nome desconhecido – se recupera rápido, e em um piscar de olhos seu rosto está livre de qualquer constrangimento que pudesse ter sentido, então Jake realmente se assusta quando o vê fechar os olhos e suspirar pesadamente enquanto os ombros descem. As costas curvando e sua estatura diminuindo, quase fazendo-o parecer pequeno. Ele quase se sente mal por ter aberto a boca, porque o garoto geralmente estóico e elegante – um pouco atrapalhado também, mas Jake também é assim, então... – parece tão diferente do normal, que ele não sabe como agir. Está prestes à abrir a boca e tentar falar algo que preste, mas o rapaz repentinamente lhe encara, parecendo ter criado coragem para fazer o que quer que esteja na cabeça dele. E seja lá o que for, Jake espera que ele não demore muito para finalmente fazer – (in)felizmente há poucas pessoas na fila, mas ainda há pessoas nela, e deixar clientes esperando não é algo que ele goste de fazer (sua gerente também não gostaria nadinha disso).
— Eu na verdade odeio café preto, e mais ainda se for sem açúcar... só pedia porque queria que você me achasse uma pessoa séria... – a careta em seu rosto diz que ele achava a ideia ridícula mesmo tendo feito exatamente isso. A expressão se intensifica ainda mais. Um rubor em suas bochechas lhe mostrando o quão envergonhado estava. — Na verdade mesmo, era pra pedir café sem açúcar e depois falar algo tipo "porque a única coisa que pode adoçar minha vida é você" mas eu nunca consegui fazer isso. É jerequice demais pra mim.
Jake ri, e sua expressão facial provavelmente se assemelha a do outro.
— É. Eu não gosto de coisas românticas vindas de gente que eu não conheço, então obrigado por não ter feito isso – o outro garoto murcha ainda mais em vergonha e derrota. — Mas, se a sua intenção era chamar minha atenção... então parabéns. Eu quero te conhecer – Jake diz antes que o outro pense em ir embora, rabiscando em um papel rasgado. — Aqui. Me manda uma mensagem pra gente marcar alguma coisa. Eu saio às 17hrs.
O garoto parece agir no modo automático quando move uma mão trêmula para pegar o papel preso entre seus dedos, olhando-o atordoado e surpreso.
Jake dá de ombros.
— Eu chamei sua atenção, você chamou a minha... Eu quero e tô confiante, então por que eu enrolaria? – Jake esclarece, apesar de nenhuma pergunta ter sido feita. Não porque acha que deve explicações a ele, mas porque realmente detesta mal entendidos.
— Não! Não, Jake, eu não tô pensando nada ruim de você, eu juro, eu só... não acredito que isso tá acontecendo.
— Relaxa, tá tudo bem – sorri gentil. — Qual é seu nome?
— Sunghoon. É Sunghoon.
— Ok. Então eu te vejo mais tarde, Sunghoon.
Sunghoon – finalmente um nome para aquele rosto incrível! – não fica no estabelecimento dessa vez, e sai andando atordoado em direção à saída assim que consegue efetuar o pagamento. Jake dá uma rápida olhada nele enquanto atende os próximos clientes. No fundo de sua mente ele se pergunta se Sunghoon – que parecia estar com a cabeça nas nuvens – lembrará de colocar açúcar no café em suas mãos antes de beber. (Ele não lembra).
Seus pedidos de desculpas foram aceitos pelos clientes e não houve nenhuma reclamação então, aparentemente, ele ainda tem um emprego, terá um encontro muito futuramente e talvez ainda deixe a vida de alguém mais doce. É um bom dia, não é?
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N/A: isso foi do "desafio do mês de Julho", no Spirit Fanfiction e eu literalmente acabei de escrever. uma das regras exigia que a história tivesse no máximo 1000 palavras, mas eu achei TÃO curto TT... talvez eu acrescente mais coisas nela aqui.
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.você é açúcar? (é tão doce quanto) - jakehoon
AléatoireJake trabalha meio período em uma cafeteria próxima à faculdade há mais ou menos um mês. Nesse mesmo período, em meio a uma centena de clientes, há um cara que sempre pede a mesma coisa, diariamente, mesmo que ele não pareça gostar nadinha do própri...