quinto capítulo

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"Eu olhei para ele e decidi ficar, eu abracei meu noivo e deixei todo aquele amor que habitava dentro de mim se espalhar entre nós dois. Ele foi a minha escolha e, mesmo desistindo de tudo, eu me sentia segura, eu tinha a certeza de que era a escolha certa." Digitei no meu notebook e sorri quando acabei aquilo. Em algum momento, aquilo fez sentido.

— Você quer beber algo? – Ouvi a voz doce da aeromoça.

— Você tem coca-zero?

Ela confirmou com a cabeça e despejou o líquido em um copo de plástico, depois seguiu com o carrinho pelo resto do avião. Seriam algumas horas de viagem, mas eu não me sentia arrependida, eu gostava de como terminou a minha história, mesmo que eu tivesse escolhido deixá-lo, em algum lugar, eu escolhi ficar com ele.

Quando eu acordei, o Bask não estava na minha cama mais, ele estava acabando de arrumar minha mala e minha bolsa, eu nunca tinha visto ele agindo de forma tão organizada antes. Eu olhei para ele confusa e ele sorriu para mim. Ele usava uma blusa do Led Zeppelin bege e uma bermuda preta básica.

— Eu estava te esperando acordar para poder conversar com você, Temakinha – ele disse e se sentou na minha cama, eu aproveitei para também me sentar e ficar ao seu lado, notei que seus olhos estavam marejados, mas ele me transparecia confiança.

— O que você está fazendo?

— Eu te amo, eu te amava antes de você ir e eu continuo te amando depois que você voltou, mas, se tem algo que eu sempre tive certeza que você deveria fazer é ir. Você não pertence aqui, você pertence a outro lugar e eu estaria sendo a pior pessoa do mundo se não te falasse para ir.

— Eu não vou, Jorge, meu pai cancelou a passagem, eu escolhi ficar, eu quero você.

— Eu pedi para ele não cancelar. Eu não te deixaria fazer a maior burrada da sua vida.

— Você não pode me controlar dessa forma, você não pode escolher o que eu vou fazer.

— Quando eu te vi falando com o seu pai sobre ficar e eu te vi repetindo tudo o que um dia eu te falei, eu notei que você estava fazendo a escolha errada e, te deixar fazer isso, seria o pior erro que eu poderia cometer.

— Mas eu não quero te prender comigo, Jorge, eu não quero te deixar aqui e ir para milhares de quilômetros de você.

— Tudo bem.

— Tudo bem? – Perguntei confusa e ele concordou com a cabeça – eu to falando que não vou namorar a distância e você não liga?

— Óbvio que eu ligo, mas tá tudo bem. Nós vamos ficar bem, é isso que eu quero dizer.

— Como você fala isso tão tranquilamente?

— Contanto que você seja feliz eu não me importo com o que aconteça.

Senti as lágrimas caírem pelo meu rosto e ele abriu os braços para me abraçar, senti tudo dentro de mim despedaçar e ele parecia tão tranquilo, tão calmo, ele parecia ter tanta certeza sobre isso. Eu me afastei um pouco e olhei para o seu rosto, vi um sorriso forçado no seu rosto e uma lágrima escorrer pelos seus olhos, levei minha mão esquerda até sua mandíbula e, com o meu polegar, sequei a lágrima que agora estava na sua bochecha, ele riu e me roubou um beijo, aquilo acabou comigo, a dor dentro de mim piorou, aquilo simbolizava o fim e a ideia de chegarmos ao fim me destruía.

— Eu te amo – murmurou entre nossos beijos.

— Eu também te amo – fiz o mesmo que ele.

Meu corpo foi deitado na cama e senti seus dedos tocarem na minha cintura por baixo da minha roupa, eu queria sorrir por isso, mas minha única reação foi chorar, as lágrimas escorriam e eu desejava que aquele momento fosse eterno.

Ele separou nossos corpos e se deitou ao meu lado, eu fechei meus olhos e dormi desejando não acordar, porém, isso aconteceu.

Nós dois, minha família e meus amigos nos arrumamos e fomos para o aeroporto, fizemos o Check In e, por fim, esperamos o embarque. Acho que, mesmo que eu quisesse ficar, "ir" acabava fazendo mais sentido.

Eu usava uma regata por baixo da blusa que o Bask estava usando do Led Zeppelin e um casaco muito grande que não deu na mala, além disso, usava um coturno e uma calça jeans larga com muitos bolsos.

— Quando eu embarcar, tudo vai acabar? – perguntei em um sussurro para o meu namorado.

— Eu acho que sim – ele respondeu em um tom choroso, esfregamos nossos narizes e eu desejei poder sentir aquilo para sempre – Você vai ir e eu vou ficar e vamos ficar bem, ok?

— Ok. Eu prometo que eu vou voltar por você.

Ele riu e negou com a cabeça, depois beijou minha testa.

— Eu não preciso de promessas, Temakinha, e eu acho que você também. Você está lutando pelo o que é seu e tá tudo bem, não se prenda por mim, seja feliz. Tudo vai acontecer como deve ser. Pega isso aqui – ele tirou do bolso uma carta e me entregou – você vai ler quando entrar no avião.

O meu voo foi chamado. Eu beijei o Jorge pela última vez, abracei meus amigos, minha mãe, meu pai e meu irmão.

— Eu tô orgulhoso de você – ele sussurrou.

Me afastei de todos e entrei na sala de embarque. Talvez, em outra vida, eu não seja a pessoa que foi embora, eu seja a que fica e escolhe pelo amor, mas tudo aconteceu como deveria ser.

Quando entrei no avião, tirei a carta do bolso e decidi ler.

"Clarice, a luz do meu dia e a lua da minha noite.

Eu menti, eu queria que você ficasse, eu não quero ficar longe de você nem hoje, nem nunca, mas eu não posso te prender comigo, eu não posso te prender aqui, São Paulo não é o seu lugar.

Eu te mandei embora porque sabia que era a escolha correta, eu sabia que, mesmo te querendo aqui, você deveria ir, você tem uma vida inteira pela frente e, se for para ser, vai ser.

Depois que falei isso, tenho coisas a falar além disso.

Eu não transei com ninguém depois da nossa primeira vez, eu menti porque não queria te prender comigo, eu sabia que você pensaria em ficar caso nós decidíssemos ter algo.

Eu notei que eu gostava de você desde o seu aniversário de quinze anos quando estávamos brincando de verdade, desafio, salada mista ou nota, você escolheu verdade e o Jotapê mandou você fazer casa, beija ou mata com o Tavin, Bmo e eu e você me matou. Passei dois dias pensando no motivo de me incomodar tanto você ter me matado, até que eu notei que você não tinha mais onze anos, que você já estava grande, mesmo que fosse bem mais nova que eu.

Quis ficar com você na primeira vez que te vi quando você voltou, até que me toquei que você iria embora, então pensei em fugir de você, mas era impossível. Quando você ficou com o Doprê, eu quis morrer, eu nunca tinha sentido tanto ciúme.

Mas, mesmo que eu quisesse muito, não pude mudar o nosso final que já estava pré-estabelecido antes de começarmos, mas, diferente de como tudo deve ser, eu não consegui te esquecer ou te afastar de mim.

Eu te amo. Boa viagem. Me liga quando você chegar. Jorge."

como tudo deve serOnde histórias criam vida. Descubra agora