Ainda consigo sentir o pesado da barra de ferro sobre a minha cabeça. A raiva incontida dentro de mim suportando anos à após anos. O desejo irresistível de tirar a própria vida.

Eu sentia nojo de mim mesma por ter deixado ele me tocar, por ter ficado em silêncio, sem reagir. E agora, me pego com medo toda vez que o vejo. Toda vez que ele se aproxima, quando estou com alguma roupa que deixa pele exposta, ou até mesmo quando estou sentada de um jeito mais despreocupado... o pavor volta.

Eu nunca sei se ele vai fazer de novo. E o pior é que, apesar de tudo, eu gosto dele. Como se eu tivesse me acostumado com isso, como se isso fosse... normal. Maldita síndrome de Estocolmo. Porra, Alissia!

BI BII BIII

Os sons das buzinas me desperta, trazendo de volta ao mundo real. Pressiono o celular contra a minha coxa nervosa com meus últimos pensamentos. Maldição, por que isso sempre volta para me atormentar?

De vez enquanto eu costumo ir ao cemitério, ficar horas ao lado do túmulo do meus avós conversando com eles sobre os tormentos que corrói meu cérebro.
Vovó era a mais que me fazia companhia e sempre me apoiava. Meu avô, era bruto e vivia batendo nela. É injusto que ela tinha ido primeiro e ele só 7 anos depois.

Entre tantos pensamentos, aos passos que dou e sem perceber acabo virando a esquina do prédio onde moro com meu padrinho, Joe. Ele me adotou logo após a morte do meu avô e, me trouxe para morar com ele na Espanha.

Meu celular toca me causando um leve sustinho. Olho para tela vendo o nome do meu padrinho. Atendo enquanto caminho para o prédio.

— Alô? — Pronuncio.

— Onde você está?? — Joe diz ofegante. Arqueio uma sombrancelha ao ouvir.

— Estou alguns 20 metros do prédio, acontece—
Sou interrompida pela sua voz autoritária e nervosa.

— Não, Volta! Volta e não venha até eu mandar. Você está me entendendo, Alissi— A chamada é encerrada com ruídos.

Fico alguns instantes parada decidindo de devo ir e enfrentar o que tem pela frente, ou fazer o que meu padrinho mandou. Que poderia de tão ruim está acontecendo lá?

Ao meus olhos percorrer a rua paro em três grandes carros pretos, aparentemente de luxo. Sinto uma pontada no meu peito e a respiração chegar a falhar.
"Merda." Meu padrinho não é flor que de cheire, mas ao ponto dos caras vim na sua casa, é o cúmulo.

No instante sem perceber, alguns homens com terno preto sai do prédio carregando uma maleta preta. Me encolho perto de uma árvore, disfarçando quando pego o celular e fingo estar em uma ligação.

Arrependo amargamente com a idéia, quando um deles me encara antes de entrar no carro. "F.u.d.e.o."

— Não, Mãe, eu já disse que estou longe de casa! Não vai da tempo para chegar. — A vergonha e o medo de instala em mim ao dizer isso, tanta coisa, mas tanta coisa e falo logo uma barbaridade dessa.

Depois de ver os carros se afastarem, solto um suspiro profundo, como se tivesse segurando a respiração durante o tempo todo. Me pergunto se fiz a escolha certa ao ficar ali, se deveria ter simplesmente seguido as ordens do Joe. Mas o que quer que esteja acontecendo, eu preciso saber.

Minhas mãos ainda tremem levemente enquanto empurro a porta de vidro do prédio. O porteiro, Ramón, me olha com aquele jeito de sempre — cansado, mas amigável.

— Boa noite, señorita Alissia — ele murmura, dando um leve aceno de cabeça. Ele não parece perceber o turbilhão de emoções que me consome, e eu prefiro assim. Melhor que ninguém faça perguntas agora.

27 O Pesadelo Onde histórias criam vida. Descubra agora