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"A morte antes da morte é uma coisa doentia"— Charles Bukowski

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"A morte antes da morte é uma coisa doentia"
— Charles Bukowski.

Estava deitado em minha cama encarando o teto completamente escurecido pela falta de luminosidade no quarto. O barulho do ventilador e o som dos insetos eram a minha única companhia além das vozes insistentes falando ao mesmo tempo em minha cabeça.

Virei para o lado inúmeras vezes pressionando meus olhos com força para tentar pegar no sono, e ainda assim, a única forma que eu ainda conseguia estar confortável era olhando para o teto. Não sei explicar como, mas, parece que ficar nessa posição além de te fazer questionar coisas totalmente desnecessárias para si, era uma das mais confortáveis.

Já faziam alguns anos desde que tudo aconteceu que não conseguia pregar os olhos sem escutar o som incômodo de tiros, os gritos desesperados e estilhaços de vidro ao meu redor. Dormir sem tomar algo para esse feito já não era algo anormal, tá ligado. E eu sinceramente não entendia por que apesar disso, algo dentro de mim insistia em não tomar.

Burrice.

Falso domínio de uma situação, talvez...

Como se, meus anjos e demônios lutassem dentro de mim na tentativa de ver quem ainda tinha o controle dessa merda. Se é que exista alguma parte minimamente boa e com entusiasmo para viver aqui dentro.

Balancei uma das pernas para tentar embalar um sono e talvez tirar um cochilo, ainda assim era em vão, que me fez parar de insistir nessa porra e pegar meu celular.

Quatro e quarenta e cinco da manhã.

Não tinha mais tantas horas de descanso até a hora do trabalho, e eu as mataria tranquilamente rolando o feed feliz do Instagram.

Um vídeo de uma gostosa de biquíni que não fazia a mais puta ideia de quem fosse, mas que muito provavelmente eu tenha ficado em algum momento.

Um texto motivacional para mais um dia sobre a terra, e a minha real constatação que aos poucos o Instagram virou um emaranhado de outras redes sociais de uma forma muito porca, enquanto as pessoas se forçam a ter uma vida virtual totalmente diferente do "normal".

Mais uma postagem de alguém que provavelmente até saberia quem era, mas não fazia um esforço para me recordar, e por aí foram as horas que me restavam comodamente na minha cama. Em passos lentos e arrastados. E assim como as horas, saí da cama me arrastando considerando o motivo pelo qual eu ainda trabalhava naquele lugar.

A minha rotina era a mesma em fodidos quatro anos e se em algum momento eu tinha o objetivo de mudá-la e fazer a minha convivência com um bando de gente nariz em pé e hipócrita acabar, ela foi tão de ralo como o meu objetivo de permanecer vivendo. Tem certas paradas que não fazem mais sentido lutar, a não ser aceitar como tem que ser.

Era mais um monótono dia que se iniciava com a seguinte ordem: Arrumar a cama. Tomar um banho. Pensar se ainda dá tempo de tomar um café de forma calma e constatar que não. Dá um beijo na testa da minha coroa antes de sair ouvindo o seu cotidiano "Que Deus te acompanhe e ilumine seu dia, meu filho" e descer as ladeiras para pegar a condução.

PACTO DE SANGUE - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora