Duskwood, Festival Pine Glade de 2013; 22:00.
Sob o luar de uma noite fria, o barulho de corvos grasnando era abafado por fogos de artifício que iluminavam o céu escuro das florestas e estradas de Duskwood. As explosões, as luzes coloridas e a empolgação dos conterrâneos e visitantes abafavam o mau presságio trazido pelo corvejo amedrontador das aves. Os fios dourados da jovem garota emaranhavam-se graças ao vento gelado característico das proximidades da floresta.
Parada em meio a uma das estradas vazias e escuras de Duskwood, a garota dos olhos de esmeralda tentava ignorar os pássaros pretos que sobrevoavam o local. Mas crescer em Duskwood deixa sequelas. As feridas em sua mente que não tiveram tempo de ser cicatrizadas, regavam as superstições herdadas, dando liberdade para o medo florescer.
Jennifer temia, sentia e sabia o que o encontro contínuo com esses animais poderia significar. Por outro lado, estava tão anestesiada pela esperança. A ideia de ter e viver aquilo que sempre leu em seus livros era inebriante. O sonho de ter aquilo que seus pais nunca tiveram. O conforto que apenas a hipótese de poder sentir o amor romântico e viver livremente com esse sentimento lhe causava. Nunca sentiu algo assim por alguém, nunca presenciou algo assim. Aquela era a sua chance. Talvez, e infelizmente, a última.
As possibilidades eram tantas. Foram noites ensaiando declarações na frente do espelho, sonhando acordada com cenários que, após aquela noite, nunca mais teriam a chance de virar realidade. Porque fatalidades acontecem. No mundo inteiro. O tempo todo. Uma mãe enterra a sua filha de 5 anos vítima de uma bala perdida, no mesmo segundo em que outra mãe assiste a filha se formar no ensino médio. A existência humana é composta por fatalidades. E coincidências.
Mas é assim que as coisas são, certo? É assim que viver é. Ninguém nunca tem coragem suficiente para se importar, porque isso seria equivalente a um suicídio. Se importar com todas as tragédias do mundo é como morrer lentamente todos os dias. É abrir mão de si e entregar-se para viver em prol da dor do outro. A humanidade foi constituída por fatalidades. Então, ninguém se importa.
Não até ser atingido.
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Little Dark Age
FanfictionJake Donfort e Aurora Dobrow compartilham várias coisas: mesma moto, mesmo apartamento, mesmo gato e quase o mesmo passado. Nascidos no mesmo lugar e com uma adolescência carregada por traumas, fazem de tudo para evitar as desgraças que Duskwood rep...