━ ❛ O passado vem à tona ❜

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CAPÍTULO UM.

1991, mansão Vyrwel

A noite envolvia a mansão Vyrwel em um véu de escuridão profunda, mas a lua cheia, como uma antiga guardiã, lançava sua luz prateada pelos vitrais, criando padrões quase etéreos sobre o chão de pedra. A senhora Maelys Vyrwel movia-se por aqueles corredores com a elegância de quem conhecia cada curva, cada sombra. Seus cabelos brancos, presos em uma trança elaborada, balançavam levemente a cada passo, refletindo a mesma luz lunar que preenchia o ambiente. Apesar da idade, seus movimentos eram ágeis, graciosos, quase imperceptíveis, mas sua presença era inegável.

Seus olhos azuis, profundos e atentos, vasculhavam os corredores com a familiaridade de décadas vividas naquela casa, mas também com uma vigilância quase instintiva. A varinha, uma extensão de seu ser, repousava atrás da orelha, um hábito perigoso que ela mantinha desde os tempos de juventude. Os quadros que adornavam as paredes pareciam observá-la, mas seus pensamentos estavam concentrados em encontrar seus filhos.

De repente, um som suave quebrou o silêncio—um espirro vindo de perto. Maelys não pôde conter uma risada suave, sabendo exatamente quem havia tentado esconder-se. Com passos calculados e lentos, como se folheasse um livro de memórias, ela deslizou até a porta da biblioteca. Ali, entre as estantes e cortinas de linho, viu um par de pezinhos que denunciavam a presença da pequena Pandora.

Um sorriso brincou nos lábios de Maelys enquanto ela, com destreza e ternura, puxava a cortina, revelando a menina de 11 anos. Pandora saltou de susto, soltando um grito abafado, mas logo se entregou ao riso ao ver que era sua mãe.

— MAMÃE! — exclamou Pandora, os olhos azuis arregalados e os braços estendidos em surpresa.

Maelys, sem hesitar, envolveu a filha em um abraço caloroso, a risada cristalina da menina enchendo o ar ao redor delas, dissipando qualquer traço de escuridão. Os cabelos prateados de Pandora, tão semelhantes aos de Maelys, caíam em cachos sobre o rosto da menina, e a senhora Vyrwel, como uma escultora carinhosa, afastou as mechas para observar cada detalhe daquela face querida. As sardas, os olhos brilhantes, a pele clara como porcelana—Pandora era um reflexo perfeito de Maelys em sua juventude.

Com um beijo suave na testa da filha, Maelys sentiu o peso do tempo desaparecer, como se, por um momento, tudo estivesse no lugar certo. Mas o instante de paz foi interrompido por passos firmes e decididos, ecoando pelo cômodo e anunciando a chegada de Nikolai. Pandora, ao ver o pai, não conseguiu conter a alegria e correu em sua direção, seus cachos dourados balançando com a mesma energia que preenchia o seu pequeno corpo. Nikolai a envolveu em um abraço protetor, sua presença imponente suavizada pela ternura com que tratava a filha.

— Papai, eu senti saudades! — disse Pandora, com a voz cheia de entusiasmo e alívio. Nikolai, acariciando os cabelos prateados da filha, respondeu com um sorriso que iluminava seu rosto, e seus olhos se encontraram com os de Maelys, compartilhando um entendimento silencioso.

— Eu também senti saudades de vocês, minha corujinha — disse ele, a voz suave como o toque de uma brisa noturna.

Nikolai Vyrwel, um homem de estatura imponente, com cabelos loiros e olhos penetrantes, era uma figura que inspirava confiança e segurança. Como marido, ele sempre esteve ao lado de Maelys, apoiando-a nos momentos mais difíceis e celebrando ao seu lado nas alegrias que a vida lhes proporcionava. Ao ver os dois juntos, Maelys sentiu um calor familiar, uma felicidade serena que a confortava. Ela se aproximou, tocando suavemente o ombro de Nikolai antes de se inclinar para beijar-lhe a bochecha.

— Está na hora de dormir, Pandora — disse Maelys, seu olhar alternando entre a filha e o marido. Pandora, no entanto, franziu o rosto em uma expressão de leve descontentamento.

𝐋𝐎𝐍𝐆 𝐋𝐈𝐕𝐄 ━━ 𝖘𝖎𝖗𝖎𝖚𝖘 𝖇𝖑𝖆𝖈𝖐Onde histórias criam vida. Descubra agora