Capítulo 16

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Good Lucky Baby
Billie Eilish

- Aí, de vermelho, você tem visita - chamou a delegada, com uma expressão de tédio e cansaço, aposto que não dormia a um bom tempo e, senti um pingo de pena dela, mas logo passou pois enquanto caminhavamos pelos corredores das celas sujas e desagradáveis, minha expressão de desdém cessou e eu franzi o cenho ao perceber quem estava ali, tanto que a delegada já nem era mais meu foco.

- Odessa.

Odessa era.

- Billie - ela responde, aquela voz irritante mas ao mesmo tempo tão nostálgica.

Não que eu me importasse com sua presença agora, naquele momento, só queria saber a razão por trás disso.

- O que está fazendo aqui?

- Posso te perguntar a mesma coisa. É sério mesmo que ainda não desistiu daquela garota?

- É só isso? Eu vou voltar para cela, tenho mais o que fazer.

- Tem mais o que fazer? Nao seja sarcástica. Olha a situação que você se meteu - seu tom era repreensivo.

- E o que você tem haver com isso Odessa? Acho que já deixei bem claro a nossa separação da última vez em que você estava na cama fodendo com o meu melhor amigo - rebati.

- Você realmente vai continuar revivendo o passado? Já pedi perdão. Mas parece que eu te deixei meio pirada. Olha aonde você chegou. Não se contenta com uma saída romântica, algo mais tradicional?

- Fui.

- Espera! Espera. - Ela segurou meu pulso, antes que eu me levantasse da cadeira.

- Era só o que me faltava.

- Me agradeça por eu estar aqui, e não o Finneas!

- Nossa, valeu.

- Você e essa sua mania de ser sarcástica... Nem presa você vai sossegar?

- Você não me conhece.

- Conheço o suficiente - retrucou.

- Não desperdice o tempo que eu não tenho - meu suspiro fluiu calmo.

Não havia motivos aparentes para me irritar com Odessa, apesar de tudo o que aconteceu entre nós. Tivemos uma relação no passado que deixou marcas profundas. Ela quebrou minha confiança de maneiras que eu nunca pensei ser possível. Odessa mentiu para mim repetidamente sobre diversas questões, desde pequenas mentiras até grandes enganações.

A gota d'água foi quando descobri que ela tinha dormido com o meu melhor amigo. Essa traição foi a grande cereja do bolo, tornando ainda mais difícil para mim entender por que não sentia raiva ou rancor em sua presença.

Talvez fosse um sinal de que eu finalmente havia superado tudo, ou talvez tivesse apenas aprendido a lidar com a dor de outra maneira.

O problema era que, apesar de ter perdoado Odessa e toda aquela ladainha de bla bla bla, eu ainda estava profundamente irritada com o fato de ela aparecer assim, inesperadamente, como minha primeira visita neste lugar desconfortável. Isso realmente me incomodava.

Esta, porém, não era a minha primeira vez aqui. De certa forma, eu já estava acostumada com a atmosfera opressiva e, surpreendentemente, não estava tão agoniada quanto pensei que estaria.

Eu conseguia suportar tudo isso por causa de Elle. Neste ambiente, eu conseguia pensar com clareza sobre o que fazer a seguir, sem as distrações e tumultos que geralmente me assombravam.

- A fiança será de duzentos e cinquenta mil dólares - murmurou, Odessa, mesmo sem motivo aparente para abaixar o tom de voz.

- Duzentos e cinquenta mil dólares - repeti.

Odessa me olhou confusa assim que inclinei a cabeça em um sorrisinho.

- Eu realmente ainda não entendi porque está aqui. Na verdade, eu poderia muito bem ligar para Zoe. Poderia ligar para Finneas. Eu poderia até...

- Mas não fez - Odessa completa, impaciente.

- Não fiz - sorri. - Mas você sabe muito bem que posso fazer a qualquer momento. Tenho dinheiro para pagar a fiança. Se é isso que te preocupa.

- Não é só isso. É o fato de que se você continuar fazendo isso... - ela suspira. - Não vai acabar bem para você, Beh.

- Eu tô pouco me fudendo de como isso vai acabar. Eu só sei que se for para acabar, eu tenho que pelo menos estar ao lado de Elle.

- O tempo acabou - avisou, a delegada, se aproximando com os ombros rígidos e o tom mais ainda.

- Eu vou sair daqui. Logo. Não se preocupe. Pode voltar para a sua vida perfeita e continue fora do meu caminho.

- Minha vida não...

- Eu não terminei de falar - interrompi. - Você deveria ter visto, Odessa, como Elle me olhou. Contei toda a história para ela, e ela já não tinha aquele olhar de medo. Seus lábios... tão macios...

A delegada se aproximou, puxando meu braço e apertando um pouco mais a algema no pulso.

- Que imaturo, Billie.

- Eu sou clichê, quem se importa?

Soltei uma risada sarcástica, talvez até sádica, com uma mistura de tudo isso, enquanto a emoção pulsava intensamente em minhas veias.

Passei pela porta, Odessa balançou a cabeça, indignada, mas eu já estava sendo levada pela delegada, que mantinha a expressão seria.

- É um tipo de romance sexualmente explícito - eu ri, sorrindo baixo e encarando a delegada, que tentou se manter seria e profissional.

- Compreensível.

Ela murmurou com um tom grave. Era uma mulher musculosa, cujo uniforme se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Seus cabelos vermelhos escuros não eram exagerados, conferindo-lhe uma elegância discreta.
Quem a visse dificilmente adivinharia que ela era policial, mas seu físico revelava essa verdade. Apesar de ser musculosa, suas mãos eram lisas. Ela tinha um piercing nos lábios e, para completar, tatuagens no pescoço.

As vezes é bom reparar nos detalhes físicos de algumas pessoas. Pessoas bonitas.

- Eu teria que parar o mundo só para parar com esse sentimento, então, sem chance.

Ela abriu a cela.

- Bem, boa sorte, querida.

THE DINEROnde histórias criam vida. Descubra agora