Capítulo 17

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You gave me comfort
Elle Takana

⚠️ Atenção: Os capítulos seguintes contêm conteúdos sensíveis, incluindo temas relacionados a suicídio, tentativa de estupro e uso de drogas. Caso este conteúdo não seja do seu interesse, recomendamos que pare de ler. ⚠️

As semanas têm sido as mesmas, os dias repetidos, e aquela rotina monótona voltou desde que Billie foi presa e eu fiquei livre. Era isso que eu queria afinal. Liberdade. Mas agora que a tenho, o vazio se instalou, e o peso da solidão tornou-se insuportável.

Phoebe tem me visitado mais frequentemente. No início, ela achava que eu estava exagerando sobre estar sendo perseguida, mas depois daquela noite fatídica, ela se transformou na minha protetora incansável.
Não significa que eu não aprecie o cuidado de Phoebe, mas ultimamente, já nem sei mais o que sentir. As emoções se confundem e se entrelaçam de maneira sufocante.

Todos os dias, eu ia para o mesmo bar, buscando um alívio efêmero no fundo de um copo. Secretamente, eu torcia para que, quando finalmente caísse na rua, Billie aparecesse do nada e me carregasse nos braços, como se ainda estivesse por perto, espionando, cuidando à distância. Mas ela não estava mais lá. Ela estava longe, e eu passava as noites sozinha, nos bancos da praça, nas calçadas, encostada em paredes frias, mesmo tendo um teto para morar.

Eu me sentia uma ingrata.

Com tudo que Phoebe fazia por mim, eu ainda ansiava por aquela mulher que eu mesma afastei. Claro, eu queria Billie longe. Foi por isso que chamei a polícia naquela noite, foi por isso que denunciei, buscando paz e segurança. Mas agora, tudo parecia tão errado.

Por que ainda sentia os lábios dela tocando os meus? Por que sua presença, ou melhor, a falta dela, ainda me assombrava?

Eu estava livre, mas de alguma forma, mais presa do que nunca. O fantasma de Billie não me deixava em paz, e a culpa corroía meu coração a cada amanhecer e anoitecer. Eu queria entender, mas as respostas fugiam de mim, deixando apenas a dor de uma saudade que eu não queria admitir, muito menos sentir.

Hoje não foi diferente dos outros dias. Eram por volta das sete horas quando me sentei na cadeira de um bar, o bar que costumo frequentar e que geralmente está sempre vazio. Mas dessa vez, estava cheio. Parecia que havia uma comemoração, talvez o aniversário de alguém importante, mas eu não me importava. Estava no meu canto, embriagada, sem me envolver, quase sem respirar, porque estava esgotada.

A atmosfera era barulhenta e cheia de risadas, mas para mim, parecia um mundo distante. Eu estava perdida nos meus próprios pensamentos, tentando afogar minhas dores no fundo do copo. A música alta e a conversa animada ao meu redor se tornavam apenas um ruído de fundo enquanto eu lutava contra o torpor do álcool.

De repente, de maneira inesperada, um estranho se aproximou. Ele se sentou ao meu lado e começou a me encarar. Senti o peso do seu olhar, mesmo sem olhar diretamente para ele. Quando finalmente levantei os olhos e franzi o cenho em confusão, ele simplesmente sorriu, um sorriso que parecia fora de lugar em meio à minha melancolia.

Eu não sorri de volta. Não havia motivos para isso. Eu não sentia nenhuma motivação para corresponder àquele gesto.

O cansaço e a tristeza me dominavam, tornando impossível qualquer demonstração de simpatia ou interesse.

Decidi me levantar, pegando meu copo de bebida, tentando afastar a sensação incômoda que a presença dele causava. Foi nesse momento que senti a mão do desconhecido segurando meu braço. O toque foi firme, mas não agressivo, e me pegou de surpresa. Meu coração acelerou, não por medo, mas pela estranheza da situação.

Ele me olhou nos olhos, seu sorriso ainda presente, mas eu não conseguia decifrar suas intenções. Uma mistura de confusão e desconforto me envolveu enquanto tentava entender o que ele queria. As palavras dele eram inaudíveis no meio do barulho, mas o gesto foi claro. Ele não queria que eu fosse embora.

- Você está bêbada? - Ele perguntou, e eu não respondi de imediato.

- Um pouco.

- Quer ir para um lugar mais calmo? -Ele se inclinou mais perto e ofereceu.

- N-não - eu neguei, tentando manter minha voz firme, mas ele insistiu, segurando meu braço com um pouco mais de força.

- Eu tenho uma erva comigo - ele começou a falar suavemente. - Pode ajudar você a esquecer um pouco dos problemas.

Eu queria negar, eu realmente queria, mas algo dentro de mim não conseguiu. Balancei a cabeça e deixei que ele me guiasse para fora do bar.
Meus passos eram trôpegos enquanto o seguia até um carro estacionado em uma viela escura, afastado do bar.

Ele me entregou um pouco de erva, e eu, sem pensar, usei. Tirei um cigarro da bolsa, acendi e levantei a cabeça, soltando a fumaça no ar.

O homem me encarava de um jeito que me deixou desconfortável, mas eu estava bêbada demais para entender completamente.

De repente, senti a mão dele na minha coxa, e isso me trouxe de volta à realidade, mesmo que por um momento.

- Pode parando por aí... Não vai rolar. Tenho que voltar - disse, tentando me afastar, mas ele trancou a porta do carro, falando com um sorriso malicioso.

- Mas já? Está cedo.

Ele se aproximou mais, e meu coração começou a bater rápido, confusa e assustada. Tentei ir para trás, mas ele subiu em cima de mim, pressionando-me contra o banco.
Meu corpo tremia enquanto tentava debater, mas ele segurou meus braços com força, beijando meu pescoço agressivamente, mordendo, e depois forçando seus lábios nos meus.

Eu tentava gritar, morder os lábios dele, mas parecia impossível. Quando ele começou a tirar a roupa dele e a minha, eu me debatia ainda mais. Ele me deitou no banco, abaixou seu cinto e levantou meu vestido branco. Eu sentia o horror e a impotência crescerem dentro de mim enquanto ele tentava me forçar.

Minhas pernas chutavam o ar, mas ele acertava cotoveladas em mim, me silenciando com dor. Finalmente, consegui empurrá-lo com todas as minhas forças. O carro balançou com o movimento, e eu, desesperada, abri a porta e saí correndo, tropeçando algumas vezes.
Olhei para trás e vi ele correndo atrás de mim, mas o medo me deu forças. Mesmo embriagada, comecei a correr mais rápido, mais longe, tentando escapar da escuridão daquela noite.

Mais rápido. Mais longe. Mais rápido.

Por favor, alguém me ajude.

Meu coração batia como um tambor no meu peito enquanto eu corria pelas ruas, sentindo o pânico e o terror em cada passo. Eu precisava escapar, precisava encontrar um lugar seguro, longe daquele homem, longe daquele pesadelo.

THE DINEROnde histórias criam vida. Descubra agora