único

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Nada nunca estava realmente tranquilo no ambiente quando se tratava dos piratas Rogers. Sua atmosfera leve e divertida, mesmo que rodeada por sangue, era algo a qual os mais corajosos se encantavam. E, crianças, coragem é algo raro. É preciso coragem para viver, para lutar pela sua justiça - sendo ela boa ou não na visão alheia, é preciso coragem para ter um doce coração. E talvez seja por isso que Buggy seja chamado de covarde.

Jovem menino, conheceu a maldade humana cedo demais. Viveu de rua em rua, de navio a embarcações. Servindo pratos chiques enquanto salivava de fome, apenas para ter um lugar seguro para dormir - longe de males olhados e mãos bobas. Jovem menino, que observa o lindo oceano com olhos tão cinzas.
Buggy foge dos abraços bêbados das tripulações, a festa já no final. O sol já nascendo e os bêbados se cessando em corpos caídos e fígados trabalhantes. Ele caminha pelo corredor do navio inimigo, a bela baleia em madeira Eden e pintada em azul bebe na longa proa. O mar calmo mas um tanto conflitante - ou, talvez, seja apenas sua mente tentando dar-lhe algum sentido, uma busca imparável em todos os momentos do seu dia a dia, buscar sentido em algo para que sua mente de resolver. Como o cérebro humano é fascinante, Buggy.

Pequeno covarde, ele pensa.

Duas palavras que já se tornaram seu sobrenome. Ter medo de sangue lhe faz covarde? Ele viu mortes demais para não lhe temer. O medo do conflito vai além da guerra, ela está dentro da família, dentro de sua mente. Ele não quer ver brigas entre os adultos que o acolheram, isso significa que ele fica sozinho, no final. É culpa dele, então, tentar apaziguar toda chama que venha a surgir? Buggy não se importa se ninguém perceba.

Ele não é bem visto como Shanks é. Não é lembrado, não é elogiado, não é amado. No entanto, nada disso de fato o machuca. Se alguma coisa, soa mais como um reconforto, então ele não decepcionaria ninguém - não deveria nada a ninguém.

E, céus, ter onze anos pode ser complicado, afinal.

Quando ele já sente o quente do sol em seu rosto, é quando ele se deixa descansar. Sua mente pode finalmente parar e tudo que precisa é seguir no automático. Sem estresse. Apenas movimentos simples. E sua ansiedade constante para. O formigamento em sua estômago cessa e deus, ele se sente um pouco em paz.

Seu corpo sobe no para-peito, o corrimão cor carvalho clara. Um joelho, se equilibra, então o outro joelho. E de pé ele balança com o movimento da maré.
Pra lá e pra cá, mudando o peso para se manter. Até que ele não tenta mais.

Seu corpo fica leve. De lado ele se deixa cair, gravidade fazendo por ele o que ele não teria coragem, isso não sairia das paredes de sua mente problemática ou do rabisco no papel. E ele ama a liberdade de segundos que isso lhe dá. A sensação é tão boa, o medo rápido que dá na boca do estômago e os olhos molhados de susto - seu corpo reagindo a morte.

A água gelada lhe dá choque de vida. E ele se debate apenas para dizer que lutou para viver. A água ruim, salgada, amarga, entra em suas vias respiratórias e é tão ruim que ele quer vomitar tudo enquanto engole ainda mais. Porque a coragem de morrer vale mais do que viver como um covarde.

De baixo d'água, Baggy vê o quão linda é a vista. E o frio que deixa sua pele arrepiada - a dor que isso causa, pode ser escrito como um abraço. A pressão é reconfortante para uma criança desesperada por amor.

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Quando ele abre os olhos novamente, seu primeiro pensamento é xingar. Ele odeia estar vivo, odeia que tenham o tirado da água, seu corpo idiota que afunda por ser amaldiçoado com uma fruta do diabo idiota. Ele odeia que tenham visto-o assim, novamente.

Ele arranca o tubo do nariz desnecessariamente grande - uma aberração vermelha, e a dor que isso causa não é o motivo de suas lágrimas. Ele grita e tira tudo o que o conecta a uma máquina. Cai no chão e bate em sua cabeça malvada e os apagões vem e vão. A vista fica preta e cinza - como o barulho do chiado do denden mushi.

Mãos grandes seguram as suas e uma luta para as puxar de volta se forma. Há palavras altas em sua direção, comandos para ele parar, palavras reconfortantes, pedidos para que ele se acalme. E quando ele perde suas forças, seus gritos se tornam soluços altos. Ele chora ao ponto de se engasgar. Encosta a cabeça no peito a frente e chora, sua mente se xingando por estar vivo, por ser visto.

E, bom. A próxima tentativa tem que ser certeira.

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Demora muito tempo para que Buggy possa estar sozinho novamente. Durante um ano, alguém estava com ele durante as vinte e quatro horas. Como se seu suicídio, tentativa, fosse um estalar de dedos para os adultos a sua volta controlarem melhor suas maneiras, suas atitudes, suas palavras. O primeiro mês foi como pisar em ovos, ele nunca se sentiu tão horrível quando foi em março.

Palavras como inútil não eram mais ditas no navio, mesmo que fosse para um objeto quebrado. Shanks, se possível, se tornou ainda mais grudento. Irradiando amor e necessidade de mostrar carinho para Buggy. Num confronto, Buggy não era mais deixado para se virar - ele inconscientemente tentava morrer sempre enquanto fingia se esconder, e ele provavelmente tem muita sorte apesar de pensar o contrário - agora, ele era protegido por um dos adultos e muitas das vezes até tentavam lhe treinar. De suas maneiras peculiar, no entanto.

Certa vez, um dos homens mostrou-lhe como desmaiar o inimigo sem cortar nada - e, céus, foi tão violento quando. Ele precisou fingir um sorriso ao ver a expressão orgulhosa de seu companheiro.

Um ano quase sabático, Buggy diria.

Estar sempre com alguém significava estar sempre ocupado. Não havia tempo para sua mente sussurrar. A melhora no comportamento alheia também foi perceptiva. A própria equipe do White Beard trata-lhe como um humano agora, não apenas alguém da equipe dos Rogers, não apenas como a outra criança.

Para Buggy, que o próprio oxigênio se transforma em ansiedade e vai embora como pensamentos suicídas - ao invés de gás carbônico, como o normal - ter seu dia a dia mudado tão drasticamente foi no mínimo o inquietante.

E o momento em que ficou sozinho, um ano e alguns meses depois, Buggy não teve coragem para tentar nada novamente.

E quem diria que ele e Shanks (o menino de ouro, o prodígio, o escolhido para herdar o chapéu de palha) seriam abandonados. O clima quente do meio dia, a cabeça rolada pelas escadas, a multidão correndo para o mar. Mãe mar esbravejando por ter um filho seu tirado dela. Bem, no final, Buggy não tinha que ter se apegado. Agora ele sofre com uma dor aguda no coração além de todos seus problemas. E dia após dia, Buggy tenta se matar.

E porcaria de sorte.

Olá. Muito obrigada por ler!!

Um beijo!

Buggy Covarde Onde histórias criam vida. Descubra agora