Capitulo 2 - Bandeira branca

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O horror! O horror!
Joseph Conradi






Nós duas éramos do mesmo mundo. Estávamos do mesmo lado e compartilhávamos algo em comum; um título. Entretanto, havia algo que nós separava e colidia nossos seres para lados opostos da terra.

E era aquele desafeto antigo pendurado em nossas tiaras, que pesava no calo da santa paciência que eu tinha. Por que sempre que nós víamos uma catástrofe de relações interpessoais acontecia.

Enquanto a cortesia da realeza descia pelo ralo.

{...}

__Você é muito desastrada mesmo. Levante daí vai chamar atenção das pessoas. Anda...- Oferece uma das mãos.

__Claro, não precisa pedir duas vezes...- Segura as duas mãos, a puxando para a água bruscamente.

__Argh! -Fuzila a outra ferozmente. —Sua maluca sem modos, estamos encharcadas! -Passa as mãos no vestido ensopado, pondo-se de pé na água da fonte.

Murmurando baixinho, a princesa passa os pés com dificuldade para fora o lado de fora do fonte. Não muito distante das duas, seus irmãos e primos, respectivamente, as olhava incrédulos e surpresos.

__Merda. -Murmura mais um vez. Ao sentir o olhar pesado da rainha atravessar a alguns quilômetros de distância.

__Vista isso. Venha. -Caleb oferece ajuda. E Tim apressa-se para fazer o mesmo com a duquesa, que saia com dificuldade da água.


Com piquenique de Páscoa tendo chegado ao fim, os corredores do palácio Scarbrough nunca terá ficado tão silencioso e vazio. Enquanto os novos convidados já estavam bem instalados em seus devidos quartos, os membros mais próximos da familia se preparam para dormir e a princesa, antes de seguir para sua cama para descansar de um dia tão turbulento, fora chamada na sala da rainha de forma bem incisiva.


__E impressionante, Charlie. Realmente impressionante. -Inicia a mais velha, sentada do outro lado da mesa.

__Foi um acidente.

__Só o que importa foi o que pareceu. E o que pareceu foi que as duas estavam brigando feito crianças. -Bufa. Ajeitando o roupão escuro. —As pessoas já desaprovam Miles, não irá ajudar se pensarem que nossas famílias se odeiam. -Afirma, rodeando-a com os olhos.

__Me desculpe. Não vai mais acontecer. -Abaixa a cabeça, sentido um aperto breve no peito.

__Espero que sim. Pelo bem da família...-Levanta caminhando até a porta. —E pelo bem da sua reputação também. -Fecha a porta.

Durante a noite, ainda sentada na cadeira gelada da sala escura, Charlie refletia sobre o que a irmã disse. Era verdade que agiam como crianças ressentidas e mais verdade ainda sobre sua reputação não ser das melhores, e tudo que fizesse a partir dali, certamente não ajudaria a melhorar. Mas naquela altura ela se daria conta que as ações que tomava também respigaria nas pessoas que amava. Por isso, enquanto encarava a janela e o céu com nuvens claras, jurou trégua.

{...}

Na manhã seguinte, o falatório e agito coletivo já estava instalado nos corredores novamente e a agenda de afazeres de Charlie estaria só começando. Enquanto isso, ela ajeitava os fios em uma trança frouxa e se preparava para seguir até seu primeiro afazer: a prova de vestido para o casamento da irmã.

__Vossa alteza...-Um dos homens reverência, ao abrir a porta para uma das alas reservadas para provas de roupas.

Uma fileira com três estilistas e costureiros a recebem com enormes sorrisos em sua direção, sorrindo, ela também adentra e logo repara no outro grupo de profissionais do outro lado, ocupados, e então percebe a presença da duquesa, que tinha a saia de seu vestido sendo retocada em seu corpo e não nota sua entrada.

__Pode seguir até Rosa e Benedict, ali dentro da cabine, eles a vestiram. -Segue onde os dois estavam.

Enquanto era vestida, a princesa reparava nos tons esverdeados do tecido e como seu pai tinha apreço pela cor, talvez tenha sido por isso que Catrina tenha o escolhido, ela queria que sua presença estivesse viva em pequenos detalhes do seu dia especial e isso emocionava Charlie, que se esforçava para conter as lágrimas ao passar os dedos pelo tecido fino.

__Princesa, pode sair.

__Aqui, veja só que beleza! esse vestido e belíssimo...-O estilista exclama, agitado e animado. A guiando até frente o espelho, para mais retoques.

__Como é modesto. -Uma das moças comenta e todos sorriem.

__Ele está certo. E mesmo um belo vestido, muito obrigado, senhor...-Sorri, afim de saber seu nome.

__Dominic.

__Alias, os dois vestidos são belíssimos. Veja só as duas, verde musgo e rosa bebê. Cores complementares. Estão lindas, meninas. -As duas se olham, rapidamente. Amybeth vestia um modelo quase igual ao seu, seus cabelos escuros estavam presos e seu rosto, bem marcado pela luz vinda da janela. Estava bonita. Charlie admitiu, e aquilo era bem verdade, a duquesa era bonita. Isso era uma verdade da qual ela nunca negou.

Ainda com os vestidos, as duas foram delegadas a continuaram com os mesmos por alguns minutos, afim de ver possíveis danos e analisar a durabilidade.  A mesma equipe, seguia até a outra sala, onde Caleb e Tim aguardavam para a prova também. Enquanto isso, de lados opostos da sala vazia, Charlie e Amy lidavam com o silêncio. Incomodada, a princesa pega um pedaço de tecido branco no chão e caminha em passos curtos até o outro lado. A duquesa estava de pé em frente à janela, encarando-a com os mãos cruzadas e testa franzida. 

Pondo as mãos na mesa, com a intenção de apoiar o braço, acaba deixando uma caixinha de lata cair no chão o que faz um enorme estralo ecoar. A outra a olha, assustada.

__Foi sem querer...-Comenta, encarando. A duquesa permanece quieta e centrada. Suspirando fundo, Charlie segura a vontade de revirar os olhos e toma coragem para superar seu orgulho. —Duquesa.

Recebe seu olhar, e se vira em direção da outra.

__Me desculpe pelo incidente na fonte. Não foi minha intenção que se chateasse, sinto muito. -Fala com sinceridade, pondo o pano no meio da mesa, onde dividia os dois lados. —Uma bandeira de paz.

Encarando o pano, Amybeth solta algo parecido com um sorriso ou gargalhada baixa.

__Você é mesmo engraçada. Como posso saber se esse pedido e mesmo sincero? -Fica de frente a mesa.

__Não tem como saber. Vai ter que confiar. -Ela balança a cabeça. Charlie coloca as mãos na mesa, abaixando pouco a cabeça. —Estou fazendo isso pela minha irmã. Quero que o casamento seja tranquilo, e que gostem de Miles. Pelo menos, mais do que gostam de mim.

__Está certo. Aceito suas desculpas, alteza. -Disse. __Vamos tentar ser menos...espinhosas. -Se inclina, e apanha o tecido do meio da mesa.

__Bandeira branca. -Diz com firmeza, é um sorriso aliviado se forma no rosto de Charlie.

Céus do verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora