O Mistério da Garota da Esquina

Capítulo 1: A Garota

Eu não sei por que ela é assim; Britney, o sonho de todos os pais, a garota certinha. Será que ela tem algum defeito, alguma malícia? Seria ela capaz de esconder alguma coisa? Eu não sei. Mas foi isso que me perguntei quando a conheci. Pois não é possível uma garota ser tão recatada como ela nos dias de hoje onde até as mais religiosas têm sua fraqueza.

Britney é uma garota ajuizada, sortuda. Eu não sei se é bom ou ruim ter tudo isso junto: Ela é filha de um rico empresário; estuda pela manhã numa escola particular e ainda ajuda seus colegas por possuir suas notas todas acima de 8,0; ela pinta belas paisagens em quadros; ajuda sempre que pode os seus pais – até a empregada, se for preciso - lê história para crianças nos hospitais aos sábados; faz caminhada nos fins de semana pela manhã; nos eventos beneficentes da cidade lá está ela dizendo que "é um prazer ajudar ao próximo"; anda a cavalo; é muito simpática com todos; se pudesse passava maior parte de seu tempo em orfanatos... E, além disso, é muito bonita... Ela é muito conhecida pela cidade inteira pela sua bondade e confiança. Só não sei se é verdade pelo que dizem, mas parece ser vegetariana. Cada um conta uma coisa diferente sobre ela, porém acho que é só questão de afinidade; ela escolhe muito bem as suas companhias. Muito evoluída para os seus dezessete anos. Ah! E já escolheu sua futura profissão: veterinária. Ela ama a natureza. Quer fazer intercâmbio e já se prepara com um curso de línguas. Bem preparada para o futuro. Ela tem tudo para ser feliz. E sinceramente acho que ela não é feliz. Está sempre com aquela cara de séria e toda vez que dá um sorriso parece forçado. Não sei, mas acredito que ela tem algo a esconder... Talvez um trauma, um falecimento muito próximo... Algo do passado. Ou talvez do presente. Não sei. Não estou nem no seu círculo de amizades para deduzir. Ela é prima do meu amigo e ele me conta tudo sobre ela com orgulho. Nunca toquei no assunto dela ter algo a esconder para não complicar as coisas.

Estamos no último dia do ano e o pai da garota vai realizar uma festa de ano novo em sua casa hoje. Meu amigo me convidou e eu com certeza vou. Acho que metade da cidade vai estar lá pela fama dessa família. Agora que estou muito bem vestido, espero por uns dez minutinhos e o meu amigo logo chega para irmos à festa. Em seguida partimos e assim que chegamos, observei a bela casa com tudo muito bem decorado, o empresário estava recebendo os convidados ao lado da esposa, do filho de doze anos obeso e de Britney com seus cabelos bem longos e negros. Todos elegantes com roupas de gala. Eu cumprimentei os junto com meu amigo que me apresentou e na hora em que me aproximei da moça para cumprimenta-la senti seu perfume forte como se estivesse querendo mascarar algum outro cheiro, ela olhou para mim e abriu seu sorriso falido. Logo depois, sentamos em uma mesa com meus velhos amigos e colegas de trabalho. Quando percebi que ela foi sentar com umas amigas em uma mesa do lado oposto, observei-a por alguns instantes: normal. Séria. Quieta. A música começou a tocar. Meus amigos foram todos para a pista de dança, alguns retiraram suas parceiras para irem junto. Eu fui junto, pois não se tratava de uma dança de pares. Voltei a observar Britney conversando com os adultos. Não deu um sorriso até agora. Enquanto a maioria ria como se ouvissem piadas o tempo todo.

No momento da contagem regressiva para o próximo ano, já até tinha me esquecido dela e me divertido com os amigos. Até que começam a contar e Britney surge na minha frente correndo às pressas para dentro de casa. Assustado, fui atrás dela para saber se queria ajuda ou o que aconteceu para ter fugido daquele jeito. Chegando à sala de estar ela estava subindo as escadas para o corredor e do corredor foi para seu quarto. Fechou a porta fazendo um estrondo. Quando alcancei a porta fiquei parado lá olhando para ela com um enfeite cheio de babados com o seu nome, uma lembrança da infância. Nem reparei nos fogos de artifício. Perguntei se estava tudo bem e não obtive resposta. De novo, falei mais e alto e nada, mais outra vez, nada e nada, somente nada. Alguns minutos depois, já estava quase desistindo de fazer-lhe perguntas e a porta abre sozinha, deixa uma fresta onde a vejo bem diferente: com um minivestido bem decotado, calçando uma sandália salto quinze bem finos, batom vermelho, delineador muito bem feito, rímel que mais parecia com cílios-postiços, uma  combinação de pó-de-arroz e base que escondia grande parte de suas pintas, tinha passado uma sombra azul-celeste que era tão ruim de olhar nos olhos dela, esmalte preto, brincos longos, pulseiras e relógio de luxo, anéis tão brilhantes que não pude deixar de notar, tinha passado chapinha no cabelo, colar de corrente dourada, estava se perfumando demais e o cheiro era o mesmo de quando a cumprimentei. Nunca vi uma mulher se arrumar tão rápido. Ela pegou sua bolsa Prada, abriu a janela e pulou com toda facilidade. Eu grito o seu nome, mas já era tarde. Corro até a janela e vejo a caminhar para a rua. Fico impressionado com a altura que ela conseguiu pular com aquele salto.

Corro até ela, no caminho pego as chaves do carro do meu amigo onde ele havia guardado e vou rápido para o carro. Disparei logo em seguida e não demorei para alcançá-la, já que estava à pé. Não sei que tipo de curiosidade estava nutrindo por persegui-la por impulso, mas se ela for algo como uma prostituta, ela mesma vai ter que me explicar o porque faz ao dia tudo oposto e ainda vou dedar para os pais dela, se é que eles já sabem. Tive que acelerar um pouco mais do que eu esperava, ela andava depressa com o rosto erguido, depressa demais para uma pessoa normal e eu chamava pelo nome dela, ela ignorava como se não escutasse, embora os fogos continuavam fazendo barulhos altos, não tinha como não me escutar estando em um carro ao lado dela. Mesmo assim gritei alertando dos perigos daquela noite até a terceira esquina onde ela misteriosamente desapareceu. Parei o carro e saí dele. Não consegui acreditar: Ela simplesmente sumiu.