Razões Diplomáticas

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 Soobin nunca quis ser o líder de nada. Era isso que ele gostava de lembrar ao resto do seu clã toda vez que algum deles era imbecil o suficiente para arranjar problemas.

— E o que te fez pensar que isso seria uma boa ideia? — perguntou para o vampiro do outro lado da mesa. Seunghan mantinha sua cabeça baixa, as mãos ainda manchadas de sangue posicionadas a frente do seu corpo.

— Eu não pensei, senhor. Peço perdão, não irá se repetir. — o vampiro mais jovem ousa erguer um pouco o olhar, registrando por apenas um segundo a visão de Soobin, sentado em sua grande cadeira de veludo índigo. Diferentes tons de azul e violeta intensos eram as cores do seu clã; cores escolhidas pelo líder anterior, uma das poucas criaturas que Soobin já respeitou durante sua existência.

— Sabe o que eu deveria fazer agora? — era uma pergunta retórica, mas ele ainda demora a respondê-la, apenas pelo prazer de observar o outro contorcer-se em antecipação. — Eu deveria arrancar a sua cabeça e entregá-la aos recém-transformados. Você deve se lembrar do quanto eles sentem fome.

Seunghan limpa a garganta e fecha seus olhos com força. Soobin continua:

— Porém, é o seu dia de sorte, eu acho. Vá juntar-se aos outros, e traga caça fresca antes do amanhecer. — ele faz um movimento desdenhoso com a mão, exigindo que o outro vampiro saia de seu campo de visão. — E Seunghan, não ache que minhas palavras são vazias. Se eu descobrir que você mexeu com os humanos dos Vante mais uma vez, eu não hesitaria em enviar sua cabeça como um pedido de desculpas. Não tolerarei outra guerra.

Seunghan acenou rapidamente, antes de deixar a sala sem olhar para trás, aliviado por ainda ter sua cabeça sobre os ombros. Soobin esperou que a porta se fechasse antes de passar uma mão macia pelo rosto. Quase conseguia se lembrar de como suas mãos eram calejadas quando ainda era humano, antes de sua maldição eliminar qualquer mínima imperfeição de seu corpo. Ao se ver sozinho, se levantou lentamente, usando seus dedos para apagar algumas das velas que iluminavam o cômodo. Caminhou até uma das grandes janelas, puxando de lado uma cortina pesada para revelar a noite lá fora. A lua cheia banhava a paisagem com uma luz prateada, destacando as silhuetas das árvores retorcidas e o terreno irregular ao redor.

— Você realmente colocou o medo divino nele — uma nova voz invadiu o ambiente. Mesmo tendo sido transformado algumas décadas após Soobin, Beomgyu era um vampiro antigo, a ponto de conseguir mover-se de forma silenciosa o suficiente para ainda conseguir surpreender seu líder.

— É o que Namjoon faria. — Soobin respondeu, os olhos vermelhos ainda focados nos movimentos das árvores.

— Não, eu não acho que seja. Namjoon sempre foi paciente e misericordioso conosco. — Beomgyu argumentou. Um dos únicos membros do clã com coragem o suficiente para discordar de Soobin.

— Bom, foi assim que ele acabou morto, não foi? — Soobin estalou a língua — E agora, eu fiquei preso com toda essa merda.

Beomgyu suspira. Um ato inútil, de pura provocação, apenas para expor seu desapontamento.

— Não queremos que você seja o próximo, não é? — Beomgyu dá um sorriso forçado, cínico. — Eu odiaria tomar o seu lugar.

Soobin não consegue deixar de sorrir. Às vezes era refrescante ter um amigo capaz de falar consigo de igual para igual.

— O que exatamente você veio fazer aqui, Beomgyu? — perguntou, finalmente girando o corpo para encarar o amigo.

— Vim avisar que Taehyung enviou um dos seus peões para vir aqui falar sobre toda a situação. Ele já deve estar a caminho.

Soobin tinha certeza de que se seu coração ainda batesse, ele teria acelerado naquele momento. A relação entre o clã Índigo e o clã Vante era frágil, com um grande histórico de guerras pelos últimos séculos. A última guerra, no entanto, havia causado uma baixa significativa em ambos os clãs, o que resultou em soluções como aquela; encontros diplomáticos, onde um representante de um dos clãs visitaria a base de outro, a fim de resolver quaisquer conflitos com um aperto de mão, ao invés de mais cabeças voando e corpos queimados.

Diplomacy ; yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora