Capítulo II

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"A evasão do ignavo"

"Nas profundezas do âmago de cada humano, oculta-se a ameaça dos predadores disfarçados de amigos, cujo real intento é devorar cada órgão e artéria de seu corpo, consumir sua pele e devorar sua alma."

Restos mortais do que antes costumavam ser humanos espalhados pelo chão, órgãos e veias estraçalhados pelo chão numa ambientação aterrorizante e nojenta.

Em passos lentos eu me locomovo numa tentativa desesperada de não fazer barulho algum, caso contrário eu também teria meus órgãos estilhaçados e logo participaria do macabro exército de mortos.

Tenho certeza de que além de minha mãe também há outros cidadãos trancados em suas residências de forma segura e egocêntrica, pouco se importando com pessoas na mesma situação que a minha — da mesma forma em que eu não me importei o suficiente para ajudar aqueles homens.

Não há chance alguma de que eu sobreviva aqui, ao menos não se eu continuar nos arredores da comunidade. Na região próxima ao muro, agora caído, não tem uma grande concentração de mortos-vivos e isso me acende uma centelha de esperança. Talvez eu possa sair daqui viva.

Passo lentamente por debaixo de mesas e outras estruturas que acredito cobrirem meu corpo de forma eficaz. 

Quando me vejo perto o suficiente da saída acabo me descuidando e, droga, acertando o meu pé na madeira por onde passo.

Não preciso sequer olhar para trás para adquirir a certeza de que algum desses monstros me ouviu e certamente não vai deixar isso de lado. Rapidamente aperto o passo, meus pés acertando o chão ritmicamente em pegadas aceleradas e pessoas, o que causa mais barulho e obviamente atrai mais criaturas.

— Porra.

Resmungo baixinho em irritação.

Corro o mais rápido que posso, um dos monstros gangrenados arranhando a lateral de meu braço dói pra’ cacete.

Me descuido enquanto tento acelerar mais meus passos, caindo com o rosto sobre a terra úmida e certamente sujando minhas bochechas com ela. 

Cravo meus dedos ali, buscando um apoio para me levantar antes que os mortos me alcancem.

Ouço o som de um deles perto, muito mais perto do que eu gostaria. Sinto suas mãos geladas, flácidas e sujas tocarem meu calcanhar, os dedos com a pele morta se agarrando em mim. 

Pedaços de suas cutículas se desgrudando de seu osso apodrecido e se desmanchando em minha carne.

Puxo meu músculo para cima o máximo que posso numa tentativa aflita de cortar o contato da critatura com minha pele e me livrar da sensação mórbida que se formou em meu âmago.

Finalmente me livro de seu toque e consigo me por de pé, me arrastando em passos acelerados até a saída. 

Ao finalmente passar por ela solto um suspiro de alívio falho, a falta de ar atinge meus pulmões enquanto inspiro e expiro profundamente sem parar minha corrida.

Passo pelas árvores freneticamente, seus vultos deixando minha visão turva enquanto a falta de ar em meus pulmões começa a fazer falta.

Sinto minhas pernas fraquejarem e logo cederem, meus joelhos caindo sobre o chão e logo após meu abdômen e cabeça fazendo o mesmo, atingindo minha testa com certa força em uma crosta rochosa que certamente não é lama ou terra.

Consigo sentir minha consciência rapidamente se esvair, o ar ainda sendo quase inexistente em meus pulmões.

Meus olhos se fecham e nada mais vejo.

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⏰ Última atualização: Jul 16 ⏰

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