Eu cheguei em casa, talvez tivesse que arrumar o enterro do meu avô. Meu pai havia fugido para o Paquistão após a morte da minha mãe, não sei se sobreviveu, o Paquistão é brutal com indianos. Diante da situação, chegando em casa, eu caí no chão, e chorei.
Minha vida era monótona, eu trabalhava a troco de sobreviver. Não queria, eu não queria mais isso. Eu procurei pela casa um cofre, passava pela casa inteira procurando, guardava a mais de dez anos, junto com meu avô. Levantei a cama dele e achei o cofre. Tentava senhas, inúteis, o que valia para meu avô? A senha tinha quatro dígitos, então me sentei na frente da cama dele e pensei. Eu digitei 1936, deu certo e o cofre se abriu. Lá dentro havia alguns pacotes de dinheiro. Eu arranquei eles lá de dentro e caí no chão de barriga para cima, segurando o dinheiro, feliz.
Me levantei e olhei o quadro no quarto do meu avô, era uma imagem dele segurando uma pedra de Lápis em um deserto.
Minha mãe morreu quando eu tinha sete anos, ela foi visitar uma parte da família em Londres. Foi morta num bombardeio alemão. A viagem tinha demorado, ela passou quase dois anos na viagem, a última vez que vi ela eu tinha cinco anos. A notícia da morte veio, meu pai perdeu o sentido pela vida, então partiu para morte eminente num Deserto. Não sei se está vivo, não sei se fugiu de lá, mas o que eu sei é que a única pessoa que sobrou foi meu avô, minha avó havia morrido em uma viagem a "Bangladesh". Assim, ele me criou sozinho, desde meus oito anos.
Entendia meu pai, minha vida não tinha sentido, eu trabalhava para deixar meu avô feliz, mas já não fazia mais isso. O que fazer?
Arrumei o quarto do meu avô morto, como sempre fazia com ele em vida. Abri uma gaveta com quilos de papéis, tive que organizá-los, colocando um a um. Em um deles eu vi um mapa, frente e verso, era do deserto que meu avô explorava. Em alguns pontos haviam marcações, o que é isso? Aquele mapa era com certeza as lembranças de meu avô.
Já não iria mais trabalhar, minha vida estava desorientada, o mapa era a melhor lembrança dele. Naquele momento era uma decisão, o mapa mostrava o Deserto de Thar, no noroeste da Índia, eu morava em Nova Delhi, mas se eu morasse em Sri Lanka, faria questão de ir atrás daquele deserto, passaria quantos meses ou anos fossem para atravessar a Índia, era um privilégio morar em Nova Delhi, só precisava chegar em Rajasthan.
Eu arrumei tudo, peguei roupas de todos os modos, mas principalmente lembranças de meu falecido avô.
Eu entrei em um trem em Nova Delhi que iria para uma cidade de Rajasthan. Então entrei nele e passei a viagem inteira olhando as fotos do meu avô, além do mapa. Chegamos na cidade, de lá eu fui entre andadas e viagens de Jipe. Até que em fim, cheguei na cidade onde começava o Deserto de Thar.
Eu tinha levado todo o dinheiro do cofre, meu avô tinha guardado aquilo para viagens, então aquela era uma, uma que ele desejava que eu fizesse.
Não podia fazer muita coisa contra a morte de meu avô, ele tinha falecido por uma doença, o tratamento era uma grana preta. Quando eu procurei o cofre para salva-lo, ele disse que já havia vivido o suficiente para aproveitar a vida, e que aquele dinheiro era para quem aproveitasse a vida fosse eu.
Passei em mercados da cidade, comprando suprimentos para a passagem longa pelo Deserto. Após a bolsa se encher por completo, ainda sobrou muito do dinheiro, que poderia ser necessário. O-guardei na bolsa, no pouco espaço que havia. Andei até o fim da cidade, a minha frente havia um deserto colosso, que ia além do horizonte. Naquele momento senti meu avô com orgulho me mim, então caí de joelhos na areia, e pela terceira vez em tão pouco tempo, como nunca antes tinha chorado tanto, desabei em lágrimas.

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Deserto de Thar
Ficção HistóricaOdisur é um Indiano, que se muda para Rajasthan e explora o Deserto de Thar, para encontrar riquezas. Poucos tesouros, milhões de mortes